Pedro Pinto - Vinte anos depois de ter pisado solo açoreano, continuo com o mesmo pensamento, a Terceira não é apenas uma ilha… é aquela ilha! A Ilha mais aficionado do mundo, a verdadeira pérola do Atlântico.
Deixando a crónica da corrida para o Miguel fazer com o seu saber único, como já esta manhã o fez, vou fazer aqui o relato de uma viagem que era para ser de dois dias e acabou por ser de quatro.
Saída de Lisboa no domingo no vôo da Ryanair, mochila à medida com “roupinha” para dois a três dias e lá fomos nós; no aeroporto, alguns forcados de Coruche com a farda às costas, para se juntarem aos outros elementos que já lá estavam desde sexta. Também encontrámos o Francisco Morgado que foi fazer os comentários para o directo da Rádio Clube de Angra. No pensamento levávamos a corrida e obviamente as cracas, as boas das cracas…
Aterragem normal nas Lages, com atraso de meia hora e o tradicional “Bem-vindos à Terceira”; à nossa espera, com a simpatia habitual, o Filipe Pires, o Manuel Pires e o Filipe Lemos, mais que forcados e ex-forcados do Ramo Grande, são amigos e daqueles com “A” grande!
Ida ao hotel a Angra, onde pudemos ver que a ilha continua maravilhosa; aquela descida até à cidade proporciona uma vista linda, com o Monte Brasil a erguer-se imponente lá ao fundo.
Check-in feito e lá fomos até às festas da Praia da Vitória, onde tínhamos de matar a sede, que a humidade e o calor que se fazia sentir nos proporcionava… fomos à tasca do amigo Marcelo (ex-forcado do grupo) e começámos com umas favinhas, acompanhadas no cartel por uma magnífica alcatra de polvo e por umas belíssimas lapas, com um molho de manteiga único que o Miguel fez questão de deixar bem marcadinho nos meus calções e a fazer um mapa nos do Filipe Pires...
Depois, no “Rei do Marisco” lá vieram elas…as cracas, muitos bicos de cracas, excelentes, com um sabor único a mar e que só ali naquele arquipélago têm esse paladar; a fechar praça actuaram uns cavacos pequeninos mas com sabor único. Na companhia do Filipe e do Manel, eles confidenciavam-nos que já tinham mais de meia praça vendida para o dia seguinte, o que era um sinal extraordinário. A corrida era atractiva, com António e João Telles e o local João Pamplona, com os forcados da Tertúlia Terceirense, Ramo Grande e os continentais de Coruche.
Entretanto os nossos cicerones foram dar uma entrevista de promoção à corrida e nós fomos ver o jogo da Supertaça (menos o Miguel, que não gosta dessas coisas...), pois o coração também estava no Algarve… O Manel Pires levou uma “manita” mas aguentou-se bem, a provar a boa pessoa que é! Mais uma voltinha nas festas e regresso a Angra para descansar, porque no dia seguinte havia toiros…
Mas, a segunda-feira amanheceu cinzenta, alguns pingos, mas sempre com a esperança que o tempo levante… íamos tomar café e encontrámos o Diogo Passanha (nunca perde uma na Terceira) e o Gonçalo Patrício, com dois amigos, seguiu-se um café na Sandoxa e Companhia e uma voltinha pela ilha; encontrámos num miradouro, aquele que julgávamos ser um espião, pois com os grandes binóculos e um intercomunicador, podia ser um qualquer espião russo a ver onde andavam os americanos, no dia seguinte ficámos a saber que era apenas um trabalhador das empresas que levam as pessoas a ver os golfinhos, cachalotes e até tubarões, que não são perigosos, mas nunca fiando…
Fomos almoçar ao amigo Zé Maria, na "Adega de São Mateus" e lá estava novamente o Diogo e os amigos, de roda de um boca negra, porque eles também sabem o que é bom. Nós fomos para as cracas, muitas rochinhas, bonitas e saborosas; as lapas também estavam excelentes e pelo meio fomos conversando e contando histórias e mais histórias de tantas coisas que já vivemos naquela ilha.
Eu vou lá há 20 anos, o Miguel Alvarenga já leva os mesmos que o Rouxinol tem de alternativa, por isso…é apenas uma questão de fazer contas… A tristeza veio quando saímos do restaurante e já chovia, ida ao hotel pelos casacos e muita chuva a caminho da praça, chuva torrencial por vezes e comentámos que seria muito difícil haver corrida.
Centenas de carros com pessoas dentro esperavam para ver o que acontecia; diversas poças de água indiciavam que seria impossível haver corrida. Mais uma carga de água e “até amanhã”, corrida adiada para a mesma hora no dia seguinte. Toda a logística e alterações a serem tratadas, com o Alex Rocha a ser incansável a tratar de mais uma noite nos hotéis e da alteração de viagens. A nossa seria no dia seguinte às 6h da manhã… Lá ficámos mais uma noite e fomos jantar a Angra, na "Taberna das Tias", debaixo de chuva torrencial, lá dentro o ambiente era acolhedor e apesar da espera, valeu a pena; vimos que a Terceira foi descoberta pelos espanhóis e a quantidade de turistas daquele país é muita. Camarãozinho à Tias; ovos rotos, batata doce e uma fantástica tábua de queijos açoreanos foi o manjar, bem regadinho com umas boas imperiais. Tantas...
