Esta é a primeira parte da grande
entrevista que fiz a Paulo Caetano, a poucos dias de voltar a tourear em
Portalegre (4 de Julho) para comemorar os seus 35 anos de alternativa - e de
que se publicará a segunda parte ao longo da próxima semana. Por ele próprio e
através das suas palavras, o que aqui fica nesta conversa é o retrato de um
grande toureiro que ao longo de duas décadas esteve entre os primeiros, foi por
diversas vezes proclamado triunfador de várias temporadas e travou nas arenas
recordadas competições com todas as grandes figuras do seu tempo. Paulo Caetano
é uma referência do toureio a cavalo - e a sua trajectória uma história. Que
aqui nos conta e aqui nos recorda.
Entrevista de Miguel Alvarenga
- Que recordações, Paulo, daquele dia 15
de Junho, há 35 anos, quando tomaste a alternativa em Santarém?
- Do dia da minha alternativa tenho
tantas e tão belas recordações. Lembro-me da Monumental "Celestino
Graça" completamente esgotada horas antes do início do espectáculo. Nas ruas,
aquele ambiente único das grandes corridas, expectativa e entusiasmo ao rubro.
Recordo o António Badajoz ao comando das operações, recordo a força que me
deram os meus pais e a minha irmã, recordo o apoio dos meus amigos de Santarém,
do Francisco Morgado, do Celso dos Santos, do Edgar Nunes, do Joaquim Nunes, do
José Brás, recordo a confiança que sentia ao tourear ao lado do Zé João Zoio,
meu padrinho de alternativa, um homem e um toureiro de elite. Recordo a
responsabilidade de um cartel de figuras: Zoio, Manuel Jorge de Oliveira,
ganadaria Palha, Forcados Amadores de Santarém e Montemor numa Corrida RTP,
corridas que o João Moreira de Almeida tinha transformado no mais importante
acontecimento de cada temporada.
Recordo a presença de Sá Carneiro, de
artistas das mais variadas áreas e da nata da afición portuguesa. Recordo que
foi um grande momento mas, acima de tudo, que foi aquele que abriu a
possibilidade de viver muitos outros que fazem de mim um homem profundamente
grato por ter tido a oportunidade de fazer aquilo de que gosta.
- Alcançaste em 35 anos todas as metas a
que te propunhas? O que ficou por fazer?
- Na carreira de um toureiro, o sonho de
glória, marca a partida mas as metas não se determinam de forma estanque e
calculista. Vão surgindo a cada um dos degraus de uma longa escadaria. No meu
caso, fui alcançando objetivos que me pareciam no início inalcançáveis. Depois,
uma vez atingida cada uma das etapas, a minha ambição profissional fazia-me
sonhar com um novo salto e a minha responsabilidade profissional exigia-me mais
e mais trabalho e assim, assumindo riscos, aprendendo permanentemente,
treinando sem parar, lá fui chegando.
Eu sou uma pessoa inquieta e
intrinsecamente perfeccionista. Quando olho para trás, tenho a certeza de que
poderia ter feito melhor e ter ido mais longe. O que me deixa feliz é ter a
consciência de que sempre encarei esta arte, que é a minha profissão, com
seriedade e dedicação. Dei o melhor de mim, trabalhei sempre incessantemente e
procurei fazer o melhor que podia. Respeitei os meus colegas e dediquei-me
totalmente a uma paixão da qual consegui ganhar a vida. Sinto-me grato e feliz
por isso. Neste momento, não procuro superações, procuro honrar o meu trabalho
aperfeiçoando o meu conhecimento e a minha técnica, pois é essa a minha principal
motivação, tenho os pés bem assentes na terra.
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