Chegou a pensar, como todos, que não tourearia este ano. João Ribeiro Telles, uma das mais destacadas figuras do toureio a cavalo da actualidade, chega esta quinta-feira ao Campo Pequeno para participar numa corrida de grande competição com João Moura Caetano e João Moura Jr. frente a toiros de Romão Tenório, uma ganadaria, confessa, com a qual muito se identifica. Para trás ficaram já quatro importantes triunfos: nos festivais da Granja e de Alcochete antes da pandemia e mais recentemente outra vez em Alcochete e no último sábado na Figueira da Foz. O cavaleiro da Torrinha falou ao "Farpas" das suas expectativas para quinta-feira em Lisboa e também desta temporada atípica que estamos a viver. "Vou ao Campo Pequeno para sair triunfador da noite", afirma com convicção
Entrevista de Miguel Alvarenga
- João, regressar a Lisboa neste ano atípico, mas em que já somaste importantes triunfos, que significado tem para ti?
- Regressar a Lisboa é sempre um grande orgulho e uma grande responsabilidade, ainda por cima num cartel destes e num ano tão diferente, o que aumenta ainda mais a responsabilidade. Depois dos êxitos nos dois festivais de início do ano, que me correram francamente bem e já mais recentemente em Alcochete, onde triunfei forte e também no sábado passado na Figueira da Foz, vou moralizado para o Campo Pequeno e espero que seja aquela noite com que todos sonhamos.
- É um cartel de grande competição. E os toiros de Romão Tenório, o que esperas?
- Sim, é um cartel de competição máxima, mesmo. E os toiros rematam muito bem o cartel. É uma ganadaria com muita categoria, de um grande amigo nosso, de um grande aficionado e uma excelente pessoa, que merece mais que ninguém uma noite grande e uma noite triunfal em Lisboa. É uma ganadaria Murube e toda a gente sabe que é uma das ganadarias com que eu mais me identifico mais. Penso que estão reunidos todos os ingredientes para que seja uma grande noite.
- Quadra de cavalos em grande? Fala-me dela.
- Tenho uma quadra bastante rematada, às vezes podem as coisas não correr como se quer, por isto ou por aquilo, mas é uma quadra completamente toda formada por nós cá em casa, muito solidificada e consistente ao longo dos últimos anos e na qual tenho a maior confiança. Tenho dois cavalos de saída, o Ilustre e o Iluminado, depois tenho um bom leque de cavalos de bandarilhas que todos conhecem, o Gran Duque, o Gaiato, o Glorioso e o Ilusionista, um cavalo de que tanto se fala, mais um novo em que deposito muita esperança, o Lusco Fusco, com ferro de António Paim e o Guardiola. E tenho mais dois cavalos para o último tércio. Por isso, penso que tenho uma quadra à altura e bastante em forma para este grande desafio.
- Chegaste a pensar que não ias tourear este ano?
- Pensei e não foi só uma vez. Estava completamente mentalizado, a certa altura, de que não iria tourear este ano, porque achei mesmo que não iria haver corridas. Também não vou tourear muito, mas se toureasse só uma corrida já era uma alegria enorme, por orgulho, por poder fazer aquilo de que mais gosto e para que a tauromaquia não viesse abaixo e continuasse em grande.
- Lisboa chegou a estar em risco e afinal é, entre as primeiras praças do mundo, a única que está a ter temporada. Feliz por isso, como toureiro?
- Claro que sim, feliz por isso como toureiro e há que dar também os parabéns à empresa por esta iniciativa e por ter abraçado com tanta força este projecto. Contente com o Campo Pequeno, contente com o nosso país, sobretudo porque é a única praça no mundo que está a fazer época e isso é muito importante para todos nós e é de louvar.
- Falemos de quinta-feira. Qual dos três é o melhor? Caetano, Moura ou Telles?...
- Como é lógico, vou para o Ribeiro Telles! (risos)... Sendo os outros dois grandes nomes importantes da tauromaquia, como sabemos, somos amigos, mas na praça somos competidores e é isso que o público quer. Duas dinastias importantes, como a dos Caetano e a dos Moura, são toureiros que fazem falta cá na Festa e precisamos de cá andar, nós e outros, competindo e fazendo a Festa andar para a frente!
- Que mais corridas importantes para esta temporada, João, depois desta em Lisboa?
- Para já, depois do Campo Pequeno é a Feira da Moita, onde estou em duas corridas, a 15 e 17 de Setembro, está apalavrada uma outra corrida em Lisboa e, para já, são as que estão programadas.
- Estavas anunciado em Coruche para um mano-a-mano com teu tio António para o passado dia 17, o que se passou para o cartel ser alterado?
- Sim, estava tudo completamente preparado e apesar disto da covid o cartel ia-se manter, mas de repente surgiu a ideia de outra corrida e dos quatro toiros e eu não era da mesma opinião, acho que o 17 de Agosto em Coruche merecia uma corrida de seis toiros e saí do cartel por minha decisão. As corridas já se realizaram, correrem bem, espero que para o ano as coisas se alterem e posso voltar a tourear em Coruche. Não toureei este ano por opção minha, só isso.
- E acabamos como começámos: que expectativas, João, para esta quinta-feira no Campo Pequeno?
- As expectativas são as maiores, como já disse. Três grandes nomes da tauromaquia, um curro de toiros com garantias, dois grandes grupos de forcados, uma homenagem a um grande Senhor, D. Francisco de Mascarenhas, pelos seus 75 anos de alternativa, tudo se proporciona para que seja uma grande corrida e eu vou a Lisboa cheio de ganas para sair como o grande triunfador da noite!
Fotos M. Alvarenga