Sábado, poucas horas depois de Portugal deixar fugir o sonho de se qualificar nas finais do Mundial de Futebol em Catar, o mundo tauromáquico viveu em Lisboa uma noite de muito esplendor, imenso glamour e inigualável classe no jantar da II Gala da Tauromaquia - que encheu por completo (cerca de 500 pessoas) a bonita e emblemática sala do Restaurante "Kais" (esgotada com mais de uma semana de antecedência) e distinguiu os triunfadores da temporada em oito categorias. O evento contou com as honrosas presenças de três carismáticas figuras do mundo taurino espanhol, os matadores Juan António Ruiz "Espartaco" e Morante de la Puebla e o ganadero Álvaro Nuñez del Cuvillo e no que a políticos diz respeito, marcaram presença apenas três deputados do PSD, Fernanda Velez, João Moura e Duarte Pacheco. Lamentável que não estivessem mais representantes da classe política e de outros partidos que também apoiam a arte tauromáquica...
Miguel Alvarenga - Mais importante do que propriamente os resultados finais das votações que elegeram os triunfadores (foram registadas 20.500 chamadas telefónicas que renderam 14.487€ que serão aplicados a eventos de salvaguarda da cultura tauromáquica sobretudo entre os mais jovens aficionados), foi a força e o significado que este evento teve como afirmação da cada vez mais necessária união entre a classe tauromáquica.
Foi pena que as nossas televisões e os nossos jornais generalistas tivessem, um ano mais, ignorado esta Gala da Tauromaquia, negando-lhe a projecção mediática que deveria ter tido. Mas são os tempos que vivemos...
Esta Gala da Tauromaquia, que se afirma pelo segundo ano consecutivo como o grande corolário de uma temporada tauromáquica que, no caso desta de 2022, trouxe de volta o grande esplendor desta arte, quer em número de espectáculos, quer no que respeita triunfos e à afirmação das principais figuras, depois de dois anos de reduzidos festejos devido à pandemia - foi a cereja no topo do bolo para reafirmar a arte tauromáquica como uma das vertentes culturais mais enraizadas entre as preferências do público português.
Há que louvar e enaltecer, antes de mais, todo o dinâmico e brilhante trabalho desta organização que teve a capacidade de mobilizar quase 500 pessoas para um evento que muito dignificou a Tauromaquia.
Embora não se afirmando de modo oficial como organizador da Gala, a realidade é que os méritos deste sucesso têm que se ser reconhecidos e atribuídos ao site "Tauronews", cuja equipa, nomeadamente o seu director Francisco Mendonça Mira (juntamente com Diogo Toorn, que foi um dos mais destacados primeiros ajudas dos últimos tempos, ao serviço do GFA de Alcochete) e Margarida Calqueiro (responsável por toda a logística que rodeou a festa), foi, um ano mais, o rosto visível desta primorosa organização.
A Gala decorreu com imenso ritmo, sem tempos mortos, com entregas de troféus acompanhadas da visualização de pequenos filmes (muito bons) respeitantes aos nomeados, intercalados por momentos musicais e curtas, mas significativas, intervenções de diversas personalidades chamadas ao palco.
No que aos troféus (aos triunfadores) respeita, a Gala da Tauromaquia rege-se por uma lógica diferente da habitual nestas atribuições de prémios. A organização do evento não tem qualquer responsabilidade na atribuição dos galardões e nas distinções feitas aos artistas, dando a palavra - e a decisão - primeiro aos próprios (são as associações representativas do sector que votam numa fase inicial nos nomeados) e depois ao público, que numa segunda fase elege um dos cinco nomeados em cada categoria através de votação por chamadas telefónicas.
Ou seja, uma lógica de eleição dos triunfadores mais ao estilo da "Casa das Celebridades" ou do "Big Brother", onde os vencedores são aqueles que conseguiram movimentar mais apoiantes através dos telefonemas e não propriamente, como acontece nas tradicionais eleições daqueles que mais se destacam por ano nas arenas, através da decisão (e da opinião) de um colectivo de jurados.
Assim sendo, os resultados finais e as distinções dos vencedores, valem o que valem e ficam a dever-se essencialmente ao maior número de apoiantes mobilizados para votar através do telefone, em lugar de constituirem a opinião e a decisão de um júri avalizado e conhecedor.
Mas este facto não retira, de modo algum, na minha opinião, o valor e o destaque merecidos pelos eleitos. É diferente, pode ser mais discutível e bem mais subjectivo, mas de forma alguma levanta suspeitas ou gere indignações. A realidade é que nenhum dos premiados foi protestado pela assistência e nas oito categorias votadas qualquer um dos cinco nomeados merecia ser vencedor.
Houve casos em que a votação inicial dos próprios (associações representativas da classe) elegeu como primeiro um dos nomeados e depois a votação popular alterou os resultados, elegendo outro. Os gráficos foram exibidos muito rapidamente, quase não nos dando possibilidade de analisar em pormenor, mas recordo, por exemplo, se não estou em erro, que no que respeita aos cavaleiros de alternativa foi João Moura Júnior o mais votado pelos companheiros e depois ganhou João Ribeiro Telles pelos votos dos aficionados. António Telles (filho) foi também, na categoria de cavaleiros praticantes/amadores, o mais votado pelos artistas, mas depois a votação dos aficionados deu a vitória a seu primo Tristão Telles Guedes de Queiroz.
