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| Foto M. Alvarenga |
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| Foto Pedro Batalha/@Paulo Caetano |
João Moura e Paulo Caetano, Maestros da "Velha Guarda", protagonizaram, na óptica de Miguel Alvarenga, dois dos mais importantes momentos da temporada, deixando a marca de um passado que continua presente e se destaca do marasmo e do "mais do mesmo" em que vive, ou sobrevive, o toureio a cavalo actual, com raríssimas excepções e pouquíssimos casos de figuras que marcam a diferença. "Hoje, toureiam quase todos da mesma maneira" - escreve Miguel Alvarenga. Há um figurão que brilha além-fronteiras e que é pena não tourear mais por cá: Rui Fernandes. E há duas figuras que, quarenta anos depois, rescrevem a história que os pais protagonizaram nos seus anos de ouro: João Moura Jr. e João Moura Caetano. E há um quinteto de jovens que se destacam e chamam as atenções: Miguel Moura, Tristão Ribeiro Telles, Duarte Fernandes, António R. Telles filho e Paco Velásquez. É importante que os senhores empresários apostem nestes nomes e deixem de nos dar sempre a mesma música. No meio disto tudo, João Salgueiro (pai) anuncia o regresso às arenas em 2026. E já nada vai ser como estava. 2026 pode - deve! - ser um ano de grandes mudanças. O Director do "Farpas" analisa a temporada da nobre cavalaria. Onde há algumas esperanças a apontar, onde os "antigos" ainda são quem marca a diferença e onde os acomodados somam e seguem numa cantilena que é sempre a mesma...
Miguel Alvarenga - Chamem-lhe saudosismo, chamem-lhe mau feitio, mas a realidade é que no meu tempo havia um punhado de cavaleiros de primeira linha e cada qual toureava à sua maneira, não se imitavam uns aos outros. Mais: levavam gente às praças... e hoje não há nenhum com essa força de bilheteira que eles tinham.
Só para entenderem de que tempo falo, recordo a classe de David Ribeiro Telles; a raça dos irmãos Manuel e Alfredo Conde; a irreverência e a revolução que vieram de São Marcos do Campo com o inigualável José Mestre Batista; a desenvoltura de José Maldonado Cortes; o classicismo e a popularidade de Luis Miguel da Veiga; a força de José Samuel Lupi, sobretudo em Espanha; mais tarde, a alegria do toureio de Gustavo Zenkl; a emoção e a verdade de José João Zoio; e por aí adiante...
Depois chegou João Moura e chegaram também Manuel Jorge de Oliveira, João Ribeiro Telles, Paulo Caetano, Joaquim Bastinhas, Rui Salvador, depois António Ribeiro Telles, Luis Rouxinol, João Salgueiro e outros mais; a seguir Rui Fernandes. E todos estes continuaram a tourear cada qual com o seu estilo e marcando a diferença, apesar de já muito influenciados pelas novas regras do toureio a cavalo impostas pela revolução mourista. Mas, mesmo assim, diferentes uns dos outros.
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| Foto M. Alvarenga |
Nos dia de hoje, toureia-se muito bem a cavalo, mas vivemos uma época de "mais do mesmo", quase todos toureiam igual, da mesma maneira, exceptuando um ou outro caso. E abro um parêntesis para referir a diferença de Marcos Bastinhas (foto de cima), cuja falta se sentiu neste ano de 2025 depois de ter anunciado que precisava de parar, logo no início da temporada. Diz-se que vai regressar. E oxalá o faça - porque todos sentimos a sua ausência. A sua alegria faz falta.
O mais constrangedor na actualidade é o facto de os toureiros da chamada nova vaga não arrastarem público às praças. O último grande toureiro com uma força brutal de bilheteira foi João Moura. Doa a quem doer, nunca mais houve outro assim.
Moura e Caetano: os momentos que marcaram o ano
Em 2025, houve, a meu ver, dois momentos altíssimos que marcaram a temporada: três ferros memoráveis do Maestro João Moura em Santarém na encerrona de seu filho João Moura Jr., que deixaram tudo e todos em delírio e ainda hoje se recordam; e a lição de cátedra, única, magistral, do Maestro Paulo Caetano (a celebrar 45 anos de alternativa e de glória) na corrida de abertura da mini-temporada do Campo Pequeno.
João Moura (mais magro, ao que sei, a fazer uma dieta, finalmente!), ainda sem novo apoderado, depois de se ter separado de Margarida Cardoso, voltará a cumprir temporada no próximo ano, uma temporada especial, a celebrar o 50º aniversário da sua primeira saída em ombros da Monumental de Madrid.
