terça-feira, 26 de abril de 2016

Renasce a paixão pela rivalidade Caetano/Moura: novo "Trio da Apoteose" esgotou Alter!

Nem o calor afastou público das bancadas. A praça de Alter esgotou ontem a
lotação para ver renascer o renovado e actualizado "Trio da Apoteose". Não era
assim tão difícil, afinal, encontrar a fórmula para voltar a encher as praças. Está de
parabéns o ousado empresário Jorge de Carvalho!
Primeiro com o "Xispa" e depois com o "Temperamento", João Moura Caetano
bordou o toureio com pormenores de apreciada arte e aplaudida maestria
Arte, garra e temple marcaram as duas grandes actuações de João Moura Júnior
na corrida de ontem em Alter. Melhor era impossível!
Miguel Moura esteve grande entre gigantes e garantiu um lugar de destaque no
novo "Trio da Apoteose". Contem com ele, que  vai dar brado em 2016! Em baixo,
João Moura Jr. e o forcado Bruno Palmeiro (Amadores de Montemor), justos
conquistadores dos troféus que estavam em disputa para a melhor actuação
e a melhor pega, ontem em Alter do Chão



Miguel Alvarenga - Sol, calor e moscas, um cartel ousado e competitivo, uma data tradicional, um ambiente "à antiga" fora da praça antes e depois do espectáculo e uma praça esgotada. Foi assim ontem em Alter do Chão. E assim dá gosto ir aos toiros, viver a festa como a vivemos ontem, uma corrida cheia de ritmo, sem tempos mortos, um intervalo rápido apenas para ajeitar o piso da arena, uma homenagem merecidíssima e nada maçadora, ao início, ao grande bandarilheiro Amâncio Grilo, que ali recebera há exactamente 50 anos a alternativa das mãos de António Gregório. Foram tudo exemplos de como as coisas devem ser feitas, sem demoras, sem longos palavreados que depois ninguém consegue entender (o som, aqui, era óptimo), com verdade, com seriedade e verticalismo. Cabe aqui uma palavra de louvor ao dinamismo e à coragem do empresário Jorge de Carvalho (um histórico da praça de Alter), que montou um elenco arrojado e baseado nas dinastias Caetano e Moura, sem dúvida alguma os nomes que, viu-se ontem, levam gente às praças no Alentejo - e não só.
Afinal, a fórmula para encher praças não era assim tão mágica como alguns pensavam. Como há trinta anos, o "derby" Caetano/Moura continua a fazer mover multidões. Praça esgotada ontem em Alter. A data, o cartel e o selo de seriedade da organização foram mais que suficientes para assegurar um sucesso que estava, à partida, anunciado. E ganho. Exemplar. Está aqui, mesmo para quem não saiba ou não queira vez, o novo Trio da Apoteose, em versão renovada e actualizada, para fazer mexer a Festa e voltar a encher as praças.
Anunciaram-se seis toiros de Proença, mas por fim três foram substituídos por outros tantos de Maria Guiomar Cortes de Moura (o segundo da ordem, um magnífico toiro de bandeira, o terceiro e o quarto). Pena que ao segundo não se tenha concedido a volta à arena a Armando João Moura, o representante da ganadaria. Teria sido mais que merecida.

Moura Caetano bordou o toureio em lides distintas

Com um toiro sério e complicado, cheio de sentido, com cinco anos, de Proença, João Moura Caetano abriu a corrida com uma portentosa lide baseada na cumplicidade de um cavalo histórico, o "Xispa", tendo ambos protagonizado momentos altíssimos de bom toureio - e também uma dramática queda provocada pela escorregadela do cavalo junto às tábuas, sendo o cavaleiro projectado de cabeça para dentro da trincheira. Felizmente ninguém se lesionou e cavaleiro e cavalo regressaram à luta para fechar a actuação com dois ferros extraordinários.
No segundo do seu lote, um toiro de sua avó, Guiomar Moura, mais colaborante, Moura Caetano bordou o toureio com o cavalo "Temperamento", animal elástico e de espectacular desempenho.
Foram grandes os momentos de templada brega, os pormenores de recorte artístico, os ferros de tremenda emoção. Caetano num momento alto - como altas têm sido as suas últimas temporadas. A prometer, uma vez mais, campanha marcante em 2016.

