terça-feira, 15 de novembro de 2016

Um artigo de opinião pertinente e importante de Francisco Borges


Afinal enganam quem!?

Francisco Borges

Toda a gente que me conhece sabe que sou um amante da “Arte de pegar Toiros”, defendendo intransigentemente as tradições e normas dos que a criaram mantendo-me no entanto sempre aberto à evolução que tem surgido e beneficiado em muito essa mesma “Arte”, não sou de forma nenhuma dos que digo que no meu tempo é que era, antes pelo contrário, defendo que hoje na generalidade se pega melhor, cumprem-se melhor os tempos da pega, porque a informação e a imagem fluem com muito mais facilidade dando por isso a possibilidade de quem não tem “Um Mestre”, possa através de imagens apreender muito mais facilmente a técnica daqueles que a executam na perfeição.
Mas o que me leva a escrever estas linhas é o facto de me encontrar muito desiludido com alguns Grupos e Forcados de elevada responsabilidade no nosso Panorama Taurino, saliente-se que não me refiro aos chamados Grupos pequenos, ou de segunda, como habitualmente são apelidados, porque esses raramente tenho oportunidade de os ver.
Bem! Indo directo ao assunto, aquilo que me preocupa é a forma quase irresponsável com que se dá uma pega por consumada, são inúmeras as vezes em que se verifica que quando o toiro é imobilizado pelo Grupo o Forcado da cara não se encontra acoplado à cara do toiro, ou seja, pode até estar agarrado ao toiro, à córnea ou até à barbela, contudo o seu corpo está desenquadrado da cara do toiro, estando como habitualmente se chama de “Chocalho” ou até atravessado nos costados do toiro ou sobre o “morrilho”, ficando normalmente na cara um dos ajudas, sendo depois ajeitado pelos restantes elementos para a cara do toiro para que se proceda à saída do Grupo. Não me refiro logicamente às pegas em que durante a viagem o toiro através dos seus derrotes pode retirar o forcado da cara, mas que, ou porque o toiro o procura ou até porque o forcado se consegue novamente acoplar, estando já na cara quando os ajudas fecham.
Agora pergunto, mas os Forcados não são Amadores? Não andam a pegar por amor à arte? Alguém os obriga a fardar ou a vestir uma Jaqueta?
Aquilo que sempre me ensinaram e que tento transmitir aos que me rodeiam mais de perto, é que se ali estamos para pegar o Toiro por vontade própria e sem receber nada em troca, então porquê fingir que se pegou, acho que o “Pundonor” do Forcado deverá estar acima de tudo e de todos e por vontade própria nenhum Forcado com “F” deverá meter-se dentro e saltar a trincheira indo depois agradecer aplausos sabendo que não cumpriu aquilo a que se propôs por sua livre e espontânea vontade.
Quero aqui também deixar um alerta à comunicação social da especialidade que salvo raras exceções e apenas em alguns casos dão nota destas situações, estou em crer que se, quer os comentadores televisivos quer a Imprensa escrita, desse nota destas situações as mesmas deixariam de ocorrer com tanta regularidade.
Por isso termino como comecei, afinal enganam quem? Penso que somente a si próprios.

* Antigo elemento do Grupo de Forcados Amadores de Montemor

Foto Emílio de Jesus