Miguel Alvarenga - O novo Decreto-Lei que veio reclassificar os espectáculos artísticos e alterar a anterior classificação desde sempre atribuído aos espectáculos tauromáquicos, que eram para maiores de 6 anos e passam agora a ser para maiores de 12, criou, como é natural e usual, uma tempestade no copo de água (ou de uísque...) de muitos aficionados. Ficou meio mundo em pânico e no ar pairou mais uma terrível ameaça dos anti-taurinos, coitadas da criancinhas, que nunca mais na vida podiam ir a uma tourada.
Depois, como sempre, também, as hostes acalmaram, quando alguns taurinos mais inteligentes tiveram a amabilidade de vir a público explicar aos que entraram em histeria que as coisas, afinal, não eram bem assim. A classificação etária não passa de um mero "aconselhamento", como a "Prótoiro" esclareceu no seu oportuno comunicado. O mal foi os alarmistas terem-se esquecido de ler o diploma completo, como frisou José do Carmo Reis no jantar da Associação de Tradições e Cultura Tauromáquica, este sábado em Montemor-o-Novo.
Num outro artigo do mesmo Decreto-Lei fica expresso que a falta de idade "pode ser suprida" pela responsabilização dos pais ou de um adulto que acompanha a criança. Isto é, um menor de 12 anos pode assistir a uma corrida de toiros acompanhado por um adulto ou com a responsabilização dos pais, não pode é entrar sózinho numa praça de toiros. Mas também não lembra ao diabo que uma criancinha de 6 anos saia sózinha de casa, compre um bilhete e entre numa praça de toiros sem os papás saberem por onde anda...
Mas o mais grave não é a precipitação dos que leram o Decreto-Lei a correr e entraram em histeria porque as touradas, agora, eram "para maiores de 12 anos". Isso é o menos e faz parte da habitual "aceleração" em que vive esta gente. Quantas e quantas vezes não recebo telefonemas deste e daquele a "refilar" porque escrevi isto ou aquilo e depois lá tenho eu que explicar que o que está escrito é assim e não assado, que leiam melhor e que hão-de ver que não foi aquilo que lá ficou escrito. Os "taurinos" são precipitados, lêem a correr e entram por norma em pânico.
O mais grave é esta decisão governamental ter sido tomada em 5 de Dezembro do ano passado - os Decretos-Lei são apresentados e votados na Assembleia da República pelos senhores deputados e só depois são aprovados ou não pelo Governo - e só agora dela se terem apercebido os "taurinos". Primeiro, significa que foi tomada à revelia de todas as associações e instituições taurinas, ou seja, decidiram alterar a classificação etária dos espectáculos de tauromaquia nas costas dos seus responsáveis. Em segundo lugar, este procedimento criticável de quem nos (des)governa passou completamente ao largo de quem tinha obrigação de estar atento e de defender a Festa. O grave, a meu ver, foi isso. Afinal, andam todos a dormir. O resto é apenas conversa.
Foto Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com/Arquivo