Foi um dos troféus que mais gosto me deu entregar, sexta-feira passada no "Alfoz", na Gala "Farpas" - a um bom Amigo de tantos anos e a um grande Forcado, António José Pinto. Prestámos homenagem à carreira, à brilhante trajectória e ao enorme prestígio com que durante anos e anos, ao serviço dos Amadores de Alcochete, honrou - e de que maneira! - a nobre arte de pegar toiros.
Há uns meses, seu filho Vasco, actual cabo do grupo, pediu-me que escrevesse umas palavras para figurar num livro que lhe foi oferecido no seu 60º aniversário. Ainda não tínhamos falado sobre isso, mas sexta-feira o António José fez questão de me agradecer pessoalmente o que escrevi, confessando que "tinha gostado muito".
Agora que já está publicado nesse livro (exemplar único) e que já não é, por isso, segredo para ninguém, compartilho convosco as palavras com que homenageei o meu querido amigo António José.
Eram muitos e bons, naquele arranque dos
anos 70, mais concretamente em Agosto de 1971, dia 21, na praça do Montijo, os
forcados que marcaram a estreia do Grupo de Amadores de Alcochete, o segundo de
uma terra onde os pegadores de toiros "nascem do chão" mas não
precisam de ser regados para crescer, crescem por que são feitos de "outra
fibra" e de outra raça que os distingue dos demais. Comandava-os João
Mimo, o cabo-fundador, o teu "chefe", que cedo viu em ti um forcado
de eleição.
Naquele tempo, António José, não havia a
proliferação de grupos que existe nos dias de hoje (tudo mudou e isso foi uma
das coisas que mudaram...) e os forcados eram verdadeiras Figuras. Sabíamos, na
bancada, quem era este, quem era aquele. Olhá-los nas cortesias era olhar para
vedetas, era saber, de antemão, que, com Figuras daquelas na arena, ia ser uma
grande tarde ou uma grande noite de toiros.
Eras um deles. Não eras "mais
um", como muitos são hoje. "Olha, vai pegar o Tónio Zé Pinto!",
ouvi tantas vezes exclamar na bancada.
E depois era a arte, a tua arte. O teu
cite fino e esplendoroso, todo o teu garbo, a tua valentia, aquela forma
marcante de recuar toureando o toiro, aqueles braços de ferro e aquela decisão
com que te fechavas, parecia impossível que assim fosse numa tão esguia figura,
mas dentro dela estava um coração de leão, uma vontade e um querer que chegavam
da terra aos céus e foram apanágio de tantas e tantas alegrias que nos
brindaste, ali, no centro da arena, no palco onde vingam os heróis e se tornam
falados e reconhecidos os grandes e bons forcados.
O Vasco, teu filho, que hoje te segue as
pisadas e é, também ele, um dos grandes forcados deste país, pediu-me que
escrevesse um textinho, sabendo da nossa amizade, para incluir neste livro que
assinala a tua chegada aos "sessenta", meta para onde também caminho.
E eu fi-lo, na certeza, porém, que muitos outros saberão falar melhor de ti do
que eu.
Referir-te como forcado é dizer que
foste um dos primeiros - e fica tudo dito. Ainda há um ano se viu, na festa de
aniversário (já lá vão quarenta anos, a vida passa a correr!), quando voltaste
a pegar e a demonstrar essa arte e essa garra inigualáveis.
Falar de ti como Amigo é falar de quase
quarenta anos de uma cumplicidade que nos une, indestrutível, sã e verdadeira -
mesmo que estejamos alguns tempos sem nos vermos.
Olha, António José, e mais que tudo
isso, como aficionado, é deixar-te aqui um valente "obrigado!" -
pelas vezes, e foram tantas, em que me fizeste levantar da bancada, em que me
obrigaste a sentir orgulho de ser português e ser aficionado, de ter nascido
num país onde também nasceram Homens e Forcados como tu.
Miguel Alvarenga
Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com