sexta-feira, 15 de maio de 2015

Na grande noite dos Grave, Manuel foi a estrela dos Telles!

Após a fantástica lide do quinto toiro, o ganadeiro deu volta à praça acompanhado
por Manuel Telles Bastos e o forcado Pedro Castelo. Outra vez um grande triunfo
em Lisboa da consagrada ganadaria Murteira Grave
Manuel Telles Bastos foi ontem em Lisboa um verdadeiro e empolgante
compêndio da arte de bem tourear a cavalo. Impôs-se e consagrou-se em
definitivo como jovem maestro dos tempos modernos
Eternamente fiel à mais clássica interpretação do toureio de verdade, António
Telles lidou ontem muito bem os dois belíssimos Graves que lhe tocaram
No seu segundo toiro, João Telles "parou a praça" (e, se calhar, até o trânsito
na rua...) com este ferro empolgante!




Miguel Alvarenga - Como as coisas estão hoje em dia, onde os triunfos já não valem o que valiam noutros tempos e os contratos se ganham mais à baila de trocas que propriamente de valor, não sei se lhe vai servir de alguma coisa, mas a verdade é que Manuel Ribeiro Telles Bastos saíu ontem no Campo Pequeno catalogado, agora sim e de forma inequívoca, como jovem maestro do toureio a cavalo, tendo sido a estrela mais luminosa da colorida e triunfal noite da ilustre Família/Dinastia Ribeiro Telles.
Há que destacar três grandes triunfadores: os Ribeiro Telles, com o já referido destaque maior para o Manuel, os magníficos toiros de Murteira Grave e o público. O público que encheu o Campo Pequeno, sem esgotar, manifestando assim o carinho, o apreço e o respeito que nutre pela Família Ribeiro Telles (ontem não havia mais toureiros no cartel, quem ali foi, foi por gostar dos Telles e para os apoiar), uma gente-outra num mundo hoje tão conturbado e tão invadido por gentinha de outra raça.
Há que destacar ainda a primeira grande ovação da noite para a presença, embora doente e debilitado, do grande Maestro António Badajoz - ainda e sempre, o maior bandarilheiro da nossa História - que esteve na arena para receber o Galardão "Prestígio" com que no ano passado foi distinguido pela Administração do Campo Pequeno, assistindo depois à corrida num camarote, na companhia de seu irmão Manuel (que parelha, meu Deus!), onde foi brindado por um forcado de Coruche, lamentando-se que os Telles disso se tenham esquecido ao longo da noite (foi a única falha deles)...
Houve ambiente, houve carisma, houve emoção, houve toiros de verdade e toureiros de imenso brio que puderam com eles. A noite de ontem teve história e voltou a pôr o Campo Pequeno no lugar, "en su sítio", depois de algumas trapalhadas (evitáveis) que marcaram, pela negativa, a noite de inauguração da temporada. Vieram os Telles e tudo voltou ao seu lugar. Lisboa em grande, outra vez!
Sem ter que provar absolutamente nada a ninguém, todo o seu glorioso historial fala por si, o prestígio da ganadaria Murteira Grave saíu ontem ainda mais reforçado do Campo Pequeno, com um triunfo absoluto e sério.
Exceptuando os segundo (o mais reservado e o único que procurou algum refúgio em tábuas) e terceiro (a acusar alguma mansidão), os toiros foram de um comportamento acima da média, com cara e boa apresentação, sem peso excessivo, com grande e alegre mobilidade. Arrancaram-se de todos os terrenos, transmitiram emoção e seriedade, pediram contas, trouxeram verdade ao Campo Pequeno. O quinto foi de bandeira e proporcionou a Manuel Telles Bastos a actuação da sua vida. Muito justamente, o director de corrida Tiago Tavares acenou o lenço azul chamando o ganadeiro à praça, que deu aplaudida volta com o cavaleiro e o forcado. Joaquim Grave voltaria ainda à arena no final da corrida para receber mais uma merecida e calorosa ovação juntamente com os artistas - o que, só por si, fala do êxito que ontem se viveu na primeira praça do país.
Não me canso de dizer que com toiros destes, a Festa pode um dia voltar ao seu lugar. Os Graves de ontem, como os Teixeira em Montemor e em Vila Franca, para citar apenas estes, que felizmente outros casos se têm também registado, marcaram a diferença e deram o mote para o que pode - e deve - ser o reencontro da nossa tauromaquia com a verdade, com a seriedade, com a emoção, enfim, com a sua mais pura essência que foi sempre a sua razão de ser - e que ao longo dos anos, tantas almas apaixonou.
