sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Manuel, Manuel e só mesmo Manuel! Padilla "morreu na praia"...

Noite grande a de Manuel Dias Gomes, em especial no último toiro. Arte, brio,
atitude, querer e um temple que arrepia. Afirmou-se em definitivo como a nova
estrela do nosso toureio a pé. Talvez não lhe tenha valido de nada neste triste
Portugalzinho da Toiradas, mas para nós, aficionados de verdade, valeu muito
Padilla deu só um ar da sua graça no segundo toiro da noite. No quinto, foi
um desastre, ele e os seus ridículos bandarilheiros. Para esquecer. Há muitos
anos que o público do Campo Pequeno não dava uma bronca tão grande a
um toureiro... Nisto do toureio, como em tantas outras coisas da vida, é um
instantinho enquanto se passa de bestial a besta. E ontem, Padilla acabou...
Bem falando à portuguesa, "morreu na praia"...
Poderio e maestria de Cláudio Miguel
Arte e valor de João Ferreira
João Oliveira também num grande par
Luis Rouxinol esteve grande, como ele é, no quarto toiro da noite
A primeira pega, de António Taurino, foi enorme e valeu sobretudo por ele
próprio, que aguentou sózinho derrotes e mais derrotes
A segunda pega, brilhante, de Francisco Graciosa


Miguel Alvarenga - Com todo o respeito que se tem que ter por ele, pelo que é, pelo que representa e pelo que fez nos dois últimos anos pelo toureio a pé em terras de Portugal, a realidade é que o reinado de Padilla acabou ontem no Campo Pequeno - onde o público, manifestando justificada exigência, lhe deu uma das maiores broncas dos últimos anos. Merecida. Já explico por quê.
Com todo o respeito que se tem que ter pelo futuro, há que aplaudir Manuel Dias Gomes, sobretudo pela faena brilhante, plena de entrega, de atitude e de querer impor-se, que desenhou ao último toiro da noite (brindada ao Maestro Ortega Cano). O público não arredou pé e aclamou-o muito justamente em duas voltas à arena. Não saiu em ombros por quê? É só para os espanhóis essa (corriqueira) honraria?
Com todo o respeito que se tem que ter pelos seus 30 anos de alternativa e de glória (glória, mesmo), enalteça-se Luis Rouxinol pela grande actuação que teve no seu segundo toiro, depois de ter estado apenas regular - ou mesmo irregular - no primeiro.
E com todo o respeito que todos temos pelo Grupo de Forcados Amadores de Santarém, um olé do tamanho do mundo para as duas grandes pegas que executou. A primeira, enorme, de António Taurino, por ele e só por ele, que o grupo praticamente não esteve lá, aguentando o forcado todos os derrotes e mais alguns sem nunca se dar por vencido; a segunda pelo grande Francisco Graciosa, outra vez triunfador, e aqui, sim, com o grupo a ajudar muito coeso e muito bem. Ambas à primeira, como mandam as regras.
No que aos toiros diz respeito e chamando os bois pelos nomes, que é como eu gosto de falar - e de escrever -, os de Vinhas estavam bem apresentados, o primeiro foi mansote, o segundo serviu, sem nada por aí além; os de Manuel Veiga, para a lide a pé, não prestaram para nada. Salvou-se o último, que foi “mais ou menos”, mas se foi alguma coisa foi porque Manuel Dias Gomes o obrigou a ser e o valor foi sobretudo seu. No plano ganadero, vou ali e já venho. Foi uma noite para esquecer.
E posto isto, muito pouco mais tenho para dizer. A praça registou uma bonita entrada de três quartos, Rouxinol esteve grande no quarto toiro da noite, Manuel Dias Gomes andou atrás do seu fugitivo primeiro toiro para dele tentar sacar alguma coisa e no último esteve enorme, cheio de ganas, cheio de temple, cheio de arte, cheio de atitude, uma faena redonda e onde pôs tudo de si, como quem diz “vim aqui para triunfar”. Foi dele a noite. Indiscutivelmente. Era a noite que faltava a Manuel para se afirmar de uma vez por todas entre o seu público.
Pena que a temporada tenha chegado ao fim. Pena que feiras como as da Moita e de Vila Franca o não tenham incluído. Porque ontem Manuel Dias Gomes disse, a quem quis ver, que é, na realidade, a nova estrela do nosso toureio a pé. Valeu-lhe de alguma coisa? No Portugalzinho das Toiradas como ele está, talvez não tenha valido de nada. Mas para nós, aficionados de verdade, valeu muito. Tanto.
Padilla acabou. Era o novo ídolo dos aficionados portugueses e até saía sempre aos ombros. Ontem, foi despedido com uma vaia monumental. Os toiros não ajudaram. Ou melhor, não houve mesmo toiros. Mas também não houve Padilla. O verdadeiro, não esteve lá...
Deu um ar da sua graça no seu primeiro oponente. No segundo, manso perigoso, sem um passe, recusou-se até a bandarilhar e deixou que os seus capinhas o fizessem, numa ridícula interpretação desse tércio, sem ter a honestidade de se emendar e de agarrar ele nas bandarilhas para superar a tragicomédia dos seus peões. Com a muleta, andou à deriva, deixou-se desarmar três vezes, foi um Padilla muito distante dele próprio. Melhor dizendo, foi uma vergonhosa sombra de si mesmo. Não teve empenho, não manifestou entrega, esteve por estar… sem ter estado. Ponto final. Acabou. Tive imensa pena. "Morreu na praia"...
Nota final para os fantásticos bandarilheiros de Manuel Dias Gomes: noite grande para Cláudio Miguel, João Ferreira e João Oliveira, que de desmonteraram para agradecer os aplausos do público.
Estava gente entendida no Campo Pequeno ontem. Não foi o costumeiro público folclórico. Houve exigência e houve seriedade na apreciação do que ocorria na arena. A bronca monumental a Padilla falou por si. No Campo Pequeno não se pode brincar.
Manuel Gama dirigiu a corrida com a seriedade usual. Só não entendi aquele número de dar música a Padilla no seu segundo toiro e depois mandar a banda calar-se. Sempre ouvi dizer que quem dá e volta a tirar ao Inferno vai parar…

Fotos Maria Mil-Homens