A poucos dias da segunda corrida da
renovada praça de toiros de Estremoz (na próxima sexta-feira, dia 27), novamente sem a presença da Dinastia
Cortes, o Jornal "E", de Estremoz, pública uma entrevista explosiva com o cavaleiro Francisco Cortes (fotos) concedida recentemente na Herdade das Barbas - e que aqui reproduzimos, pela sua pertinência e importância, com a devida vénia. Francisco Cortes diz-se "triste e
desiludido" por ter ficado de fora da corrida de reinauguração e estranha
o facto da praça de Estremoz ser a "única deste nível atribuída de forma
gratuita". Vale a pena ler.
Jornal E - Qual o sentimento de ter
ficado de fora da corrida de reinauguração da praça de Estremoz?
Francisco Cortes - O sentimento foi de
tristeza e de desilusão. Sou estremocense, aqui fui criado e sempre vivi, desde
sempre frequentei a praça de toiros, quer assistindo às corridas, quer
treinando durante anos e anos. Foi com natural entusiasmo e expectativa que
assisti à recuperação da praça.
Penso que é inaceitável reinaugurarem
uma praça sem os toureiros da terra. Independente do nome deles. Como seria
impensável inaugurarem o campo de futebol de Estremoz sem o CF Estremoz. Para
além disso, a minha família tem levado através da tauromaquia o nome de
Estremoz a todo o mundo tauromáquico, uma vez que já o meu avô foi cavaleiro
amador, depois o meu pai, que modéstia à parte, foi a grande figura que foi
sendo por todos reconhecido como tal. Também eu já ando nestas andanças
ininterruptamente há 26 anos.
Penso que foi uma falta de consideração
e respeito não só por nós, mas também pela própria história tauromáquica de
Estremoz. Devo dizer ainda que muito me sensibilizaram todos aqueles que de uma
forma ou outra me transmitiram que não iriam à corrida por estarem em desacordo
com a atitude da empresa Campo e Praça.
- Assistiu à corrida?
- Não. Fizemos um jantar com família e
amigos, onde estiveram inclusive vários participantes da corrida, antes e
depois da mesma. Também eles se solidarizaram connosco. Não seria fácil para
mim assistir das bancadas a semelhante espetáculo.
- Em Montemor, qual foi a intenção de
brindar um ferro à empresa "Campo e Praça"?
- A intenção foi que eles captassem a mensagem,
que se deve falar dentro da praça, dando aí sim mostras de valor e não fora
dela onde predominam os jogos de bastidores, que esta empresa tão bem domina.
- Há rumores da realização de uma
corrida de homenagem aos 50 anos de alternativa de José Maldonado Cortes?
Confirma?
- Essa pergunta devia ser colocada ao
meu pai. Mas estou em posição de lhe garantir que não. Não faria sentido essa
homenagem acontecer numa corrida secundária. Quando essa homenagem acontecer
será com um cartel à altura da praça e da figura do meu Pai, numa festa
especial como a ocasião merece e não uma qualquer corrida para virem uns
senhores da Moita encher os bolsos à conta dos estremocenses como quiseram
fazer na reinauguração.
Repare que a praça antes das obras tinha
uma lotação de cerca de 4 mil lugares, agora ficou com 2 mil e 400, e ainda
assim não encheu. A dita empresa para além de todas as guerrilhas que foi
fazendo com varias entidades de Estremoz como a própria Tertúlia, colocou os
bilhetes a preços verdadeiramente vergonhosos, sendo claro ao que vinha.
Nessa corrida que iremos realizar em
devida altura será como já várias vezes o fizemos para uma instituição de
solidariedade de Estremoz.
- Alguma vez lhe foi prometido que iria
estar no cartel da corrida de reinauguração da praça?
- Nunca fui contactado para participar
nem na primeira nem na segunda corrida que se vai realizar em fins de setembro.
O meu empresário é que sabendo do gosto que eu teria em tourear na minha terra
por sua iniciativa contactou por duas vezes a empresa Campo e Praça,
colocando-lhe a questão sobre a minha eventual participação.
A resposta que obteve foi uma pergunta:
"Se eu tinha algumas corridas para dar como contrapartida para entrar no
cartel?". Preciso de arranjar corridas aos toureiros da empresa "Campo e Praça" para tourear na minha terra? Este ano felizmente faço uma boa época
toureando em várias terras aqui próximas como Vila Viçosa, Sousel, Montemor,
Terrugem ou Alter, sem nada ter que dar em troca....
- Uma mensagem ao presidente da Câmara
de Estremoz...
Uma palavra de desalento para o
presidente Luís Mourinha. Inicialmente como é óbvio acreditei no seu trabalho e
não tinha nenhuma razão para dele duvidar até porque a recuperação da praça a
ele se deve. Penso no entanto como já o tenho referido que um presidente dum
município serve para defender os interesses dos seus habitantes. Neste processo
nublado e que ninguém ainda entendeu, jamais e em momento algum foi defendido o
interesse dos estremocenses. Primeiro, podia e devia ter sido dada primazia de
escolha a alguma entidade de solidariedade social do concelho. Segundo, se
nenhuma se interessasse, entregá-la-ia a alguma empresa taurina do concelho.
Terceiro, se também nenhuma se interessasse encontrava alguma de fora.
Não devia ter permitido os valores dos
bilhetes praticados para que todos os estremocenses pudessem assistir. Devia
também ter perguntado a quem tem experiência na área sobre as condições
técnicas taurinas da praça, para que o espetáculo pudesse resultar.
O piso estava inadequado o que
prejudicou o desempenho sobretudo dos toiros.
Tinha que ter cuidado a participação dos
profissionais tauromáquicos do concelho no espetáculo. Se a praça foi concedida
ao que se diz de forma gratuita a entidade responsável pode e deve fazer
exigências que beneficiem os estremocenses, pois ao que sei esta é a única
praça do seu nível atribuída de forma gratuita a alguma empresa. Todas as
outras são pagas...e bem pagas.
Fotos D.R./Jornal "E" e M. Alvarenga