Momentos do treino campero de Ricardo Cravidão, esta semana, na sua herdade em Montemor-o-Novo |
Ricardo Cravidão tem 19 anos e esta será a sua terceira temporada nas arenas, depois de em 2015 se ter estreado em Cabeço de Vide e no ano ter passado ter feito a prova de cavaleiro praticante em Alcochete. Está a tirar o curso de Equitação (nem eu sabia que havia cursos desses…) na Universidade Europeia, em Lisboa, na Pontinha. E ao mesmo tempo treina, treina muito, na sua herdade, a da Pedra Longa, em Montemor-o-Novo. Vai “devagar e sem pressas”. Bebeu a água da fonte da Universidade da Torrinha, ouvindo os ensinamentos de Mestre David Ribeiro Telles e aprendendo a arte com João, António e João Telles (filho). Depois, os outros ensinamentos vieram do cavaleiro João Maria Branco, seu futuro cunhado. Tem um novo apoderado, João Duarte. E esta temporada quer consolidar a sua posição como cavaleiro praticante. A alternativa, talvez em 2018. Chegar ao Campo Pequeno é o sonho-maior. Mas Ricardo sabe o que quer e para onde vai: “Só no dia em que me sentir a cem por cento e preparado para pisar a arena de Lisboa. É uma praça demasiado importante, há que estar em pleno para um dia lá tourear”. Esta semana, fomos ver Ricardo Cravidão num treino campero na sua herdade em Montemor, onde também participou João Maria Branco. São desse treino as fotos de Fernando Clemente que aqui ficam e que atestam a arte e a intuição deste novo cavaleiro. Vamos ouvi-lo.
Entrevista de Miguel Alvarenga
- Vamos começar pelo princípio, Ricardo. De onde lhe veio essa paixão pelos toiros e os cavalos, como se iniciou nesta vida?
- Veio de miúdo, o meu avô sempre teve cavalos e eu gostava muito de montar desde criança. Depois, como vivo em Montemor, uma terra de enorme aficion, comecei a ir com o meu pai às corridas, ele era e é grande aficionado. E não foi difícil apaixonar-me pelo toureio, acho que foi uma coisa lógica que me foi acontecendo aos poucos.
- Teve mestres, certamente, quem foram?
- Tinha 11 ou 12 anos quando estive praticamente um ano na Herdade da Torrinha, onde dei os primeiros passos e colhi os primeiros ensinamentos, escutando atentamente Mestre David Ribeiro Telles e aprendendo depois com seus filhos João e António e seu neto João. Foi aí que dei os primeiros passos em termos de equitação e de toureiro, foram as minhas bases, toda a minha primeira aprendizagem. Comecei por estar lá três meses e depois nesse ano ia todos os fins-de-semana à Torrinha. É, quanto a mim, a grande Universidade do Toureio a Cavalo e, por isso, não podia ter tido um começo melhor.
- Depois também aprendeu com o cavaleiro João Maria Branco, não foi?
- Sim. Somos muito amigos há muitos anos e seremos um dia cunhados, já que o João Maria namora com a minha irmã. Depois desse ano de aprendizagem na Torrinha, com a Família Ribeiro Telles, a quem estarei eternamente agradecido, comecei a frequentar a quinta do João Maria Branco e continuei a aprender e a procurar aperfeiçoar-me.
- Logo nas suas primeiras actuações, no ano de 2015, deu na vistas e deu que falar pela prática de um toureiro arrojado, pelas sortes frontais, é assim que interpreta o toureiro?
- A arte do toureio é de risco, de alto risco, direi mesmo. E sem risco e sem emoção, o público não adere, não se entusiasma. Sempre foi assim, com as sortes frontais e procurando fazer um toureio de verdade, que chegue ao público, que concebi a minha forma de ser toureiro.
