Sob o título "Toque a rebate, em defesa da cultura
tauromáquica e da festa de toiros", o sociólogo e grande aficionado vilafranquense Luis Capucha (foto) publicou ontem, 2 de Dezembro, no blog "café-vila franca" este importante texto, um verdadeiro aviso à navegação para os perigos que espreitam a Tauromaquia nos próximos tempos. Infelizmente, nem a ProToiro, nem a (dita) prensa taurina, certamente entretidos com outras historietas, deram ainda a devida importância ao alerta de Capucha. Nós fazê-lo, reproduzindo-o aqui, com a devida vénia:
Hoje, dia 2 de dezembro, o primeiro
governo de coligação entre o PS e a sua esquerda da era constitucional da
democracia portuguesa apresentou-se no Parlamento para discutir o seu programa.
Um dia destes deixarei aqui as minhas notas sobre o que se passou no plano
político em Portugal desde 2011 e a minha opinião sobre os notáveis
acontecimentos que se verificaram. Mas hoje resolvi escrever sobre um assunto
urgente.
Em resposta a uma interpelação do
Deputado do PAN, o Primeiro-Ministro António Costa respondeu que discordava da
fixação de uma regra nacional para o assunto, preferindo uma solução na qual
devem ser os municípios a decidir o fim das touradas. É uma declaração
ameaçadora.
No dia em que, em entrevista a um canal
de televisão, A. Costa admitiu que poderia alargar as negociações que conduzia
com os partidos à esquerda do PS até ao PAN, afirmei no Facebook que deixava de
pagar as quotas e, portanto, de ser militante do PS. Não admito que um partido
de tradição humanista negoceie com um partido misógeno, animalista, que coloca
aqueles que diz serem os problemas dos animais acima dos problemas das pessoas
e que possui uma visão do mundo que seria legítima, caso não a procurasse
impôr, seja por que meio for, de modo totalitário, aos outros.
Alguns amigos e amigas meus/minhas
aficionados e ingénuos têm-me dito que não devemos prestar muita atenção aos
que pretendem abolir a festa de toiros, porque são apenas um bando que procura
o mero protagonismo e as sua bravatas estarão destinadas ao fracasso. Tenho insistido,
por escrito e em intervenções diversas, que essa posição esquece a natureza dos
atuais animalistas e das forças internacionais que os suportam, em defesa dos
seus negócios e da dominação cultural, impondo uma maneira única (e nada
natural) de olhar o mundo e a relação do homem com a natureza.
Hoje creio que ficou claro que o impacto
da sua ação pode ser mais pernicioso do que muitos imaginam. É claro que os
mais ingénuos julgarão as palavras de A. Costa como julgaram sempre a atuação
dos políticos nas últimas décadas - na verdade, desde a proibição dos toiros de
morte pelo governo fascista. Sempre evitaram o tema, receosos de desagradar ou
a gregos ou a troianos. A posição de A. Costa também tem um pouco desta
cobardia política: passar o assunto para os autarcas, sacudindo a água do
capote.
Mas há uma nuance que não se pode deixar
de notar: ele podia ter dito que "devem ser os municípios a decidir o que
fazer com as touradas". Mas não, a frase só aponta para o fim das
touradas. Isto faz toda a diferença. Nos municípios não se farão, então,
referendos sobre o desenvolvimento da festa, mas apenas sobre o seu fim?
Já muitas vezes defendi que uma solução
para a regulação da festa de toiros como a que existe em França, que deixa às
comunidades locais e aos seus agentes políticos essa regulação, poderia ser
útil em Portugal. Mas isso se, e apenas se, os municípios assumirem toda a
regulação da festa. Incluindo as modalidades que ela assume, desde as
tauromaquias populares às corridas integrais com toiros de morte. Mas não é
isso que A. Costa diz. Ele não diz que quer fazer aprovar no Parlamento uma Lei
que anule todas as anteriores e que transfira toda a regulação, mas toda mesmo,
para os municípios. O que quer dizer que continuaremos limitados, sem a corrida
integral e sem toiros em pontas, correndo ainda o risco de alguns municípios,
dirigidos por gente facciosa, poderem ficar privados das corridas que agora se
realizam no seu território. Seria um passo no sentido do tal fim, aparentemente
desejado, de todas as formas de touradas.
Acho que a declaração é suficientemente
grave e esclarecedora para que todos os setores taurinos e aficionados se
reunam com urgência para debater a situação e as medidas a tomar. E devem
exigir aos deputados que foram eleitos por círculos eleitorais onde predomina a
cultura tauromáquica, aos outros que se dizem aficionados e aos autarcas, que
se definam e digam de que lado estão. Nenhum deles pode ficar calado agora e
mais tarde vir procurar simpatias numa qualquer barreira numa das praças em que
às touradas não se ponha fim.
Este post é dedicado ao meu pai, Armando
Capucha, que hoje cumpriria o seu 92º aniversário se ainda estivesse entre nós
e que detestava políticos cínicos.
Foto D.R./@Luis Capucha/Facebook