"Apareceu-me um dia na minha quinta, em Vila Franca, ao volante de um 'boca de sapo' todo podre e vendi-lhe um cavalo por cento e cinquenta contos, nem ele tinha dinheiro para o pagar, mas eu disse-lhe: 'Leva o cavalo, depois fazemos contas' e fez. Foi o meu primeiro negócio com o Pablo, já lá vão mais de vinte anos" - recorda ao "Farpas" aquele que ainda hoje fala quase diariamente ao telefone com o número-um do rejoneio mundial, Jorge Almeida Santos (foto ao lado), conhecido por "Passa Fome" (designação por que era conhecido o bairro próximo de Odivelas onde morou). Desde então, a sua amizade com Pablo Hermoso de Mendoza manteve-se sólida e não há vez que o toureiro não venha a Portugal que não o visite em Vila Franca. De então para cá, os negócios de cavalos com Pablo foram "mais que muitos".
"Hoje ele é uma primeira figura, mas continua a ser a mesma pessoa simples e humilde, amigo do seu amigo", salienta Jorge "Passa Fome".
Na semana em que comemorou os seus 25 anos de alternativa e a duas semanas do seu regresso ao Campo Pequeno (4 de Setembro), Pablo Hermoso recordou os seus inícios no seu site oficial:
"São recordações muito bonitas, de uma pessoa lutadora, humilde. Havia algumas corridas durante a semana, sobretudo na zona de Vizcaya, onde eu ia sem quadrilha, porque não havia morte do toiro e não exigiam subalternos, Carregava quatro ou cinco cavalos muito apertados, era eu o chofer. Chegava, preparava os cavalos, vestia-me na mesma cabine para não os deixar sós, toureava nessas praças portáteis, recolhia os cavalos, fazia um pouco de tudo, era a fórmula para poder tourear".
E conta mais:
"Mas estava carregado de ilusões, apesar de o sentimento de incerteza ser muito forte. Pensava que a alternativa podia servir-me para abrir mais uma porta na minha carreira ou simplesmente que seria a meta máxima a que podia aspirar. Sentia-me satisfeito com o facto de que a máxima figura do momento, Manuel Vidrié, me daria a alternativa e isso servia-me de consolo. Por esse tempo, a minha preocupação era aprender o melhor possível, toureava muito pouco e tinha alguns complexos por saber que o meu toureio não chegava à altura das figuras do momento. Contava com o apoio da minha terra e da minha gente, mas a nível técnico e artístico estava muito por baixo dos meus companheiros. Sempre fui muito realista comigo mesmo e estava consciente de que, se queria funcionar, teria que procurar estar, como mínimo, ao nível deles, pensar em melhorar o que eles faziam era algo impensável".
E, sobre o futuro, afirma Pablo:
"O adeus total nunca vai chegar nunca. A minha carreira não vai ter um adeus. Creio que vou ser toureiro até morrer. Vou-me diluindo. Chegará um momento em que descanse uma temporada. E chegará um ano em que tourearei apenas três corridas, Se com setenta anos for capaz de me pôr diante de um novilho num festival, hei-de o fazer!".
Fotos D.R. e Fernando José