quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

1981 na Moita: o célebre mano-a-mano Batista/Domecq

Cartaz da Feira da Moita em Setembro de 1981, onde a grande noite foi a última,
no dia 17, com o mano-a-mano Batista/Domecq
Fernando Hilário, antigo forcado do Grupo de Montemor e ao tempo cabo dos
Amadores Lusitanos (na foto, no ano passado em Santarém com Miguel Alvarenga),
era em 1981 empresário da praça de toiros da Moita e montou a célebre corrida
de mano-a-mano entre Mestre Batista e Álvaro Domecq, fazendo reviver a grande
competição que ambos haviam protagonizado nos anos 60
Álvaro Domecq e Mestre Batista (foto de baixo): juntos, numa temporada, esgotaram
em três noites a lotação do Campo Pequeno!



Miguel Alvarenga recorda no seu livro "Mestre Batista - A História de um Vencedor" (a publicar este ano) o célebre mano-a-mano que em 1981 juntou na praça da Moita, muitos anos depois da competição que numa só temporada esgotou em três noites a lotação do antigo Campo Pequeno, os rivais José Mestre Batista e Álvarito Domecq. Uma noite histórica que aqui vimos hoje lembrar, no dia em que a praça da Moita vai de novo a concurso (logo à noite se saberá quem vai ser o novo empresário).
"Era uma verdadeira loucura, a praça esgotava-se dias antes e a luta entre ambos era qualquer coisa de formidável", recorda no livro o antigo sócio de Manuel dos Santos, Américo Pena (já falecido), referindo-se à rivalidade entre Batista e Domecq nas célebres nocturnas de Lisboa.
Em 1981, era empresário da praça de toiros da Moita o famoso forcado Fernando Hilário, antiga glória do Grupo de Montemor e, ao tempo, cabo dos Forcados Lusitanos.
Certa tarde, recorda Miguel Alvarenga no livro sobre a vida e a carreira de José Mestre Batista, Fernando Hilário vai a Vila Franca e aconselha-se com o crítico e seu amigo João Mascarenhas sobre os cartéis que há-de montar em Setembro na Feira da Moita.
"Aventam várias hipóteses, falam em muitos nomes para o mano-a-mano com Domecq na corrida final da Feira de Setembro. Uns recusam, outros não têm os cavalos em condições para 'aguentar' três toiros e é Mascarenhas quem lembra a Fernando Hilário que podia montar uma corrida extraordinária se pusesse Mestre Batista ao lado de Domecq, fazendo reviver essa competição inesquecível que haviam travado nos anos sessenta", recorda Alvarenga no livro que em breve estará nos escaparates.
E acrescenta:
"Vão ambos à Quinta da Tarrucha, lá nos altos de Vila Franca e põem a hipótese a Mestre Batista. Este aceita-se: 'Vamos a isso!'. E depois graceja, com aquela arte invulgar que nos fazia sempre duvidar de que estava falando sério ou a brincar: 'Está bem, mas digam ao Álvarito que se prepare, que lhe vou dar uma 'banhada' daquelas à maneira antiga...'. Dias volvidos, quando Mascarenhas se encontra em Badajoz com Domecq e o seu apoderado Jacinto Alcón, avisa o rejoneador de Jerez: 'Prepara-te, Álvarito, que o Batista está com muitas ganas de ter dar um 'banho' na Moita!'. E ele responde, com a serenidade que lhe é característica: 'Olha, João, desse homem não me admira nada que leve uma 'banhada', como dizes. Mestre Batista é um génio. Quando se coloca lá do outro lado da praça e chama o toiro de frente, a gente pensa que aquilo vai ser tudo uma desgraça, que vão ambos chocar no centro da arena... e ele sai da sorte com uma limpeza impressionante, entra pelo toiro de dentro para o 'comer'...".
Batista obtém nessa tarde na Moita um êxito memorável. Depois da corrida, quando lhe perguntaram como foi possível, com apenas três cavalos, fazer frente à vasta quadra de Álvaro Domecq, respondeu despreocupadamente:
"O que é preciso é ter garra e vontade. E a verdade é que, só com três cavalos, não tive medo dos sete ou oito que Domecq trazia. E creio até que os meus três 'animogues' chegaram bem para os 'tanques' de Álvarito. E felizmente, até agora, sempre têm chegado. Eu julgo que enquanto tiver dois cavalos a corresponderem inteiramente, me chegam para tourear e alternar seja com quem for...".
No final da corrida, quando o sacaram em ombros, deixando Domecq na trincheira, Mestre Batista voltou-se para os que o levavam em triunfo e ordenou: "Tragam lá o espanhol também em ombros...".

Fotos D.R. e Ana de Alvarenga