domingo, 30 de agosto de 2020

Figueira da Foz: risco e emoção em noite de praça esgotada

Uma segunda parte dura, de interesse e para fazer aficionados, marcou ontem o segundo festejo no Coliseu Figueirense, que assinalou com êxito os seus 125 anos

Reportagem de Hugo Teixeira e Filipa Simões (fotos)

O Coliseu da Figueira da Foz voltou a reabrir as suas portas este sábado para assinalar os seus 125 anos, com praça esgotada (dentro das limitações impostas), tendo a empresa Tauroleve brindado os aficionados com uma corrida de emoção, de fazer parar corações, principalmente o dos toureiros e em particular o dos forcados.

A “culpa” desta forte turbulência deve-se ao jogo oferecido pelos toiros de Santos Silva e António Valente. Se os de Silva cumpriram e andaram, o mesmo já não se passou com os de Valente… que ofereceram a cavaleiros e forcados um “valente” susto, um comportamento desigual.

Em disputa estava o troféu para a melhor ganadaria do Mondego em praça, e o júri, constituído por Miguel Amaral, Vítor Pantaleão e Pedro Espinheira decidiram, por unanimidade, atribuir o galardão a Santos Silva. O público concordou!

Com a praça esgotada, abriu a função Rui Salvador que lidou um voluntarioso toiro de Santos Silva com 555 quilos. O de Tomar dobrou-se bem com o oponente nos médios e esteve em plano regular nos compridos.

Nos curtos optou por atacar o toiro nos médios, tendo deixado alguns bons curtos, com bons remates das sortes, tapando um pouco a escassa transmissão do oponente no momento do ferro. Foi bastante aplaudido pelo público, bem como todos os intervenientes ao longo da noite.

Seguiu-se Luís Rouxinol que lidou também um toiro de Santos Silva, com 540 quilos, tendo desenvolvido uma lide em crescendo, com destaque para a brega, com o toiro (pareceu mal visto, pelo menos na pega) bem embebido na garupa da montada, tendo finalizado da melhor forma com um ferro de palmo e um bom par de bandarilhas. Aplaudido!

De Espanha veio Andrés Romero que já tinha feito furor na Nazaré e ontem na Figueira voltou a entusiasmar o aficionado. É um toureiro que dificilmente passa indiferente. Lidou o mais pequenote da corrida, um exemplar de 430 quilos de António Valente que parecia que tinha pilhas… não acabava.

Entre dois ou três curtos valorosos, de largo e com ligeira batida, umas levadas para animar o pessoal e uma queda sem consequências, por causa da montada que escorregou, Andrés Romero que brindara momentos antes a lide a Ricardo Levesinho, conquistou o público. É um daqueles toureiros que… ou se gosta, ou se odeia. Fica ao critério do freguês!

A segunda metade do espectáculo de três horas (!), sim, três horas (não há cortesias nem voltas, lembram-se?) contou com a presença em praça de Luís Rouxinol Jr.,que lidou um toiro de António Valente, com 525 quilos.

O de Pegões veio de menos a mais nos compridos, mas mexeu com o toiro que se entregou à lide até determinada altura. Rouxinol foi deixando a ferragem nos médios, esforçou-se para lhe dar a volta e fechou uma lide de pormenores com um ferro de violino por dentro, junto a tábuas. Calorosa ovação!

Dizem que não há quinto mau… pois é, desenganem-se! Saiu à praça um “toirão” de 565 quilos, com o ferro de António Valente que não deu um passo… Parado, paradinho e para os forcados foi um problema, mas já lá vamos.

Para tourear este exemplar esteve em praça Soraia Costa - que fez o que sabia e podia para o lidar. Uma lide de pânico do princípio ao fim e que a cavaleira ultrapassou com esforço.

Noite dura para os bandarilheiros, mas também para o praticante Joaquim Brito Pais, que se viu “grego” para dar a volta a um toiro de 560 quilos de Santos Silva. Recebeu bem e dobrou-se com o toiro e, desta fase inicial é o que destacamos.

Nos curtos optou por sites de largo e o toiro, com violência e muita pata lá investia, adiantando-se por vezes. Foi acarinhado pela estratégia que adoptou, mas merecia melhor sorte.

No capítulo da forcadagem a noite foi dura para os três grupos em praça. Os toiros pediam forcados de “barba rija” e eles estiveram lá, sendo bastante acarinhados pelo público pela sua entrega.

Pelos Amadores de Coruche foram solistas João Laranjinha à primeira e Vítor Cardante à quinta tentativa, sendo o toiro duro para os forcados pela pata que trazia e pela forma como batia.

Pelos Amadores de Monforte, João Maria Falcão à primeira e Diogo Pereira à segunda. Este último pegou o tal “toirão” que não tinha um passe e que espalhou o pânico… O grupo resolveu, e bem, a “encomenda” à segunda, tendo saltado a ajudar mais dois ou três elementos, pois se a “sirene não tocasse” lá para as bandas dos de Monforte, ainda podiam andar lá a esta hora para o pegar… Há toiros intragáveis e este era um deles.

De destacar que nesta última pega o forcado Dinis Pacheco (primeiro ajuda) foi também chamado ao ruedo para agradecer os aplausos.

Os Amadores de Coimbra abriram função com Edgar Graciano à primeira, Pedro Casado fez três tentativas ao segundo, tendo sido dobrado por Pedro Marques - que concretizou à primeira.

De realçar a violência e a pata com que os três últimos toiros investiram. Noite dura para quase todos os intervenientes. Emoção e risco, os ingredientes que tantas vezes faltam em muitas corridas.

Dirigiu o festejo José Soares, que não autorizou volta ao cavaleiro Brito Paes nem ao forcado de Coimbra (sexto toiro) e que tarde “deu música” a Rui Salvador. Mas lá foi cumprindo a restante missão.

O veterinário de serviço foi, por sua vez, Carlos Santos.

E assim foram assinalados os 125 anos do Coliseu da Figueira da Foz, tendo sido ainda descerrada uma placa para assinalar a efeméride.


Rui Salvador
Luis Rouxinol
Andrés Romero
Luis Rouxinol Jr.
Soraia Costa
Joaquim Brito Paes

Pegaram ontem na Figueira os grupos de forcados de
Coruche, de Monforte e de Coimbra
Santos Silva ganhou concurso de ganadarias