Paulo Caetano, por seu turno, é previsível que nos proporcione mais uma lição de como se toureia a cavalo, já que deverá acompanhar seu filho João pelo menos numa corrida na celebração dos seus 20 anos de alternativa.
Há uns bons anos, ainda há-de haver quem se lembre, o saudoso empresário Rogério Amaro promoveu um cartel que deu a volta ao país e constituiu um sucesso: João Moura, Paulo Caetano e Joaquim Bastinhas. Num almoço com Rogério, sugeri-lhe que lhes chamasse o Trio da Apoteose. E assim foi. É de iniciativas destas que a Festa está a precisar. Mas já não há muitos empresários com visão, há só dois ou três. Muito menos com a cultura taurina que tinham os desse tempo. Hoje montam-se os cartéis "à balda", sem pensar primeiro nos interesses e no gosto do público aficionado de cada terra. Adiante.
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| Foto Plaza 1 |
E a completar o ramalhete de veteranos, há que registar também nesta temporada belíssimas actuações de António Ribeiro Telles (o mais clássico dos nossos cavaleiros), de Luis Rouxinol (a dar a cara todos os dias, sem conseguir estar mal vez nenhuma!) e, sobretudo, de Rui Fernandes (foto de cima) nas poucas vezes em que toureou em Portugal - um cavaleiro-figura com presença assídua nas primeiras praças e nas mais importantes feiras taurinas de Espanha, mas que continua (e muito bem!) a bater os pés à política de saldos a que chegou a tauromaquia nacional, lutando pela classe e pela dignidade da profissão e recusando-se a tourear por cachet's de cácárácá...
Diz-se que a jovem associação de antigos e muito aficionados forcados que gere a praça de Reguengos de Monsaraz vai promover em 2026 um mano-a-mano entre Rui Fernandes e João Moura Júnior. Ora aí está uma corrida com interesse e que foge à triste regra do mais do mesmo. Um "duelo" que importa ver: para concluir, afinal, quem manda nisto.
| Foto Emílio de Jesus/Arquivo |
O regresso de Salgueiro: nada vai ser como estava...
Resumindo: temos hoje muito bons cavaleiros, ninguém diz o contrário, mas falta-lhes o carisma e a força que ainda continuam a ter os veteranos, os que mantêm de pé a imagem eterna e jamais esquecida daqueles que foram os últimos tempos de ouro do toureio a cavalo - e aos quais se vem juntar outra vez no próximo ano o genial João Salgueiro (foto de cima), voltando, não duvido, a trazer uma nova e grande lufada de ar diferente - e mais puro - às grandes competições. Nada vai ser como estava. Esperem para ver...
Ana Batista celebrou em glória os seus 20 anos de alternativa. Cavaleira de grande profissionalismo e entrega à arte marialva. Está num grande momento, executando uma excelente temporada, destacando-se quando toureia com o cavalo "Hermoso".
Também já catalogado como veterano, Gilberto Filipe não toureou muitas corridas, mas é sempre um gosto vê-lo montar e lidar com aprumo, continuando a dignificar a profissão de cavaleiro tauromáquico, a par da sua reconhecida arte na equitação de trabalho, de que é bi-campeão mundial.
Nesta temporada comemorou 30 anos de alternativa e disse adeus às arenas o cavaleiro Marco José. Sem ter alcançado o estatuto de primeira figura, andou três décadas a honrar a casaca e a arte que sempre protagonizou com aficion e dignidade.
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| Foto M. Alvarenga |
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| Foto D.R. |
Outra vez Moura e outra vez Caetano
João Moura Júnior toureou este ano um número reduzido de apenas oito corridas, das quais três foram encerronas (festas, digamos assim), uma em Santarém, outra em Angra do Heroísmo (a única com lotação esgotada) e a última em Portalegre. Apesar de apenas ter ido à guerra (entenda-se: à competição com os demais) em cinco corridas (o que não faz dele propriamente um triunfador de temporada, apesar de ter ganho o prémio do júri na Gala da Tauromaquia), reafirmou estar, na verdade, uns bons pontos à frente do pelotão.
Na linha da frente continuou João Moura Caetano (vencedor do importante prémio do público como cavaleiro triunfador da temporada na Gala da Tauromaquia), um artista que nos surpreende sempre pela sua entrega e afición à arte marialva, indo a todas as praças, cá e além-fronteiras, desenvolvendo o que sente. Foi um dos cavaleiros que marcou a temporada e, uma vez mais, pelo terceiro ano consecutivo, consagrou-se como líder do escalafón; e também João Ribeiro Telles, um cavaleiro de inspiração e muita afición, que acrescenta valor à sua arte trabalhando com cavalos postos por ele.
