terça-feira, 24 de setembro de 2013

Polémica em Estremoz: Francisco Cortes dá entrevista explosiva ao jornal "E"





A poucos dias da segunda corrida da renovada praça de toiros de Estremoz (na próxima sexta-feira, dia 27), novamente sem a presença da Dinastia Cortes, o Jornal "E", de Estremoz, pública uma entrevista explosiva com o cavaleiro Francisco Cortes (fotos) concedida recentemente na Herdade das Barbas - e que aqui reproduzimos, pela sua pertinência e importância, com a devida vénia. Francisco Cortes diz-se "triste e desiludido" por ter ficado de fora da corrida de reinauguração e estranha o facto da praça de Estremoz ser a "única deste nível atribuída de forma gratuita". Vale a pena ler.

Jornal E - Qual o sentimento de ter ficado de fora da corrida de reinauguração da praça de Estremoz?
Francisco Cortes - O sentimento foi de tristeza e de desilusão. Sou estremocense, aqui fui criado e sempre vivi, desde sempre frequentei a praça de toiros, quer assistindo às corridas, quer treinando durante anos e anos. Foi com natural entusiasmo e expectativa que assisti à recuperação da praça.
Penso que é inaceitável reinaugurarem uma praça sem os toureiros da terra. Independente do nome deles. Como seria impensável inaugurarem o campo de futebol de Estremoz sem o CF Estremoz. Para além disso, a minha família tem levado através da tauromaquia o nome de Estremoz a todo o mundo tauromáquico, uma vez que já o meu avô foi cavaleiro amador, depois o meu pai, que modéstia à parte, foi a grande figura que foi sendo por todos reconhecido como tal. Também eu já ando nestas andanças ininterruptamente há 26 anos.
Penso que foi uma falta de consideração e respeito não só por nós, mas também pela própria história tauromáquica de Estremoz. Devo dizer ainda que muito me sensibilizaram todos aqueles que de uma forma ou outra me transmitiram que não iriam à corrida por estarem em desacordo com a atitude da empresa Campo e Praça.
- Assistiu à corrida?
- Não. Fizemos um jantar com família e amigos, onde estiveram inclusive vários participantes da corrida, antes e depois da mesma. Também eles se solidarizaram connosco. Não seria fácil para mim assistir das bancadas a semelhante espetáculo.
- Em Montemor, qual foi a intenção de brindar um ferro à empresa "Campo e Praça"?
- A intenção foi que eles captassem a mensagem, que se deve falar dentro da praça, dando aí sim mostras de valor e não fora dela onde predominam os jogos de bastidores, que esta empresa tão bem domina.
- Há rumores da realização de uma corrida de homenagem aos 50 anos de alternativa de José Maldonado Cortes? Confirma?
- Essa pergunta devia ser colocada ao meu pai. Mas estou em posição de lhe garantir que não. Não faria sentido essa homenagem acontecer numa corrida secundária. Quando essa homenagem acontecer será com um cartel à altura da praça e da figura do meu Pai, numa festa especial como a ocasião merece e não uma qualquer corrida para virem uns senhores da Moita encher os bolsos à conta dos estremocenses como quiseram fazer na reinauguração.
Repare que a praça antes das obras tinha uma lotação de cerca de 4 mil lugares, agora ficou com 2 mil e 400, e ainda assim não encheu. A dita empresa para além de todas as guerrilhas que foi fazendo com varias entidades de Estremoz como a própria Tertúlia, colocou os bilhetes a preços verdadeiramente vergonhosos, sendo claro ao que vinha.
Nessa corrida que iremos realizar em devida altura será como já várias vezes o fizemos para uma instituição de solidariedade de Estremoz.
- Alguma vez lhe foi prometido que iria estar no cartel da corrida de reinauguração da praça?                         
- Nunca fui contactado para participar nem na primeira nem na segunda corrida que se vai realizar em fins de setembro. O meu empresário é que sabendo do gosto que eu teria em tourear na minha terra por sua iniciativa contactou por duas vezes a empresa Campo e Praça, colocando-lhe a questão sobre a minha eventual participação.
A resposta que obteve foi uma pergunta: "Se eu tinha algumas corridas para dar como contrapartida para entrar no cartel?". Preciso de arranjar corridas aos toureiros da empresa "Campo e Praça" para tourear na minha terra? Este ano felizmente faço uma boa época toureando em várias terras aqui próximas como Vila Viçosa, Sousel, Montemor, Terrugem ou Alter, sem nada ter que dar em troca....
- Uma mensagem ao presidente da Câmara de Estremoz...
Uma palavra de desalento para o presidente Luís Mourinha. Inicialmente como é óbvio acreditei no seu trabalho e não tinha nenhuma razão para dele duvidar até porque a recuperação da praça a ele se deve. Penso no entanto como já o tenho referido que um presidente dum município serve para defender os interesses dos seus habitantes. Neste processo nublado e que ninguém ainda entendeu, jamais e em momento algum foi defendido o interesse dos estremocenses. Primeiro, podia e devia ter sido dada primazia de escolha a alguma entidade de solidariedade social do concelho. Segundo, se nenhuma se interessasse, entregá-la-ia a alguma empresa taurina do concelho. Terceiro, se também nenhuma se interessasse encontrava alguma de fora.
Não devia ter permitido os valores dos bilhetes praticados para que todos os estremocenses pudessem assistir. Devia também ter perguntado a quem tem experiência na área sobre as condições técnicas taurinas da praça, para que o espetáculo pudesse resultar.
O piso estava inadequado o que prejudicou o desempenho sobretudo dos toiros.
Tinha que ter cuidado a participação dos profissionais tauromáquicos do concelho no espetáculo. Se a praça foi concedida ao que se diz de forma gratuita a entidade responsável pode e deve fazer exigências que beneficiem os estremocenses, pois ao que sei esta é a única praça do seu nível atribuída de forma gratuita a alguma empresa. Todas as outras são pagas...e bem pagas.

Fotos D.R./Jornal "E" e M. Alvarenga