André Cunha |
Aficion Insular
O nosso “Criador” deseja conceber um lugar e um
animal único. Para passar à realidade, de pincel em punho e tela pela frente,
lança os primeiros traços e esboça o que viria a ser o planeta Terra. No auge
de inspiração surgem nove migalhas de terra, apenas rodeadas por um abrangente
mar azul, conjunto de ilhas que alguém baptizou de Açores. Acabara de criar uma
das regiões mais belas, sítio de gente acolhedora, humilde e trabalhadora,
destino paradisíaco e onde a qualidade de vida prevalece. Para o animal, usou
da mesma inspiração e daí nasceu o Toiro, sinonimo de bravura, símbolo de
virilidade, algo imponente e majestoso.
Destas palavras carregadas de elogios tem
inicio uma autêntica história de amor, entre esta Região Autónoma do nosso Portugal
e tais animais de raça brava, pois nutrimos enorme afecto ao Toiro e a tudo que
gira em torno dele. Daí a nossa notoriedade pela Festa Brava e o destaque como
uma das zonas mais aficionadas no que diz respeito à tauromaquia nacional e até
mesmo internacional.
Não deve ser por simples acaso que se realizam
Fóruns Mundiais de Cultura Taurina, um Congresso Mundial de Ganaderos de Toiros
de Lide, uma das Feiras Taurinas mais importantes do país (Feira de São João),
praças de toiros com localizações únicas, monumentos impares e de grande porte,
Tertúlias reconhecidas além-fronteiras, gentes com cargos importantes em
diversas associações, Feiras do Toiro e Cavalo, palestras e tentas, para não
falar da tauromaquia popular, caracterizadas pelas mais de três centenas de
Touradas à Corda, realizadas um pouco por quase todas as ilhas, mas com maior
percentagem nas ilhas Terceira, Graciosa e São Jorge. Só com esforço, gosto e
dedicação é possível levar avante a organização destes grandes marcos, como são
exemplo os fóruns realizados, que contam com a presença das pessoas e dos meios
mais influentes da tauromaquia mundial. Todos estes eventos elucidam como se
vive a festa por estas paragens e demonstram a sua vitalidade e saúde. O Toiro Bravo
assume papel de relevo na cultura açoriana.
Infelizmente, nem tudo é um mar de rosas, e
onde há prós, também há contras. Desde logo pela geografia, que separa-nos da
oferta, que nos impede de assistir a mais espectáculos e eventos de índole
taurina, a insularidade restringe-nos o acesso a algumas coisas fúteis e tao
básicas como a compra de um livro, revistas ou artigos decorativos alusivos à
arte tauromáquica. Mesmo com todos os meios de comunicação actuais, a
insularidade limita-nos a novas amizades e a troca de conhecimentos, de
aficionados para aficionados. Contudo, a aficion não se perde, superam-se as
adversidades e o vício aumenta gradualmente.
Na escuridão do Atlântico, vasto mar profundo que nos
separa, o amor ao Toiro Bravo quebra fronteiras e qualquer outra barreira.
Muitas vezes, e longe de ser uma fábula, é o amor ao Toiro que nos une.
Foto D.R.