Equipa Levesinho arrecadou os prémios de melhores cavaleiros (Tristão Telles Guedes de Queiroz e João R. Telles), melhor empresa (Tauroleve) e melhor bandarilheiro (Duarte Alegrete) |
A equipa do empresário Ricardo Levesinho foi, indiscutivelmente (e como já acontecera na Gala do ano passado), a que melhor conseguiu movimentar e sensibilizar os seus apoiantes, levando-os a votar em força pelo telefone: ganharam os seus toureiros (João Telles como cavaleiro de alternativa, Tristão como cavaleiro praticante e Duarte Alegrete como bandarilheiro) e ganhou a sua empresa Tauroleve.
Como cavaleiros de alternativa estavam ainda nomeados os Maestros António Telles e Luis Rouxinol, João Moura Júnior e Francisco Palha (vencedor de outros prémios atribuídos este ano por outras organizações e agremiações taurinas). Como cavaleiros praticantes ou amadores, os outros nomeados eram António Telles (filho), Duarte Fernandes, Paco Velásquez e o amador Francisco Maldonado Cortes. Como bandarilheiros, estavam ainda nomeados António Telles Bastos, Cláudio Miguel, João Ferreira e João Prates "Belmonte". No que às empresas diz respeito, estavam também nomeadas as de Rafael Vilhais, a Associação Nossa Praça (Coruche), a NEPE (Évora) e a Toiros & Tauromaquia.
O prémio para o melhor matador foi outorgados pelo segundo ano consecutivo a João Silva "Juanito" - que o recebeu das mãos de Juan António Ruiz "Espartaco". Os outros nomeados eram Morante de la Puebla, João Diogo Fera, Joaquim Ribeiro "Cuqui" e Manuel Dias Gomes.
No campo dos Forcados, arrebatou o GFA de Montemor, reafirmando o seu reconhecido estatuto de primeiro entre os primeiros e também a realidade de continuar a ser, sem discussão, aquele que mais apoiantes arrasta às praças. A popularidade e a dimensão do GFA de Montemor ficou bem patente na eleição do seu próprio cabo António Cortes Pena Monteiro como melhor forcado e do próprio Grupo como triunfador da temporada entre os seus pares.
Carlos Silva (Vila Franca), Francisco Maria Borges (também do Grupo de Montemor), João Prates (Coruche) e Pedro Coelho dos Reis "Pipas" (Aposento da Chamusca) eram os outros forcados nomeados. E no que respeita aos Grupos, os outros eram os de Alcochete, Évora, Santarém e Vila Franca.
Por fim, no que às ganadarias concerne, a vencedora foi a de Murteira Grave, havendo que destacar o breve e eloquente discurso de Joaquim Grave, que foi, dos nomeados, o único que teve a gentileza - e a educação - de referir que o prémio com que foi distinguido poderia também ter sido atribuído a qualquer uma das outras ganadarias nomeadas, as de António Raul Brito Paes, Dr. António Silva, Passanha e Veiga Teixeira.
Além dos oito eleitos como triunfadores, a organização distinguiu com duas Menções Honrosas o matador Morante de la Puebla pela sua histórica temporada das 100 corridas e pelo 25º aniversário da sua alternativa; e também os grandes guardiões das lezírias, os valorosos e nem sempre lembrados Campinos de Portugal, tendo entregue simbolicamente esta distinção ao consagrado João Inácio "Janica".
O Maestro António Ribeiro Telles foi quem subiu ao palco para fazer a entrega do prémio a Morante de la Puebla (foto de cima), vivendo-se na altura um dos momentos altos da noite: o génio do toureio a pé revelou que um dos seus sonhos (e prometeu que ia tentar realizá-lo) é repartir um dia cartel na emblemática Real Maestranza de Sevilha com o Mestre do toureio a cavalo de Portugal. António, que nunca ali toureou, lembrou que seu Pai, o saudoso Mestre David, lhe costumava dizer que uma das praças onde mais gostou de tourear foi precisamente na de Sevilha. O desafio ficou feito. Pode acontecer no próximo ano de 2023.
Destaque mais que merecido para o facto de os troféus entregues aos eleitos serem quadros (lindíssima aguarelas) pintados por João Quintella, conceituado e reputado artista (pintor e escultor), antigo forcado dos Amadores de Alcochete.
A Gala contou com vários patrocinadores que se quiseram associar a este importante evento, alguns dos quais subiram também ao palco para fazer a entrega dos prémios aos triunfadores (já a seguir, vamos aqui publicar todas as fotos).
