Miguel Alvarenga - Nunca mais nada vai ser igual depois da noite de sonho a que ontem se assistiu na praça do Campo Pequeno. Não fosse o futebol (odeio essa coisa, houve gritos na praça quando Portugal marcou golos...) e estava casa cheia. Mesmo assim, para quem vaticinava uma noite fraquita, Morante encheu três quartos fortes das bancadas. E passou-se o quê? Sei lá... Foram momentos que não se descrevem. Não acredito que alguém os consiga passar ao papel. O Campo Pequeno foi ontem o grande epicentro da Tauromaquia mundial. Estava na praça a fina-flor de Espanha, toda a prensa, vedetas das arenas como José Miguel Arroyo "Joselito", António Barrera, Cristina Sánchez, Jiménez Fortes, Jorge Manrique, sei lá...
Morante de la Puebla fez uma faena de sonho ao primeiro toiro, os dois seguintes não tinham um passe mas ele empenhou-se que nem um leão e no último aconteceu qualquer coisa de transcendente que não sei bem se é toureio, se é arte, se é temple, se é domínio, se é sabedoria e maestria plena, se é um conto de fadas, não sei como se pode chamar, mas é diferente, ninguém esquece mais. A cada passe a praça gritou olé. "El Cigala" interviu, mais as guitarras, nos momentos oportunos, a banda nunca chegou a tocar, o director de corrida Rogério Jóia foi impecável, estilo eles que se entendam, que cantem quando quiserem, ainda bateu palmas ao toureiro, tanta aficion, tão bom gosto a dirigir uma corrida.
Não esperem de mim uma crónica. Não sei o que iria escrever. Foi de vir as lágrimas aos olhos, de arrepiar a pele, de ficar de boca aberta a pensar "será verdade o que estou a ver, o que está a acontecer?".
A seguir foi ainda pior: jantar só para convidados especiais - onde Morante fez questão de me incluir - na "Mercearia", na praça. "El Cigala" voltou a cantar, todos os gitanos o fizeram, a fadista Ana Sofia Varela encantou nuestros hermanos com a sua voz, comeu-se e bebeu-se até de manhã, sai do Campo Pequeno já era de dia, seis em ponto, mas sóbrio... Daqui a nada rumo a Monforte, não consigo fazer tudo ao mesmo tempo. Amanhã hei-de voltar com mais calma à noite de Morante, coisa única. Ainda não acordei bem do sonho, acho. Foi uma loucura. Nada mais vai ser como dantes. A seguir vem Padilla. O Campo Pequeno ainda e sempre na rota das grandes Figuras. No centro de todas as atenções. Que toureiro, meu Deus. Que "Cigala". Que loucura de noite, a de ontem!
Fotos Emílio de Jesus e D.R.