segunda-feira, 6 de abril de 2015

Luque, Branco e o novo Brito Paes foram os maiores em Serpa

8º festival dos Bombeiros de Serpa registou meia casa, a mais fraca entrada de
público da sua já longa realização
Naipe de consagrados bandarilheiros coadjuvou a lides no festival de Serpa
Daniel Luque lidou com saber, com arte e com bom gosto um notável novilho
da ganadaria espanhola de José Luis Pereda
João Maria Branco esforçou-se por se sobrepor ao novilho sem casta de Ascenção
Vaz e deixou antever grande emoção no mano-a-mano que vai disputar com
Moura Caetano a 2 de Maio na arena de Estremoz. Cavaleiro e quadra estão em
grande momento, como se viu no sábado em Serpa
Faltou toiro, mas houve toureiro: Salgueiro da Costa terminou a sua esforçada
lide com este grande ferro curto
Cinco pegas à primeira marcaram a brilhante intervenção dos grupos de forcados
de Cascais e de Beja. O quinto novilho lidado a cavalo (foto) cabia ao Grupo de
Cascais, que honrou as regras de boa camaradagem (nem sempre isso acontece)
e convidou quatro elementos dos Amadores de Beja para a executar. Na foto de
baixo, um grande momento de Joaquim Brito Paes, um menino-toureiro que
promete elevar ainda mais alto o nome histórico de uma respeitada dinastia