- Para ser só mais um, não vale a pena…
- Exactamente…
- No ano passado, teve uma belíssima e empolgante actuação no Festival da Juventude, em Alcochete, mas depois as coisas não correram tão bem na noite da prova de praticante nessa mesma praça…
- Pois foi. Ser toureiro é isso mesmo, penso eu. Saber saborear os triunfos e aprender com os fracassos, procurando depois corrigi-los. Na noite da minha prova de praticante as coisas não correram, na realidade, como eu queria e como devia ter sido. Toureei três festejos seguidos, o primeiro a Garraiada da Sardinha Assada em Vila Franca, que me correu muito bem. No dia seguinte toureei em Évora, onde até caí, fui colhido. Tinha um cavalo novo de saída, eu era um cavaleiro novo e o toiro saiu complicado. Cheguei, ao terceiro dia, à prova de praticante sem estar a cem por cento. A queda da véspera afectou-me e moralmente também não me encontrava muito bem. Mas, enfim, são coisas que acontecem e para as quais temos que estar preparados. Os festejos seguintes já foram melhores.
- E este ano, com novo apoderado, que projectos tem, Ricardo?
- É a primeira vez que tenho um apoderado (João Duarte). Nos dois anos anteriores foi o Albino Fernandes que me ajudou, sem ser propriamente apoderado. Estou-lhe muito grato. Com João Duarte, penso que vamos fazer um bom trabalho, já há algumas novilhadas agendadas, penso que temos um bom projecto para que nesta temporada me possa consolidar como cavaleiro praticante e poder dizer alguma coisa aos aficionados.
- A alternativa não está ainda nos seus horizontes?
- Estar, está, mas não para já. Talvez no próximo ano, não sei. Não tenho pressa, há que ir devagar e dar passos sólidos e consistentes. Só depois se pensará nesse passo tão importante que é a alternativa. Há tempo.
- Um sonho, Ricardo?
- Tenho tantos! Um deles é tourear um dia no Campo Pequeno, a praça mais importante de Portugal e hoje também uma das mais importantes do mundo taurino. Mas só quando estiver preparado a cem por cento. Não se pode ir a Lisboa de qualquer maneira. E considero que se tem que subir degrau a degrau. Ainda me faltam muitos degraus para chegar ao Campo Pequeno. Tenho plena consciência disso. Vou tentar subi-los para um dia poder merecer essa oportunidade e não desiludir ninguém.
- Está também a estudar?
- Estou a tirar o curso de Equitação na Universidade Europeia, na Pontinha, em Lisboa.
- Não sabia que havia nas Universidades cursos de Equitação, é uma novidade para mim…
- Há sim, pelo menos na Europeia há. É um curso de Mestre de Equitação.
- E quem são os professores?
- Quase todos são Mestres de Equitação da Sociedade Hípica Portuguesa, do Campo Grande.
- Vem todos os dias de Montemor para Lisboa?
- Não, tenho casa em Lisboa. Vivo entre a Universidade, em Lisboa e a quinta em Montemor, onde monto os meus cavalos e me preparo.
- Vamos então conhecer a sua quadra…
- Tenho neste momento seis cavalos, dois dos quais novos. De saída, o “Beretta”, com ferro da Herdade da Cabreira e o “Embaixador”, que é novo e tem o ferro da coudelaria de Henrique Abecassis. E para o tércio de bandarilhas tenho o “Único”, ferro Herdade das Silveiras; o “Glorioso”, ferro Manuel Braga; o “Hawai”, ferro Lampreia; e o “Fandi”, também novo, com o ferro de José Palha. Penso que tenho neste momento uma boa quadra, com consistência e com argumentos para poder cumprir os meus compromissos de 2017.
- Espanha está nos seus projectos?
- Está, mas não para já. Sei que as coisas não estão fáceis para vingar em Espanha e também não tenho pressa, mas um dia gostava, claro, de tourear também no país vizinho.
- Um desejo para 2017…
- Poder subir alguns degraus, conseguir afirmar-me, tentar que os aficionados reparem em mim e tenham a consciência de que não estou aqui para ser só mais um. Óbvio que gostava de um dia dar que falar pela positiva, pelos meus triunfos, mas nada se consegue sem muito trabalho, sem muita entrega e muito querer. Três objectivos que me norteiam. Vou trabalhar muito para um dia chegar mais alto.
Fotos Fernando Clemente