Ainda no ramalhete dos da frente esteve um ano mais Francisco Palha, que, quando está bem, está bem a sério. Mas continua a ter um percurso muito irregular ao longo de cada temporada. Tudo pode sempre acontecer de cada vez que entra em praça! Em Alcochete viveu, na encerrona frente a seis sérios e exigentes toiros da ganadaria Palha, aquela que recordo como uma das melhores e mais importantes corridas do ano.
Manuel Ribeiro Telles Bastos, cavaleiro que continua a executar a escola antiga. Neste momento, a quadra não o ajuda a atingir o sítio que já pisou. Teve uma temporada marcada por altos e baixos, mas sempre num plano de imensa classe, muita entrega e bom gosto a tourear.
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| Foto M. Alvarenga |
Ousado, irreverente e valente como as armas, João Salgueiro da Costa (foto de cima) começou a temporada num bom plano, mas terminou-a num plano muito inferior. Continua a ser um toureiro apetecido e que aquece e aperta em qualquer competição, mas do qual tudo se espera, sem nunca haver a certeza de irmos assistir a um êxito daqueles que não se esquecem ou a um fracasso... dos que também não se esquecem mais... Pode não ter a vida muito facilitada em 2026 com o anunciado regresso às arenas de seu pai, o génio do toureio a cavalo. Por muito bons que muitos deles sejam (e são), a realidade é que não houve ainda um filho que fosse melhor que o pai, e por isso...
| Foto M. Alvarenga |
Outros se destacaram em 2025: Miguel Moura (foto de cima) em primeiro lugar. Um cavaleiro de grande valor que gostaríamos de ver com cavalos novos e interessantes, tem potencial para alcançar um patamar superior; Duarte Pinto, um cavaleiro fiel ao seu estilo, que mantém a regularidade; Luis Rouxinol Júnior, um cavaleiro popular e regular, mas que não sobressaiu como nos primeiros anos pós-alternativa, em que muito prometeu; António Prates, outro cavaleiro da nova vaga com valor de sobra, que por norma surpreende sempre pela positiva com uma entrega e uma raça própria dos eleitos; Joaquim Brito Paes, um cavaleiro fino e muito bem montado, mas que ainda não encontrou o seu sítio dentro da praça, tendo-se caracterizado esta temporada por altos (nomeadamente nas Sanjoaninas, na Ilha Terceira) e alguns baixos. Um cavaleiro de quem se espera sempre mais, com a certeza de que tem valor e condições para chegar mais além.
Uma palavra de apreço e admiração pela luta além-fronteiras de Paulo Jorge Ferreira, há muito anos a engrandecer o toureio a cavalo em terras da Califórnia, nos Estados Unidos da América, onde também mantêm a sua actividade regular Alberto Conde e João Soller Garcia (seria curioso montar-se um dia uma corrida por cá com os triunfadores da América, vamos nisso, senhores empresários? A Festa precisa de coisas diferentes, é quase sempre tudo mais do mesmo...).
Nos Açores, continuam a deitar cartas os irmãos Tiago e João Pamplona, tendo este actuado em Agosto no Campo Pequeno na corrida que ficou tristemente marcada pela morte do forcado Manuel Trindade, que saltou as tábuas para pegar precisamente o toiro que tinha sido lidado, com toda a dignidade e todo o brio, pelo jovem ginete da Ilha Terceira.
O ano alegre de Tristão... com o primo António e Duarte Fernandes "à perna"...
Passando aos novos que mais de destacaram, as notas mais importantes foram dadas por Tristão Ribeiro Telles, António Ribeiro Telles filho e Duarte Fernandes - deixo mais uma ideia, senhores empresários, que tal apostar num cartel de competição com estes três cavaleiros?
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| Foto M. Alvarenga |
No segundo ano como cavaleiro de alternativa, este foi uma temporada alegre, muito alegre mesmo, para Tristão Ribeiro Telles (foto de cima). Com o fabuloso cavalo "Nureyev" (ferro Manuel Paim) alcançou alguns dos mais emotivos momentos da sua brilhante temporada. Tristão é um dos grandes triunfadores desta temporada. Mas "tem à perna" o primo António e o amigo Duarte...
| Foto M. Alvarenga |
O outro é seu primo António Ribeiro Telles filho (foto de cima), um cavaleiro de arte e também de risco, que não se limita a cravar ferros - que toureia os toiros. Com uma raça, uma arte e um bom gosto que enchem as medidas aos verdadeiros aficionados.
| Foto M. Alvarenga |
Duarte Fernandes (foto de cima) segue os passos do tio Rui, isto é, baseia mais a sua actividade além-fronteiras e toureia pouco em Portugal, o que é pena e se lamenta, porque um jovem desde calibre é essencial e é preciso para alimentar a competição e criar a paixão dos aficionados. Diz-se que desta é que vai ser e que em Agosto tomará a alternativa no Campo Pequeno apadrinhado pelo tio Rui, com o testemunho de Diego Ventura. Já esteve para ser este ano e não foi - este cartel faz falta em Lisboa!