João Moura Jr. enorme e com novas estrelas

Depois de um primeiro triunfo no festival de Vila Viçosa, era muita a curiosidade de ver João Moura Júnior, sobretudo depois de ter sido o grande triunfador da última temporada e de se saber que vendeu recentemente três dos seus cavalos-craques à rejoneadora mexicana Mónica Serrano.
João compareceu em Alter moralizado e tranquilizou todos os seus adeptos: está outra vez montado e mais que montado para os grandes e importantes desafios que o esperam em 2016. Exibiu ontem novos craques e manteve com eles o seu tipo de toureio de raízes profundamente mouristas, baseado na artística concepção da nova maneira de lidar toiros a cavalo, onde se funde a arte com o risco e a emoção com o temple.
Esteve simplesmente enorme na lide do seu primeiro oponente, um toiro de bandeira de Guiomar Moura que lhe valeu a conquista, justa e merecida, do prémio para a melhor actuação da corrida, troféu que tem o nome do antigo cavaleiro D. José de Atayde.
No quinto da ordem, da ganadaria Proença, que pedia contas, Moura deu-as com o seu sorriso, fazendo parecer que era fácil todo o difícil do seu desempenho. Foi uma lide de alto profissionalismo e grande técnica, apenas quebrada por uma violenta colhida sem consequências. No final, dois palmitos em execução à usança espanhola e em círculo, que uns aplaudiram e outros não gostaram - mas tudo foi premiado com mais uma ovacionada volta à arena, a confirmar o grande momento que continua a atravessar.

Miguel Moura grande entre gigantes

Embora a jogar entre familiares, a verdade é que na arena não há primos nem irmãos, mas sim competidores e o jovem Miguel Moura ontem não se ficou atrás dos parceiros de cartel - antes pelo contrário, apertou-os, incomodou, fez uma vez mais uma declarada chamada de atenção para o futuro de sucesso que o espera e que já todos avistámos desde que deu nesta tarde os seus primeiros passos.
Lidou em primeiro lugar um toiro de Guiomar Moura e em último um de Proença, dois oponentes de características distintas a que o toureiro deu, com saber e já alguma experiência, as lides adequadas.
Está-lhe nas veias o sangue e o valor de uma casta única e por isso não é, nunca foi, de admirar que o mais jovem (por enquanto...) dos Mouras venha também a ser, à semelhança do pai e do irmão, um caso sério.
Miguel Moura esteve grande entre gigantes, grande na brega, grande no toureio, grande na forma como empolga e chega ao público, arriscando, pisando terrenos de compromisso, cravando com emoção. Um Moura é sempre um Moura...

Seis pegas à primeira

As pegas, como já aqui detalhadamente referimos, foram todas executadas com brilhantismo ao primeiro intento, o que valorizou a intervenção dos dois grupos de forcados, Montemor e Alter, e deu ritmo ao espectáculo - que se cumpriu em duas horas e meia.
Foram forcados da cara, pelos montemorenses, Tiago Telles de Carvalho, Bruno Palmeiro (vencedor do troféu para a melhor pega) e João da Câmara; pelo grupo da terra, pegaram Marco Pires, João Tita e José António.
Destaques na brega para o bom desempenho das três quadrilhas, com realce para Diogo Malafaia, Jorge Alegrias e Benito Moura, Pedro Paulino e Sérgio Santos "Parrita", João Ganhão e Nuno Boga.
A corrida contou com a honrosa presença do presidente da Câmara de Alter, Joviano Vitorino - e foi dirigida, com a habitual seriedade e competência, por Agostinho Borges (que até pôs em sentido os chatos dos vendedores de queijadas e bebidas, alguns dos quais se movimentaram durante as lides...), que esteve assessorado pelo médico veterinário Dr. José Guerra.
Ao início das cortesias guardou-se um minuto de silêncio em memória do ganadeiro Manuel Assunção Coimbra, falecido há dias. E antes de o espectáculo de iniciar, homenageou-se o grande bandarilheiro Amâncio Grilo. Nesta tarde, cumpria-se exactamente meio século da data da sua alternativa nesta mesma arena, em 25 de Abril de 1966. Cavaleiros e forcados brindaram-lhe as suas sortes. O público, que não esquece nunca os seus heróis, tributou-lhe carinhosa e respeitosa ovação.
Olé, compadre Amâncio!

Fotos José Diogo Faia