Manuel Telles Bastos foi, repito, a grande estrela dos três Telles: vinha ontem decidido a consagrar-se e demonstrou-o no início das duas lides, dispensando capotes, entrando recto e com verdade, a arrepiar, cravando os primeiros compridos, nos dois toiros, em sortes de poder a poder que puseram logo o público de pé.
Teve dois toiros distintos e em ambos brilhou, com serenidade, tranquilo, senhor de si, fazendo tudo bem feito. O seu primeiro procurava refúgio em tábuas e Manuel lidou-o na perfeição, pausadamente, sem tempos mortos, com saber, com cabeça e com uma tremenda classe, aquela que distingue os eleitos, os predestinados, os toureiros grandes.
O seu segundo, quinto da noite, era um toiro de bandeira e Manuel raiou a perfeição numa lide que mais parecia um compêndio. Bregou com brilhantismo e saber, deu ao toiro a prioridade toda, citou de largo, reuniu com emoção e com verdade, cravando de alto a baixo, como mandam as regras e tantos por aí se esqueceram. Pode ter sido, sei que é muito cedo ainda, arrisco, a grande actuação da temporada em Lisboa. Mas se melhores vierem, esta, pelo menos, ninguém vai mais esquecer. O público pediu com insistência que desse uma segunda volta à arena, mas Manuel recusou, humildemente e a sorrir. Em vez dessa volta, escutou a grande ovação da corrida.
Seu tio António, que é também a sua maior fonte de inspiração no classicismo que Manuel tão bem interpreta, sem embalar em modernices, teve ontem dois toiros fantásticos e lidou-os como só ele sabe, com a maestria que o distingue. Pode ter havido alguma velocidade a mais nos compridos, mas tudo amainou na hora dos curtos, aproveitando as excelentes investidas dos dois toiros, fazendo alarde da sua eterna e completa fidelidade ao toureio antigo e de verdade. Se houvesse que destacar uma das suas duas actuações, eu preferia a segunda, mais vibrante e com mais entusiasmo da sua parte.
João Ribeiro Telles não toureara em Lisboa no ano passado e marcou o regresso com uma actuação importante no último toiro da corrida, onde cravou um ferro curto de verdadeira antologia, com batida ao piton contrário e entrada recta e emotiva pelos terrenos da verdade, conquistando depois o público - ainda mais - com os dois "violinos" com que encerrou esta sua grande actuação.
No primeiro toiro que enfrentou, mansote, fez tudo para agradar, mas não alcançou os objectivos desejados, apesar de se ter destacado na brega e na forma como lidou.
A noite não foi famosa para os dois grupos de forcados, havendo apenas a destacar duas grandes pegas de parte a parte, as últimas, por Pedro Castelo (Amadores de Vila Franca) e João Peseiro (Amadores de Coruche), este na melhor pega da corrida.
O cabo vilafranquense Ricardo Castelo pegou o primeiro toiro à segunda, com garbo e valentia; e o enorme Ricardo Patusco só concretizou à terceira, e com as ajudas carregadas, a pega do terceiro toiro da noite, depois de o toiro ter baixado demasiado a cabeça, atingindo-o no joelho, no primeiro intento. Na segunda tentativa, foi literalmente derrotado com violência.
Pelos de Coruche, a primeira pega foi executada à segunda por José Marques e a segunda, à primeira, por Pedro Galamba, sem o toiro fazer mal.
Houve bons bandarilheiros em praça, com destaque para João Ribeiro "Curro", António Telles Bastos, Nuno Oliveira, João Curto, Duarte Alegrete e João "Belmonte" - mas, há que o dizer, houve "capotazos" a mais, desnecessários muitas vezes.
Direcção tranquila e calma, muito acertada, de Tiago Tavares, numa corrida que deixou história e que teve nas bancadas a presença de inúmeras figuras conhecidas convidadas da revista "Vidas" do jornal "Correio da Manhã".
Triunfo importante e marcante da ganadaria Murteira Grave, a consagração absoluta e definitiva de Manuel Telles Bastos como jovem maestro do toureio a cavalo (calculo quanto satisfeito não estará Mestre David, a quem já certamente contaram ao pormenor a noite de ontem!) e a confirmação de António e João Ribeiro Telles como toureiros de outra raça, de outra fibra e de um tempo-outro, que continuam a ter do nosso público o carinho, o respeito e o apoio por todo um historial familiar que é único em Portugal. Venham mais destes! Como muitas vezes me dizia o saudoso Bacatum, ainda há lá em casa muitos Telles para serem toureiros!

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com