Depois de ter caído uma carga de água impressionante até às 6h da manhã, o dia de terça-feira esteve bonito; mais uma voltinha para fazer compras e provar as magníficas aguardentes “Abelhinha”; antes de almoço passagem pelo miradouro e lá estava o “espião”, onde o Miguel se lembrou da história do “tal” que iam num passeio de barco e levou com uma cagarra em cheio na cara… o almocinho foi uma vez mais no amigo Zé Maria, na "Adega de São Mateus" e adivinhem lá o que comemos? Cracas…muitas! Rematadas com um pregozinho à medida… noutra mesa estava o Francisco Morgado a deleitar-se com uma outra iguaria daquela região!
O tempo ia fazendo várias estações, mas em Angra estava bom. Grande ambiente e tudo pronto para a corrida. Fomos à Tertúlia Tauromáquica Terceirense onde se sentia o ambiente excelente. Na praça lá fomos encontrando amigos de outras ocasiões, o António Pontes, o Parreira, o Silveirinha, o Auledo, o Ananias Contente e tantos outros. A tradicional mini (desta vez sem bifana) e hora da corrida, às 18h30 “en punto de la tarde”. Sentimos a falta dos amigos Valadão e Valdemar, que faleceram nestes últimos tempos.
Da corrida já escreveu e bem o Miguel; para mim fiquei com um grande toiro de Rego Botelho (o primeiro), um grande ferro de João Telles, uma lide inteligente de António Telles, uma grande pega do cabo do grupo de Coruche, a despedida emotiva do Filipe Lemos e o respeito, muito respeito de todos os intervenientes, público e profissionais que estavam na trincheira, com o facto dos fotógrafos estarem sempre dentro dos burladeros durante as lides e o silêncio que o público fazia durante as pegas. Que grande exemplo! Vi os dois primeiros toiros ao pé da Mariana Rego Botelho, com quem deu gosto falar de toiros, saí de lá e pronto, começou a chover para não mais parar, parecia literalmente um “pinto”…
Corrida cancelada no final do quinto toiro, apesar da vontade do mais novo Pamplona em tourear. A viagem até à Praia roçou o surreal, tal era a chuva que quase não deixava conduzir, fomos meter gasóleo e dizia um “home” que tinha pisado uma pedra e furado um pneu e agora tinha de o ir mudar à chuva; tal foi a sorte que não nos aconteceu nada; quando passámos para a zona da Praia da Vitória, parecia que nem tinha chovido… é assim o tempo nos Açores. O jantar juntou os grupos do Ramo Grande e Coruche e foi bonito! A noite parecia não acabar e no dia seguinte já não me levantei para o pequeno-almoço.
Quarta-feira dia de partida, mas o avião era só à noite. No hotel, o António Telles, com o seu humor peculiar dizia que ia a conduzir a Excursão Telles, tal o número de Telles que levava na carrinha. Almoço com o Filipe Pires no "Beira Mar" de São Mateus; onde também estavam a almoçar o António e a Catarina Ribeiro Telles, o amigo Magalhães e o "Platanito" e a Carmen. Não podíamos deixar de ir ao Sr. Fernando, que entregou a gerência ao filho Carlos, estando agora noutro lado. A qualidade do costume, cracas e lapas para a despedida e uma extraordinária mista de peixe, com lírios e peixe-porco, para além de mais dois que não me lembro o nome, mas que o sabor era qualquer coisa.
Falámos da Festa, do passado e do futuro, as Associações, das corridas, da vinda do grupo ao continente, da estreia de um grupo açoreano, o do Ramo Grande, em Ponte de Lima no próximo dia 8 de Setembro, mas mais importante que tudo, falou-se com amizade e sinceridade. Na ida até ao aeroporto, lá fomos à famosíssima casa de afamados petiscos do grande aficionado António Padeiro, que nos recebeu com a sua simpática mulher e lá estivemos (mais um bocadinho ficávamos em terra) até à hora do avião. Na hora da despedida, os mesmos, o Filipe Pires, o Manuel Pires e o Filipe Lemos; da nossa parte a gratidão e continuamos a levá-los no coração.
O avião da SATA atrasou pouco (desta vez só 1h30...) e numa viagem animada onde até estações de comboio descobrimos no meio do oceano, lá chegámos a Lisboa e adivinhem quem nos esperava? Pensavam que eram as cracas? Não, era mesmo a chuva, aquela que nos acompanhou nestes dias de Agosto nos Açores, aquela que quase nos fazia acabar com as cracas e lapas na Terceira, mas ainda não foi desta… temos de voltar! E no próximo ano, se Deus quiser, com prolongamento para a Feira da Graciosa! Não se vêem livres da gente...
Fotos D.R.