Miguel Alvarenga - Páscoa é tempo de festejar com a Família e esse terá sido nos últimos sete anos o motivo que me impediu de estar presente, apesar dos constantes convites de José Luis Pires (que agora finalmente tive o gosto de conhecer pessoalmente), dinâmico empreendedor e a verdadeira alma deste festejo, no tradicional festival que sábado de Ressureição se tem realizado, com grande sucesso, em Serpa, por obra e graça da aficion dos Bombeiros locais. Noutros tempos, recordo como em miúdo aguardava com ansiedade pela chegada deste fim-de-semana para inaugurar a temporada no Campo Pequeno, primeiro com meu Pai, depois acompanhado por meu Avô materno - dois grandes e bons aficionados, mas acima de tudo, dois Homens que me moldaram e marcaram a minha vida. Beijos, estejam onde estiverem!
Os tempos mudaram entretanto e o figurino da temporada tauromáquica alterou-se por completo. Agora, quando chega a Páscoa, já ficaram para trás diversos festejos realizados em outras praças. Este ano e embora sem ser no domingo, o Campo Pequeno retoma, felizmente, a tradição de abrir a sua temporada nesta época. Vai ser na quinta-feira.
Sábado passado, a tradição cumpriu-se pelo oitavo ano consecutivo em Serpa e eu fui pela primeira vez, no caminho para Lisboa e após uns curtos dias a carregar baterias no reino dos Algarves. Fiquei fã, sobretudo pelo esforço e pelo empreendimento desta simpática e aficionada organização dos "Soldados da Paz" (que apoio desde o primeiro momento) e prometo voltar. Houve a lamentar a realização (com que intuitos?, volto a indagar...) de outro festejo no mesmo dia e à mesma hora em Granja, desrespeitando o esforço, o empenho, mas sobretudo a tradição que é esta data usual dos Bombeiros de Serpa. Essa má intenção de quem levou a efeito o festejo na Granja terá desviado alguns aficionados das bancadas da desmontável em Serpa, que registou a mais fraca presença de público dos últimos sete anos, muito embora tivesse registado meia casa, com a sombra praticamente preenchida e o sol a meio gás. Dia de calor, mas sem o ser em demasia. Ambiente enorme, muita gente importante do mundo do toiro e um cartel montado com bom gosto e aficion, onde os maiores atractivos eram a presença de quatro jovens cavaleiros nacionais e do matador espanhol Daniel Luque, um valor que desponta em força e que promete "explodir" nesta temporada em que estará duas tardes em Las Ventas pela Isidrada. Apesar de tourear no dia seguinte em Arles (França), Daniel Luque honrou a aficion portuguesa com a sua grata presença em Serpa, onde deixou o perfume da sua imensa arte com o capote e a muleta, diante de um colaborante e bom novilho de Pereda, o segundo da tarde, que logo de seguida se pôs ao caminho, rumo ao importante compromisso que tinha em terras francesas. Deu aplauda e compassada volta à arena em Serpa, marcando a tarde com pinceladas de excelente nota e o brilho usual com que nuestros hermanos marcam a diferença no que ao toureio a pé diz respeito.
Não lhe ficou muito atrás o veterano matador Juan Pedro Galán, presença já habitual neste festejo dos Bombeiros de Serpa. Lidou também um bom novilho de José Luis Pereda e mostrou que continua em forma, apesar de já quase não tourear no seu país.
A abrir o festival, bem dirigido por Agostinho Borges e depois de nas cortesias ter sido guardado um minuto de silêncio em memória de Filipe Garcia, forcado do grupo de Moura que faleceu na semana passada em acidente de automóvel, actuou o cavaleiro Manuel Lupi, que rubricou agradável faena, destacando-se nos curtos, diante de um novilho cumpridor da ganadaria Varela Crujo. Vimos um Lupi de novo com a moral em alta e disposto a prosseguir uma caminhada que tem tido altos e baixos, mas que promete, a atestar pela boa forma que demonstrou no sábado, estabilizar de uma vez por todas.
Depois de toda a polémica que o rodeou na fase final da temporada passada e depois de ter comprovado a excelente forma da sua quadra, dias antes na Herdade da Madalena, era grande a expectativa em torno da primeira actuação de 2015 do jovem João Maria Branco.
E se o novilho de Ascenção Vaz, mansote e feio de cara, tardo na investida e sem vontade alguma de se empregar, pouco ajudou, a verdade é que Branco esteve com ganas, com vontade, com imenso querer e com atitude, que é coisa que nem sempre sobra aos toureiros.
Utilizando os seus craques, demonstrando que queria e que pode, João Maria Branco brilhou sobretudo com o "Da Vinci" (Lima Duarte), pisando terrenos de compromisso, provocando o oponente, reunindo com acerto e deixando ferros com alguma emoção numa lide em que a emoção escasseava, por falta de toiro, ainda e sempre, o factor primordial de qualquer espectáculo taurino. Deu aplaudida volta e o público reconheceu a sua entrega e o seu esforçado labor para agradar. Ficou um cheirinho de maior expectativa para o confronto que vai ter dia 2 de Maio em Estremoz no anunciado mano-a-mano com Moura Caetano.
João Salgueiro da Costa também teve pela frente outro novilho sem raça de Ascenção Vaz que não permitiu os habituais e explosivos momentos de raça de que é capaz. Como Branco, também o jovem cavaleiro de Valada evidenciou querer e vontade, faltando-lhe contudo a matéria prima para o êxito. Foi de menos a mais e terminou com dois bons curtos onde sobrou garra e faltou toiro...
Depois de uma desenvolta actuação do rejoneador espanhol José Luis Pereda Jr., bem montado, frente a um exemplar da ganadaria de seu pai, onde nem faltou um cantor de flamenco (o mais aplaudido da tarde!) a animar a lide, chegou à praça o jovem Joaquim Brito Paes para lidar um novilho-toiro de muito boa nota da ganadaria de sua família. E foi a grande surpresa de Serpa. Nunca o tinha visto (começou no ano passado) e aplaudo a sua grande raça, a sua ousadia e a sua facilidade de chegar ao público.
De geração em geração, os Brito Paes têm surpreendido pela positiva e a casta do jovem Joaquim, toureiro com cara de menino e coração de gigante, promete que vai dar que falar.
Esteve bem nos compridos e subiu o tom da sua actuação nos curtos, o primeiro foi de assombro, em terrenos de grande compromisso, a sesgo, demonstrando que algo vai ser diferente com a chegada do novo Brito Paes. Seguiram-se outros ferros de muito boa nota e a que imprimiu sempre grande verdade e emoção no momento de reunir. Sabe bem o que faz e o que quer. Vai longe. Temos toureiro!
O festival terminou, depois de sete toureiros, com a lide de um novilho de Pereda pelo matador sevilhano (de La Algaba) Manuel Carbonero, que já intervira com arte num quite de capote no novilho de Galán. Extra-festival, uma actuação marcada por pinceladas de bom toureio na muleta de um diestro de fino recorte.
Prestou provas para bandarilheiro o jovem Francisco Marques, numa tarde em que há a destacar a intervenção de todos os peões de brega.
A terminar, referência para a brilhante intervenção dos grupos de forcados de Cascais e de Beja, com cinco rijas pegas realizadas ao primeiro intento. Foram caras pelos Amadores de Cascais os forcados António Frade, Luis  Barbosa e João Sepúlveda, este último numa pega em que também participaram, como mandam as regras da boa camaradagem, quatro elementos do grupo de Beja; pelos Amadores de Beja, foram solistas Miguel Sampaio e Diogo Morgado.
E venha o 9º festival dos Bombeiros de Serpa!

Não perca, hoje: as grandes foto-reportagens de Emílio de Jesus e Maria João Mil-Homens. Os melhores momentos do festival de Serpa e o registo de todos os Famosos que ali marcaram presença.

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com