8º festival dos Bombeiros de Serpa registou meia casa, a mais fraca entrada de público da sua já longa realização |
Naipe de consagrados bandarilheiros coadjuvou a lides no festival de Serpa |
Daniel Luque lidou com saber, com arte e com bom gosto um notável novilho da ganadaria espanhola de José Luis Pereda |
Faltou toiro, mas houve toureiro: Salgueiro da Costa terminou a sua esforçada lide com este grande ferro curto |
Miguel Alvarenga - Páscoa é tempo de
festejar com a Família e esse terá sido nos últimos sete anos o motivo que me
impediu de estar presente, apesar dos constantes convites de José Luis Pires
(que agora finalmente tive o gosto de conhecer pessoalmente), dinâmico
empreendedor e a verdadeira alma deste festejo, no tradicional festival que
sábado de Ressureição se tem realizado, com grande sucesso, em Serpa, por obra
e graça da aficion dos Bombeiros locais. Noutros tempos, recordo como em miúdo
aguardava com ansiedade pela chegada deste fim-de-semana para inaugurar a
temporada no Campo Pequeno, primeiro com meu Pai, depois acompanhado por meu
Avô materno - dois grandes e bons aficionados, mas acima de tudo, dois Homens
que me moldaram e marcaram a minha vida. Beijos, estejam onde estiverem!
Os tempos mudaram entretanto e o
figurino da temporada tauromáquica alterou-se por completo. Agora, quando chega
a Páscoa, já ficaram para trás diversos festejos realizados em outras praças.
Este ano e embora sem ser no domingo, o Campo Pequeno retoma, felizmente, a
tradição de abrir a sua temporada nesta época. Vai ser na quinta-feira.
Sábado passado, a tradição cumpriu-se
pelo oitavo ano consecutivo em Serpa e eu fui pela primeira vez, no caminho
para Lisboa e após uns curtos dias a carregar baterias no reino dos Algarves.
Fiquei fã, sobretudo pelo esforço e pelo empreendimento desta simpática e
aficionada organização dos "Soldados da Paz" (que apoio desde o
primeiro momento) e prometo voltar. Houve a lamentar a realização (com que
intuitos?, volto a indagar...) de outro festejo no mesmo dia e à mesma hora em
Granja, desrespeitando o esforço, o empenho, mas sobretudo a tradição que é
esta data usual dos Bombeiros de Serpa. Essa má intenção de quem levou a efeito o
festejo na Granja terá desviado alguns aficionados das bancadas da desmontável
em Serpa, que registou a mais fraca presença de público dos últimos sete anos,
muito embora tivesse registado meia casa, com a sombra praticamente preenchida
e o sol a meio gás. Dia de calor, mas sem o ser em demasia. Ambiente enorme,
muita gente importante do mundo do toiro e um cartel montado com bom gosto e
aficion, onde os maiores atractivos eram a presença de quatro jovens cavaleiros
nacionais e do matador espanhol Daniel Luque, um valor que desponta em força e
que promete "explodir" nesta temporada em que estará duas tardes em
Las Ventas pela Isidrada. Apesar de tourear no dia seguinte em Arles (França),
Daniel Luque honrou a aficion portuguesa com a sua grata presença em Serpa,
onde deixou o perfume da sua imensa arte com o capote e a muleta, diante de um
colaborante e bom novilho de Pereda, o segundo da tarde, que logo de seguida se
pôs ao caminho, rumo ao importante compromisso que tinha em terras francesas.
Deu aplauda e compassada volta à arena em Serpa, marcando a tarde com
pinceladas de excelente nota e o brilho usual com que nuestros hermanos marcam
a diferença no que ao toureio a pé diz respeito.
Não lhe ficou muito atrás o veterano
matador Juan Pedro Galán, presença já habitual neste festejo dos Bombeiros de
Serpa. Lidou também um bom novilho de José Luis Pereda e mostrou que continua
em forma, apesar de já quase não tourear no seu país.
A abrir o festival, bem dirigido por
Agostinho Borges e depois de nas cortesias ter sido guardado um minuto de
silêncio em memória de Filipe Garcia, forcado do grupo de Moura que faleceu na
semana passada em acidente de automóvel, actuou o cavaleiro Manuel Lupi, que
rubricou agradável faena, destacando-se nos curtos, diante de um novilho
cumpridor da ganadaria Varela Crujo. Vimos um Lupi de novo com a moral em alta
e disposto a prosseguir uma caminhada que tem tido altos e baixos, mas que
promete, a atestar pela boa forma que demonstrou no sábado, estabilizar de uma
vez por todas.
