sexta-feira, 28 de outubro de 2022

"O Paco": a história da emblemática marisqueira lisboeta preferida pelo mítico "El Cordobés"

Quatro fotografias do mítico toureiro Manuel Benítez "El Cordobés" (em cima) emolduradas na antiga e primeira sala da emblemática cervejaria lisboeta "O Paco" (na Avenida de Berna, mesmo em frente da Gulbenkian) são ainda hoje a histórica recordação das noites em que o mais famoso matador de toiros do século passado ali jantou ou ceou depois das corridas em que actuou na praça do Campo Pequeno, onde se estreou a 14 de Abril de 1943 (Domingo de Páscoa), repartindo cartel com o matador português José Simões, os cavaleiros Manuel Conde e Pedro Louceiro e os forcados Profissionais de Lisboa, comandados por Adelino de Carvalho, frente a toiros da ganadaria de David Ribeiro Telles.

A história da Cervejaria "O Paco", uma das marisqueiras mais antigas da capital e sempre gerida pela mesma família, está recordada e contada num quadro na nova e remodelada sala (a antiga continua aberta, mas só aos almoços) e é, desde 1953, uma história de Família.

Começou no início do século XX, quando os Vilan e os Pérez, duas famílias oriundas da Galiza, se estabeleceram em Lisboa, desde logo se dedicando à hotelaria. "Quinta da Charquinho" em Benfica e a "Adega Perez", mais tarde "Retiro Andaluz", na Av. Conde Valbom, foram os primeiros restaurantes que abriram na capital, que ficaram famosos não apenas pelas delícias gastronómicas, mas também porque por lá passaram, em noites inesquecíveis, grande nomes do Fado de então.

Com a união das duas famílias, pelo casamento de Manuel Miguez Vilan com Maria Hilda Pérez Alban, nasceu então "O Paco" em 1953, já lá vão 69 anos, que depressa se tornou uma referência da restauração lisboeta pela comida e pela simpatia e atenção ao cliente.

Posteriormente, passou a ser gerido por José Manuel Pérez, filho do casal, que em conjunto com sua mulher, Alda, melhorou e dinamizou a emblemática cervejaria, consolidando a sua reputação e tornando-a numa das casas preferidas doa lisboetas e também dos aficionados da tauromaquia.

Nos anos 60 e 70, foram muitas as figuras das arenas de Portugal e de Espanha que elegeram "O Paco" como o seu poiso de referência - e, ao tempo, o famoso "El Cordobés" (hoje com 86 anos, mas em grande forma, depois de uma recente operação ao coração) foi a principal figura que frequentou a casa, a sua mesa preferida sempre que toureava em Lisboa.

Paulo e Francisco, filhos de José Manuel Pérez (felizmente, ainda vivo, mas já afastado da gestão do restaurante), são hoje os responsáveis pela continuidade deste projecto familiar. Não têm memória das presenças de "El Cordobés" na cervejaria, a não ser pelas célebres fotos que numa parede as imortalizam e pelas histórias que o pai lhes contou.

"Família é a palavra que melhor nos define. Não só por ser um negócio de família, mas pelas muitas famílias que tivemos o gosto de servir e que continuam a visitar-nos ao longo dos anos. Gerações e gerações. Porque por mais voltas que o mundo dê, sabe sempre bem regressar a casa" - lê-se no quadro emoldurado em destaque numa parede da emblemática cervejaria lisboeta.

Cozinha tipicamente portuguesa, aliada aos sabores do bom marisco (continuam a fazer história as amêijoas à Bulhão Pato, o camarão al ajillo ou as melhores puntillitas de Lisboa, como o camarão cozido ou a sapateira fresquíssima) são, ainda e sempre, as grande referências da Cervejaria "O Paco"

O prego no pão e o bitoque na frigideira, com batatas fritas e ovo estrelado e um molho de chorar por mais, continuam a encher a casa de uma clientela fiel, onde ainda hoje se recordam as noites ali bem passadas por Manuel Benítez, o mítico "El Cordobés".

Fotos D.R.

Paulo e Francisco são hoje os responsáveis pela continuidade
do projecto familiar iniciado por seu avós e posteriormente
por seu pai, José Manuel Pérez (ao meio)


A nova e remodelada sala



A primeira e antiga sala da Cervejaria "O Paco", onde se
recorda em quatro fotos as noites ali vividas por "El Cordobés"
José Manuel Pérez nos anos 60
A história de um projecto de família
Manuel Benítez "El Cordobés" numa foto actual...
... e nos anos 60, o tempo da "revolução" de Benítez
"El Cordobés" com o Generalíssimo Franco na Monumental
de Las Ventas, em Madrid
O famoso toureiro em 1980 em Badajoz, quando reapareceu nas
arenas, com o Dr. Fernando Teixeira e Miguel Alvarenga, que
o entrevistaram para o jornal "O Diabo"
"El Cordobés" com Manolo Escudero e Manuel dos Santos em
Abril de 1963 na tarde da sua estreia em Portugal, na praça 
do Campo Pequeno: e, em baixo, o cartaz dessa corrida