Miguel Alvarenga - O grande impulso dado esta temporada ao toureio a pé em Portugal por "Juanito", o novo ídolo da aficion nacional, pode, segundo alguns empresários, trazer de volta em força as corridas mistas já na próxima temporada, retomando-se nos cartéis o formato que era regra nas nossas praças até finais dos anos 70.
Recorde-se que, por exemplo, a temporada no Campo Pequeno, nesses anos, que chegava a somar mais de vinte corridas, era composta exclusivamente por corridas mistas em que intervinham dois cavaleiros e dois matadores e um grupo de forcados, lidando-se oito toiros - sendo apenas de seis cavaleiros a tradicional corrida de gala à antiga portuguesa a favor da Liga Contra o Cancro.
O toureio a pé perdeu força no final dos anos 70 e início dos anos 80, quando as empresas, ao tempo quase todas lideradas por antigos forcados, passaram a realizar só corridas com cavaleiros, dado o grande impulso verificado no toureio a cavalo pela chegada das novas figuras como Manuel Jorge de Oliveira, João Moura, Paulo Caetano, Joaquim Bastinhas, irmãos Ribeiro Telles, Rui Salvador, João Salgueiro, Luis Rouxinol, Rui Fernandes, Vitor Ribeiro e tantos mais, numa época em que ainda estavam no activo outras grandes figuras como Mestre Batista, Luis Miguel da Veiga e José João Zoio.
A consagração de Vitor Mendes, nesses mesmos anos 80, como primeiríssima figura em Espanha, trouxe de volta a presença do toureio a pé às nossas praças, pese embora o facto de o Maestro basear praticamente a sua carreira além-fronteiras e pouco tourear em Portugal.
Já na década de 90, o "boom" de Pedrito de Portugal voltou a impulsionar o toureio a pé no nosso país mas, infelizmente, foi sol de pouca dura.
Trinta anos depois, "Juanito" volta agora a trazer novo esplendor ao toureio a pé em Portugal, enchendo as praças onde se anuncia e arrastando a Espanha, como aconteceu com Mendes e Pedrito - já para não falar dos tempos áureos de Manuel dos Santos, Diamantino Viseu, Augusto Gomes Júnior, Francisco Mendes, Joaquim Marques, António dos Santos, José Júlio, José Simões, Amadeu dos Anjos, Armando Soares, José Trincheira, Mário Coelho, Júlio Gomes, Ricardo Chibanga, Óscar Rosmano e José Falcão e, posteriormente, de António de Portugal, Parreirita Cigano, Manuel Moreno, Rui Bento Vásquez, José Luis Gonçalves, Eduardo Oliveira, Nuno Casquinha e outros - legiões de aficionados que o seguem e idolatram, repartindo cartel com as máximas figuras do outro lado da fronteira e alternando com eles quando aqui se anunciam.
Se ao fenómeno "Juanito" juntarmos a mais valia da existência, na actualidade, de um belíssimo naipe de novos matadores - casos de António João Ferreira (que na próxima temporada vai celebrar 15 anos de alternativa), de Manuel Dias Gomes, de Joaquim Ribeiro "Cuqui", de João Diogo Fera - e de jovens novilheiros que se estão a afirmar e caminham a passos largos para a alternativa - casos de Diogo Peseiro, de João D'Alva e das novas estrelas da Escola "José Falcão" Gonçalo Alves e Leonardo, entre outros -, não restam dúvidas para os empresários em 2023 poderem revolucionar o panorama, inovando os cartéis com a presença de matadores e retomando a fórmula que fez sucesso anos atrás (em baixo, o anúncio de uma corrida mista em Lisboa nos anos 70, quando os matadores eram até destacados com maior força que os cavaleiros).
Foto cortesia João Silva "Juanito"