Muitos se lembram dos tempos da competição Mestre Batista/Luis Miguel da Veiga e das paixões que cada um deles despertava nos sectores, com o público dividido entre um e outro. É isso que hoje faz falta à nossa Festa - e que os empresários, se quiserem e tiveram talento para o fazer, podem trazer de volta, promovendo a competição e a "guerra" entre estes "meninos".
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| Foto M. Alvarenga |
Paco Velásquez na linha da frente
Paco Velásquez (foto de cima) foi outro jovem que este ano veio para cima, chegando por mérito próprio às filas da frente, devendo por isso ser também um dos novos cavaleiros com que os empresários podem valorizar e renovar os seus cartéis. É preciso que tenham arte e valor para que não deixem isto cair no marasmo dos elencos mais do mesmo.
Dos rejoneadores que actuaram em praças portuguesas, o maior de todos foi Diego Ventura, que regressou após oito anos sem por cá tourear. Marcou o arranque da temporada actuando no Montijo mano-a-mano com Duarte Fernandes, enchendo a Monumental, sem a esgotar. Em Agosto esgotou o Campo Pequeno e deixou bem clara a sua força de primeiríssima figura mundial.
Andrés Romero voltou a fazer campanha no nosso país, onde continua a desfrutar de bom ambiente; o mexicano Emiliano Gamero voltou também a animar alguns cartéis, mantendo o estatuto de toureiro muito popular e marcando a diferença (faz o seu número mediático, chega às bancadas, atira o sombrero ao ar, mas toureia bem e mexe com o público, agita as hostes, faz falta um toureiro assim); e Guillermo Hermoso de Mendoza esteve em duas corridas, mas sem chegar perto do estrelato que conquistou seu pai, esse sim, ainda e sempre um ídolo da aficion portuguesa.
As novidades: André Gonçalves e João Gregório de Oliveira
Noutra divisão e noutro campeonato, podendo qualquer um deles saltar de repente para a fila da frente, continuaram a sua luta cavaleiros como Paulo Jorge Santos e David Gomes (ambos mais em Espanha do que por cá), Mara Pimenta, Soraia Costa (dois valores do toureio equestre feminino que se lamenta tourearem tão pouco), Parreirita Cigano (injustamente esquecido pelas empresas, um toureiro de um valor tremendo e que muito prometeu no seu arranque), Gonçalo Fernandes (outro valor que nunca desilude), Marcelo Mendes, Diogo Oliveira, Tiago Carreiras e outros mais.
Mariana Avó foi a cavaleira praticante que mais toureou, manifestando uma evolução muito positiva, destacando-se também jovens como Francisco Maldonado Cortes (que tem prometido muito, mas tarde em se afirmar porque toureia pouco), Luis Pimenta e António Mendonça (estes dois últimos com triunfais participações em Espanha e também algumas por cá), o promissor Manuel de Oliveira (prestes a tomar a alternativa) e Vasco Veiga, que este ano fez a prova e se estreou de casaca, um cavaleiro bem recebido pelo público e também bem acarinhado pelos empresários pelas boas maneiras com que se está a revelar.
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| Foto João Silva |
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| Foto D.R. |
Por fim, uma palavra de apreço para o jovem luso-mexicano André Gonçalves (primeira foto de cima), que deixou excelente ambiente depois dos marcantes triunfos em Paio Pires e em Évora; e para o também jovem cavaleiro amador João Gregório de Oliveira (foto de cima), que este ano se estreou e que pode vir a ser um caso. Tomás Moura vai em crescendo, com a responsabilidade do apelido que tem às costas. Fez no final da época em Estremoz a prova para cavaleiro praticante, mas depois não se chegou a estrear de casaca. Pode ser uma boa cartada empresarial para uma das primeiras corridas da próxima temporada.
Em suma: há valores para assegurar o futuro do nosso toureio a cavalo. Há figuras acomodadas e instaladas que precisam de se agitar e não andar sempre a marcar passo todos iguais uns aos outros. Há ainda os Maestros a deitar cartas - e os filhos são todos muito bonzinhos, mas ainda não lhes conseguiram chegar aos calcanhares...
Os empresários precisam de ser mais ousados. De inovar os cartéis. De ter uma mais ampla visão quanto ao futuro. Se não, isto acaba por estagnar.
Venha 2026!
Fotos D.R.
























