Neste texto, acompanhado desta foto de Maria João Mil-Homens, João Moura Jr. descreveu na sua página do Facebook todas as emoções e todos os sentimentos que viveu na noite de terça-feira na praça "Palha Blanco" de Vila Franca de Xira
Vou contar-vos a história de como é fina a linha que separa o amor e o respeito. O amor à minha profissão e o respeito à "Palha Blanco", que andaram de mãos dadas, toda a semana, antes da corrida de dia 8.
A minha historia com a Praça de Vila Franca de Xira reduz-se a três corridas em 2016, 2018 e 2019, todos sabemos que a grande parte da afición que ali se concentra não é propriamente “Mourista” e, de facto, tourear ali sempre me intimidou. Mas, que tipo de toureiro seria eu se evitasse tourear numa das praças mais importante do país? Pois bem, assim começa a minha história…
Admito que antes da corrida da passada terça-feira, estava com uma pressão em cima que parecia não merecer a pena, só pensava: “Estou desejoso que chegue quarta-feira e passe tudo”, mas admito também que, por sua vez, queria que chegasse o dia para confirmar o que tinha demonstrado toda esta temporada, numa das praças que considero das mais “duras”.
Pois bem, chegou o dia, o temível 8 de Outubro, o dia em que me ia meter “na boca do lobo” e compartilhando cartel com o Rei desta praça Ribatejana, o Maestro António Telles, dono e senhor do toureio à antiga, em Portugal, o melhor exemplo a seguir, de como se deve tourear em Vila Franca, e João Telles, um dos meus grande rivais ao longo da minha carreira em Portugal.
O dia estava a correr com normalidade, feliz com o sorteio, a corrida tinha ambiente e até me tinham entregue uma casaca nova que acabei por não estrear. Até que ao chegar à Praça já trajados, um polícia não nos deixou entrar… solicitando uma credencial para chegarmos ao camião e aos cavalos. Eu pensei para mim: “Mau… se vestido de casaca ainda preciso de credencial para ir ao camião, nem quero imaginar como irá correr a noite”. Já na corrida, o meu primeiro toiro inutilizou-se e tive que lidar o segundo do lote, voltei a pensar “pelo menos não me assobiaram!".
A minha primeira faena teve substância mas não transmitiu o suficiente aos sectores. Se calhar outro no meu lugar, depois de não sacar 100% do toiro, tinha saído para o segundo com a moral em baixo… e eu pensei para mim “é agora ou nunca!”.
A minha segunda lide foi daquelas que param o coração, até um coração vilafranquense. Comecei com uma sorte de gaiola com o meu fiel "Dalas". Nas bandarilhas, deixei-me chegar perto com o "Jamaica" e rematei ao som das "mourinas" com o "Hostil". Confesso que não estava muito seguro de realizar esta sorte nesta praça, mas o doutorado público de Vila Franca soube apreciar a verdade dentro do espectacularidade e da inovação.
O 8 de Outubro fica gravado na minha memória para sempre, primeiro por ver a "Palha Blanco" de pé, aplaudindo e, segundo, por ver a emoção no rosto do meu pai porque sabe, perfeitamente, o que significa triunfar em Vila Franca.
"Palha Blanco", tiraste-me o sono… mas agora deixaste-me sonhar!
Marcamos encontro em 2020.
João Moura Jr.
Foto Maria Mil-Homens