terça-feira, 30 de dezembro de 2014

2014 chega ao fim: os CASOS que marcaram o ano

A DAMA DE FERRO - Paula Mattamouros Resende e Rui Bento foram,
indiscutivelmente, as Figuras do Ano. A administradora da insolvência tomou as
rédeas de um projecto que não era da sua área e levou o barco a bom porto,
respeitando e enaltecendo a cultura e a tradição da arte tauromáquica. Mais: como
verdadeira Dama de Ferro, bateu os pés e pôs na ordem aqueles que dela
pretendiam sair, assumindo com serenidade a gestão e a resolução de crises em
momentos menos fáceis. A seu lado, Rui Bento foi o timoneiro perfeito e, uma vez
mais, confirmou ser o homem certo no lugar certo. Uma dupla de sucesso que
marcou pela positiva a temporada nacional, a partir da Catedral do Toureio
Português
CAMPO PEQUENO: O GRITO "PRESENTE!" DOS TOUREIROS - Logo no início do
ano e mal soaram as primeiras notícias do processo de insolvência, os toureiros
disseram "presente!" e compareceram em peso na conferência de imprensa para
apresentação dos primeiros cartéis da temporada no Campo Pequeno. Foi uma
verdadeira manifestação de força, mas também de apoio e solidariedade a uma nova
página que forçosamente se virava na história da primeira praça do país. Foi também
a primeira vez que estiveram cara-a-cara com os novos administradores do Campo
Pequeno, depois da demissão dos Borges, anteriores gestores. Nunca se vira tanto
toureiro e tanta Figura por metro quadrado na arena da primeira praça de toiros de
Portugal. Iniciava-se um novo ciclo - a que, depois, alguns não souberam
corresponder, nem quiseram colaborar. Mas, feitas as contas, a vitória foi alcançada.
Lisboa teve a melhor temporada de sempre desde a reabertura em 2006
NOITE HISTÓRICA - Rui Bento e os novos administradores do Campo Pequeno
prometeram "uma temporada única" - e, de facto, a promessa foi cumprida. Lisboa
viveu momentos únicos e o primeiro foi logo a corrida inaugural da temporada, com
lotação esgotada, muito por obra e graça de todas as circunstâncias, mas
sobretudo pela presença de Pablo Hermoso de Mendoza, ainda e sempre o cavaleiro
preferido da aficion lusitana e que em Setembro voltaria a esgotar o Campo Pequeno
na sua segunda apresentação do ano em Portugal
O ROUBO DA ESTÁTUA - O ano começou sobressaltado em Alcochete com o
roubo da estátua em bronze do malogrado forcado Hélder Antono, morto quando
pegava um toiro naquela arena nos anos 80 e que há mais de 20 anos perpectuava
a sua memória defronte da fachada principal da praça. O monumento viria a ser
encontrado dias depois num local ermo, a pouca distância da praça e foi reposto
em Junho no início de uma corrida celebrada propositadamente para festejar
a alegria do regresso da estátua
A (RE)CONSAGRAÇÂO DE UM ELEITO - Certamente que, de alguma forma, pode
significar um comprometimento do futuro, mas a verdade é que o maior triunfador
da temporada 2014 foi, incontestavelmente, o veterano Maestro Joaquim Bastinhas,
um toureiro consagrado e agora reconsagrado, já com 31 anos de carreira
profissional. Arte, valor e uma tremenda popularidade num ano marcado por sonoros
e significativos triunfos em todas as praças por onde passou. Todos foram unânimes
em elegê-lo como o primeiro nesta época - em que os novos valores não lhe
chegaram aos calcanhares e em que seu filho Marcos se viu obrigado a parar por
acidente sofrido na praça de Albufeira. Era aquele que mais prometia, mas não
pôde chegar ao patamar a que se propunha. Fê-lo o Pai, quem sabe, salvaguardando
o lugar que pertencia ao filho - cujo regresso constitui a grande expectativa de 2015
O ANO DA MORTE DE MORGADO - Ninguém, a não ser
os mais próximos, que eram conhecedores do estado
depressivo em que se encontrava, poderia prever a tragédia
que deixou o meio taurino em estado de choque no mês de
Julho: na noite em que na praça da Póvoa de Varzim decorria
a tradicional Corrida TV/Norte, o apoderado de Bastinhas
suicidou-se num pinhal em Vilar Formoso com um tiro na cabeça.
António Morgado era um homem sério e íntegro, um aficionado
exemplar e um empresário empreendedor e grande responsável
pelo sucesso de várias praças no Norte. Fora colaborador da
empresa do Campo Pequeno e apoderara outros toureiros.
