A noite estava fria e Rouxinol aqueceu-a! |
Bohórquez impôs a sua classe - e fez a diferença! |
Moura em grande no seu segundo toiro! Foi dele o ferro da noite! |
Miguel Alvarenga e Emílio de Jesus (fotos) - Jogava o Benfica e o
povo preferiu ir ao Estádio da Luz. Choveu e o povo preferiu ficar em casa.
Foram as desculpas esfarrapadas - e infantis - que os "entendidos"
encontraram para justificar e se convencer a eles próprios e aos outros, das
razões do fracasso de público na tourada que ontem abriu a temporada do Campo
Pequeno...
Desde a reabertura, este foi o primeiro
grande "buraco" de assistência nas bancadas da nossa primeira praça.
Um desolador "terço de entrada" ou menos, até. Tudo vermelho, que é a
côr das cadeirinhas...
O cartel não prestava, não interessou os
aficionados? Não acredito. Rouxinol vai a todas as freguesias e todas as
capelinhas, ainda no domingo toureia aqui ao lado em Alcochete, mas não deixa
de ser um grande toureiro e de estar em grande forma. Dá sempre gosto ver. Não
acredito que as pessoas tenham faltado ao Campo Pequeno por estarem fartas do
Luis...
Um cavaleiro (rejoneador) espanhol é
sempre uma novidade e uma diferença. A maior parte deles são melhores e têm
melhores cavalos que muitos dos nossos. É verdade. Fermín Bohórquez é uma das
vedetas do país vizinho. Triunfou no festival a favor do forcado Nuno Carvalho (que ontem assistiu num camarote e foi brindado pelos dois grupos de forcados actuantes).
Estava - e esteve - muito bem no cartel de abertura da temporada lisboeta.
João Moura Jr. quase não toureou em
Portugal no último ano. Fartou-se de triunfar em Espanha. Não me digam que os
aficionados não tinham interesse em vê-lo no Campo Pequeno, porque não acredito
nisso.
Não obstante tudo isto, é verdade que
hoje em dia não existem em Portugal toureiros com "força de
bilheteira" para levarem público às praças. Como Moura no seu tempo. Como
Batista, Zoio e tantos mais, no seu tempo. Como Pedrito, na altura em que
"deu o tiro". Faltam ídolos na tauromaquia.
Mais grave que isso: o povo não tem
dinheiro. Talvez se esteja a guardar para a segunda corrida de Lisboa (16 de
Maio) e para ver Pablo Hermoso.
O fracasso de ontem em Lisboa pode ter
sido um aviso assustador para o que será esta temporada em tempo de crise. Pode
ter sido uma lição (se tiverem cabeça para a aprender) para os senhores
empresários. Há que apostar em menos e mais atractivas corridas. Se o Tony
Carreira cantasse todas as semanas no Pavilhão Atlântico nunca o enchia como
enche... Nos toiros, é "mais do mesmo" a toda a hora - e é preciso
mudar!
Por "morrer uma andorinha"
nunca "acabou a Primavera". Mas é preciso não esquecer que, mesmo
"não morrendo", pode ter ficado em causa - e em perigo. Vamos
aguardar serenamente pela segunda corrida do Campo Pequeno e analisar então o
que se passou nesta: se o público se estava a guardar para festejar os 30 anos
de carreira do popular Joaquim Bastinhas, para rever o grande Pablo Hermoso
depois da apoteose (ainda lembrada) que foi a sua última presença naquela arena,
em Setembro do ano passado (três voltas e meia à arena, lembram-se?) e para a
alternativa da nova vedeta do toureio equestre, João Maria Branco. Depois
falamos...
Da corrida de ontem temos muito pouco
para falar... A primeira parte passou sem história e nem me lembro de nada.
Três toiros de Vinhas sem o mínimo de qualidades. Praça vazia e falta de
toiros, de emoção e de transmissão - uma seca das antigas...
Na segunda parte, com toiros (excelente
apresentação, isso há que reconhecê-lo) de melhor colaboração, Luis Rouxinol
encheu-se de brios e aqueceu a noite fria com o seu pundonor, a sua garra e a
sua arte de bom toureiro; João Moura Jr. pôs a "carne no assador" e
foi dele o grande ferro da noite, a terminar uma lide de entrega e de imenso
valor; e Fermín Bohórquez (que toureou no fim o "sobrero", por o seu
toiro ter saído coxo) impôs a classe e o temple com que ao longo dos anos tem
feito a diferença, mantendo o rótulo de classicismo que o torna único e
distante das "modas" - em que nunca alinhou. Brilhante!
De resto, a tourada de ontem resume-se a
este parágrafo - e nada mais ficou para recordar. Pedro Reinhardt dirigiu com a
usual competência e também a habitual "rigidez". Não custava nada ter
animado as lides da primeira parte com a banda. Sempre aquilo parecia mais
qualquer coisa que um triste velório...
A noite valeu pelo belíssimo prego do
lombo que a seguir saboreei no bar "Outro Tempo". E pelo momento em
que finalmente conheci o novo empresário Henrique Gil e sua Mulher, Lúcia,
super-simpáticos - que ontem me veio cumprimentar na praça e me deu um papel
anunciando os toiros Graves para Portalegre (este que aqui está ao lado!). E
não um "cheque"... como alguns, mais maldosos, alvitraram. As
"vizinhas" ficaram em alvoroço... Mas ainda não foi desta que
"fui comprado". Tranquilos...
Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com