segunda-feira, 27 de maio de 2013

Moura: faltou encanto em Madrid na hora da despedida...



Semblante carregado, lágrimas de raiva nos olhos, nos gestos a decepção de uma tarde "agridoce" - 37 anos depois de ali ter dado início à maior e mais significativa "revolução" na arte de lidar e tourear toiros a cavalo, João Moura disse adeus no sábado à "sua" Monumental de las Ventas e ao público que a esgotou e o idolatrou durante quase quatro décadas, sem conseguir que Madrid tivesse "mais encanto na hora da despedida".
Apesar de ter toureado como só ele sabe, o Maestro falhou, como quase sempre ali lhe aconteceu, com o rojão de morte. Foi silenciado no primeiro toiro e assobiado no último depois de ter "pinchado" dez vezes. Mesmo assim, no final, quando as lágrimas lhe caiam pelo rosto abaixo, a praça levantou-se e tributou-lhe a merecida homenagem em reconhecimento pela sua trajectória de glória, em reconhecimento pelas nove vezes em que abriu a "porta grande" da mais impportante praça do mundo e por ela saíu triunfalmente aos ombros, em reconhecimento, talvez, pelas tantas e tantas vezes em que não repetiu tal proeza mercê do mau uso do rojão de morte, o seu eterno "calcanhar de Aquiles" na primeira de todas as arenas.
Menino franzino, com apenas 16 anos de idade, uma casaca creme e um cavalo célebre, o "Ferrolho", que fora de Mestre João Núncio, o "niño prodígio", como então lhe chamaram, foi há 37 anos capa de todos os jornais espanhóis e andou nas bocas da aficion espanhola na tarde da sua estreia em Las Ventas. No sábado, houve aplausos de recordação ao génio que mudou a arte de tourear a cavalo. Mesmo com lágrimas, mesmo com a decepção estampada no rosto cansado e gasto, haverá sempre a divisão obrigatória das eras na história do toureio equestre: o que estava antes de Moura e o que veio depois de Moura. E o resto, apesar de tudo, vão ser sempre cantigas...

Fotos Juan Pelegrín/www.las-ventas.com e Ricardo Relvas