Casado, pai de uma filha, foi um taurino "de antigamente",
amigo de seu amigo, homem vertical e de carácter marcante.
A sua forma de estar não tinha nada a ver com os tempos
modernos
- e isso pode explicar uma morte que não terá
nunca uma explicação plausível
A LUFADA QUE VEIO DE ESPANHA - O novilheiro espanhol José Garrido foi
protagonista dos melhores (e raros) momentos de toureio a pé vividos este ano
na primeira arena do país. Trouxe do país vizinho uma lufada de ar puro e sagrou-se
triunfador absoluto da única novilhada realizada esta temporada no Campo Pequeno,
numa noite que ficou também marcada por um importante sucesso da ganadaria
Murteira Grave (na foto, Garrido com o ganadero Dr. Joaquim Grave)
O DIVÓRCIO DO ANO - Inesperadamente e apenas alguns dias depois de um enorme
triunfo na Figueira da Foz, o jovem cavaleiro João Maria Branco decidiu pôr um ponto
final na relação de apoderamento que o unia, desde o ano anterior, ao Nº1 dos
apoderados nacionais, Rui Bento. Se, por um lado, se passou a poder vangloriar de
ter despedido o apoderado que todos desejam ter, por outro ficou a certeza de que
deu um certeiro e provavelmente impensado tiro no pé - de consequências
imprevisíveis e, à partida, graves e comprometedoras de um promissor futuro. Se
inicialmente se supôs que teria uma forte cartada na manga, ao ponto de se poder
dar ao luxo de dizer adeus a Rui Bento, agora verifica-se que afinal a não tinha. Ainda
não encontrou novo apoderado e o seu futuro continua a ser uma incógnita
VENTURA, GUERRA E PAZ - Diego Ventura regressou ao Campo Pequeno depois
de ter estado dois anos sem ali tourear e a primeira noite ficou marcada por uma
verdadeira tempestade causada pelo comportamento impróprio dos toiros da
afamada ganadaria Charrua, uma divisa acima de qualquer suspeita. O director de
corrida Pedro Reinhardt esteve no centro de uma guerra que culminou com um
violentíssimo comunicado da Associação de Directores de Corrida, altamente
gravoso para a imagem de Ventura e dos que o rodeiam. Numa segunda corrida em
Lisboa, que significou também uma carinhosa "segunda oportunidade" dada pela
empresa, o rejoneador fez as pazes com o público do Campo Pequeno e selou-as
neste significativo beijo à arena - onde recuperou, pelo triunfo, o seu bom estatuto 
O REGRESSO DO HERÓI - Com a barreira dos 60 ultrapassada, António Manuel
Cardoso "Nené"
preparou-se com vontade e todo o rigor e foi à cara de um toiro
em Alcochete na corrida de reposição da estátua de Hélder Antono. A alma, a raça
e o sentimento eram os mesmos, mas as faculdades físicas já não. Resultou ferido
mas deu uma lição aos vindouros. Foi um dos momentos marcantes de 2014
SALGUEIRO, O INESPERADO ADEUS - Uma noite saltou do cavalo em pleno Campo
Pequeno e enfrentou o toiro a corpo limpo. Do genial João Salgueiro tudo se pode
sempre esperar - até que, de um momento para o outro e quando acabava de
apresentar novos apoderados, venha comunicar que decide suspender a temporada
por ter saudades dos tempos em que os toureiros se hospedavam nos melhores
hotéis, comiam nos mais luxuosos restaurantes e andavam ao volante de carros
topo de gama e em que os apoderados estavam bem vestidos na trincheira. Há
toureiros que desaparecem e de que ninguém sente a falta - mas Salgueiro fez falta
à temporada de 2014. Espera-se que encontre em 2015 as condições que lhe fazem
falta para regressar às arenas - porque a Festa precisa de toureiros como ele!
A "BOMBA SOMMER" - Estavam todas as almas calmas e sem qualquer sobressalto
até que o ganadero e antigo cavaleiro José Luis Sommer d'Andrade (à esquerda, na
foto, com Emídio Pinto) deu uma bombástica entrevista ao site "naturales",
disparando em todas as direcções e contra tudo o que mexia. Ia caindo o Carmo e a
Trindade e o que mais houvesse para tombar. Os toureiros ameaçaram boicotar a
sua famosa e prestigiada ganadaria, mas depois tudo ficou como dantes. E a
realidade é que Sommer disse mesmo aquilo que era preciso dizer. Por outras
palavras, deu um murro na mesa e fez tremer os "instalados" - mas só falou verdade!