Depois de toda a polémica que o rodeou
na fase final da temporada passada e depois de ter comprovado a excelente forma
da sua quadra, dias antes na Herdade da Madalena, era grande a expectativa em
torno da primeira actuação de 2015 do jovem João Maria Branco.
E se o novilho de Ascenção Vaz, mansote
e feio de cara, tardo na investida e sem vontade alguma de se empregar, pouco
ajudou, a verdade é que Branco esteve com ganas, com vontade, com imenso querer
e com atitude, que é coisa que nem sempre sobra aos toureiros.
Utilizando os seus craques, demonstrando
que queria e que pode, João Maria Branco brilhou sobretudo com o "Da
Vinci" (Lima Duarte), pisando terrenos de compromisso, provocando o
oponente, reunindo com acerto e deixando ferros com alguma emoção numa lide em
que a emoção escasseava, por falta de toiro, ainda e sempre, o factor
primordial de qualquer espectáculo taurino. Deu aplaudida volta e o público
reconheceu a sua entrega e o seu esforçado labor para agradar. Ficou um
cheirinho de maior expectativa para o confronto que vai ter dia 2 de Maio em
Estremoz no anunciado mano-a-mano com Moura Caetano.
João Salgueiro da Costa também teve pela
frente outro novilho sem raça de Ascenção Vaz que não permitiu os habituais e
explosivos momentos de raça de que é capaz. Como Branco, também o jovem
cavaleiro de Valada evidenciou querer e vontade, faltando-lhe contudo a matéria
prima para o êxito. Foi de menos a mais e terminou com dois bons curtos onde
sobrou garra e faltou toiro...
Depois de uma desenvolta actuação do
rejoneador espanhol José Luis Pereda Jr., bem montado, frente a um exemplar da
ganadaria de seu pai, onde nem faltou um cantor de flamenco (o mais aplaudido
da tarde!) a animar a lide, chegou à praça o jovem Joaquim Brito Paes para
lidar um novilho-toiro de muito boa nota da ganadaria de sua família. E foi a
grande surpresa de Serpa. Nunca o tinha visto (começou no ano passado) e
aplaudo a sua grande raça, a sua ousadia e a sua facilidade de chegar ao
público.
De geração em geração, os Brito Paes têm
surpreendido pela positiva e a casta do jovem Joaquim, toureiro com cara de
menino e coração de gigante, promete que vai dar que falar.
Esteve bem nos compridos e subiu o tom
da sua actuação nos curtos, o primeiro foi de assombro, em terrenos de grande
compromisso, a sesgo, demonstrando que algo vai ser diferente com a chegada do
novo Brito Paes. Seguiram-se outros ferros de muito boa nota e a que imprimiu
sempre grande verdade e emoção no momento de reunir. Sabe bem o que faz e o que
quer. Vai longe. Temos toureiro!
O festival terminou, depois de sete toureiros,
com a lide de um novilho de Pereda pelo matador sevilhano (de La Algaba) Manuel Carbonero, que
já intervira com arte num quite de capote no novilho de Galán. Extra-festival,
uma actuação marcada por pinceladas de bom toureio na muleta de um diestro de
fino recorte.
Prestou provas para bandarilheiro o
jovem Francisco Marques, numa tarde em que há a destacar a intervenção de todos
os peões de brega.
A terminar, referência para a brilhante
intervenção dos grupos de forcados de Cascais e de Beja, com cinco rijas pegas
realizadas ao primeiro intento. Foram caras pelos Amadores de Cascais os
forcados António Frade, Luis
Barbosa e João Sepúlveda, este último numa pega em que também
participaram, como mandam as regras da boa camaradagem, quatro elementos do
grupo de Beja; pelos Amadores de Beja, foram solistas Miguel Sampaio e Diogo
Morgado.
E venha o 9º festival dos Bombeiros de
Serpa!
Não perca, hoje: as grandes foto-reportagens de Emílio de Jesus e Maria João Mil-Homens. Os melhores momentos do festival de Serpa e o registo de todos os Famosos que ali marcaram presença.
Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com