Entre os quase 500 aficionados presentes, não tive oportunidade de constatar, obviamente, um por um, quem estava - e quem não estava. Foram notadas as ausências (poucas) de alguns nomeados: entre os cinco cavaleiros nomeados, não esteve Luis Rouxinol e não esteve Paco Velásquez (este por estar a cumprir temporada no México) e no que aos matadores respeita, faltaram Joaquim Ribeiro "Cuqui" e Manuel Dias Gomes, ambos ausentes do país.
Uma nota de louvor para alguns artistas e ganadeiros que, mesmo sem estarem nomeados, não deixaram de marcar presença nesta Gala (o que é raríssimo acontecer... normalmente nunca vão, mas deviam ir, aqueles que não têm prémios a receber...). Vi, por exemplo, o cavaleiro Gilberto Filipe e o seu apoderado Leandro Flores, vi os ganadeiros Engº Jorge de Carvalho e Pedro Canas Vigouroux, vi forcados de grupos não nomeados, caso de João Fortunato, cabo dos Amadores de São Manços, Pedro Maria Gomes, cabo dos Amadores de Lisboa, e Ricardo Marques (cabo dos Académicos de Coimbra). Vi empresários não nomeados, caso de Paulo Vacas de Carvalho (Montemor). E provavelmente estariam outros. Louvável.
Lamente-se apenas, já aqui tive oportunidade de o escrever, não ter sido considerada a categoria de Novilheiros e Novilheiros Praticantes. Temos alguns - e bons. Temos jovens toureiros a afirmar-se além-fronteiras, casos de Diogo Peseiro, de João D'Alva, de Gonçalo Alves e de outros. Que mereciam também ter sido lembrados e reconhecidos. E sobretudo incentivados. Se foram consideradas as categorias de cavaleiros de alternativa e cavaleiros praticantes e amadores, e foi considerada a categoria de matadores de toiros, deveriam ter sido também lembrados os novilheiros. Um erro (imperdoável) a corrigir na Gala do próximo ano.
Houve também quem criticasse (criticar é fácil...) a falta de nomeações a outros cavaleiros (portugueses e estrangeiros) que se distinguiram nesta temporada nacional; e a outras empresas importantes - e, algumas, talvez até mais destacadas e com muito mais corridas realizadas do que algumas das que estiveram nomeadas. Mas a organização já tinha explicado que só era nomeado quem também votasse. E sei que houve cavaleiros e empresários que se quiseram auto-excluir, não votando na primeira fase, se calhar por não concordarem com esta lógica "à Big Brother" com quem aqui são eleitos os triunfadores. Paciência... Nunca se pode agradar a gregos e troianos. E criticar é sempre mais fácil e bem mais cómodo do que deitar mãos à obra e fazer o que esta organização fez: uma Gala de se lhe tirar o chapéu.
Por fim, uma última palavra para lamentar a ausência de políticos nesta festa. Esteve apenas representado o PSD com as honrosas presenças dos deputados Fernanda Velez, João Moura e Duarte Pacheco. Uma semana antes, recordo, no Campo Pequeno, no concerto de homenagem à memória de Sara Carreira, esteve o Presidente da República e esteve o Ministro da Cultura. Não critico minimamente que tenham estado no Campo Pequeno nesta homenagem à saudosa filha de Tony Carreira, antes pelo contrário. Critico e lamento, isso sim, que não tenham estado também no sábado na Gala da Tauromaquia.
A Gala foi apresentada, com ritmo e sem tempos mortos, repito, por João Vasco Lucas (antigo forcado, colaborador do site "Tauronews"), por Paulo Pereira (CNN) e Margarida Oliveira Pinto (RFM); e foi abrilhantada pelas actuações de Luisa Vidal, de Matilde Cid (fadista de raça e sentimento) e do consagrado Luis Trigacheiro (com que voz!).
Entre muitas presenças ilustres, destacaram-se as de Joana Petiz (subdirectora do "Diário de Notícias"), José Calado (futebolista), José Moutinho, António Tereno (ex-presidente da Câmara de Barrancos), Inácio Esperança (presidente da Câmara de Vila Viçosa), Beatriz Díez (pintora) e, como acima se referiu, do antigo matador de toiros Juan António Ruiz "Espartaco", de Morante de la Puebla, que esteve acompanhado pelo seu apoderado Pedro Jorge Marques, e também do ilustre ganadero espanhol Álvaro Nuñez del Cuvillo.
Resumindo e concluindo: uma jornada importante, importantíssima, que muito engrandeceu e prestigiou a Tauromaquia. De que o "Farpas" muito se honrou de ter sido parceiro, ainda que apenas com o modesto, mas muito empenhado, contributo de promover aqui ao longo das últimas semanas a realização desta Gala.
Parabéns aos vencedores. Parabéns à brilhante organização. A Tauromaquia é isto. Ou devia ser sempre isto. Uma festa de glamour, uma festa de classe. Mas, sobretudo, uma festa de união entre todos os que vivem nela e vivem dela. E também uma festa louvável e solidária em que foi possível angariar fundos para acções de promoção e salvaguarda da cultura tauromáquica.
Venha a Gala de 2023!
Fotos "Tauronews" e M. Alvarenga