A Festa só está como está porque os que cá estão o permitem
O TOIRO DO ANO - Embora pouco cotada e sem aparição nas grandes corridas e
nas principais praças, a ganadaria de José Palha deu que falar em 2014 pelo famoso
toiro que lidou em Agosto na primeira corrida da Feira de Alcochete e que todos
consideraram o toiro da temporada. Ganhou os prémios de "bravura" e de
"apresentação" - e ganhou, sobretudo, a notoriedade que tardava 
DESAIRE NA MOITA - O empresário João Pedro Bolota
perdeu em 2015 aquele que fora em anos anteriores o
seu maior trunfo (e o seu maior triunfo) - a exclusividade
da contratação de Diego Ventura. Deixou de ser "o
empresário das praças cheias"
. Os 50 anos da Monumental
de Santarém passaram sem pena nem glória e a Feira da
Moita em Setembro, onde se estreou em parceria com
Possidónio Matias (foto) foi o maior desaire dos últimos
anos. Mesmo assim, não perdeu o ânimo e, como nos
tempos de valente forcado, prosseguiu de cabeça levantada
30 ANOS IGUAL A SI PRÓPRIO - Rui Salvador assinalou
três décadas de alternativa e teve o apogeu na sua terra,
Tomar, onde em Agosto lidou seis toiros e saíu em ombros.
É um caso na História do Toureio Equestre. Conhecido como
o cavaleiro dos "ferros impossíveis", mantém há 30 anos um
inalterável estatuto de primeiríssima Figura, sempre igual a si
próprio e sem nunca imitar ninguém, jogando a vida todos os
dias com inegável valor e uma raça "do outro mundo".
Parabéns a você nesta data feliz!
AS REVELAÇÔES DO ANO - Miguel Moura e os praticantes Luis Rouxinol Júnior
e Mara Pimenta (fotos de cima) foram as grandes revelações de 2014, se bem que o
maior destaque, sobretudo pela brilhante temporada em Espanha, seja o do
primeiro. Miguel Moura recebeu a alternativa em Julho no Campo Pequeno e
terminou o ano com um apoteótico triunfo na mesma praça na corrida de fecho
da época, aumentando a expectativa para 2015 - que deverá ser o seu ano de
absoluta confirmação em Portugal e Espanha
FORCADO AZARADO - Francisco Maria Borges, um dos mais sólidos elementos
dos Amadores de Montemor, foi o forcado mais azarado do ano. Em Julho no Campo
Pequeno, na Corrida TV, ficou inanimado na arena (na foto, socorrido por Pedro
Maria Gomes, cabo dos Amadores de Lisboa, grupo que repartia cartel com os
montemorenses nessa noite) e dois meses depois sofreu gravíssimo acidente em
Montemor, de que resultou uma grave lesão no fígado que provocou duas operações
e o manteve várias semanas internado no hospital. Um ano antes, fora esfaqueado
durante a rixa em Alcácer em que perdeu a vida o cabo do grupo e seu amigo José
Maria Cortes. Que 2015 seja um ano menos problemático para o valente Francisco!
75 ANOS DE GLÓRIA - Facto marcante nesta temporada de 2014 foi a comemoração
dos 75 anos da fundação do glorioso Grupo de Forcados Amadores de Montemor,
assinalada com sonantes triunfos e memoráveis pegas em quase todas as praças
do país e com festejo solene (foto) na tradicional corrida de Setembro em Montemor
ESCÂNDALO NÃO ESCLARECIDO - O Grupo de Forcados Amadores do Ribatejo
foi em 2014 o que participou em maior número de espectáculos na temporada
nacional. Um feito que não agradou aos chamados "grupos da elite" e que terá
motivado as alegadas pressões que levaram à saída do seu cabo, o consagrado
e grande forcado João Machacaz - que se "despediu" no final da temporada, vítima
de um autêntico golpe palaciano que ainda está por esclarecer. Como era de prever
(era?...) a elitista Associação Nacional de Grupos de Forcados manteve sobre o caso
um comprometedor silêncio...
OS AUSENTES - Há razões que a própria razão não consegue explicar. Apesar
de terem sido os grandes triunfadores da temporada anterior, João Moura Caetano
e João Ribeiro Telles Júnior desapareceram do mapa em 2014. Pouco tourearam e
quando o fizeram foi em praças de menor importância. Nem um nem outro pisaram
esta temporada a arena do Campo Pequeno. Caetano não chegou a ser contactado
para a primeira fase da época lisboeta. Telles não quis baixar um cêntimo dos 10 mil
euros que exigiu para que o público do Campo Pequeno o visse. E assim... 

Fotos Emílio de Jesus, M. Alvarenga, Estevão Nunes e D.R.