"Juanito" - o número um! |
"Cuqui" - um lutador a marcar posição |
Miguel Alvarenga - João Silva "Juanito" (no patamar mais alto da actualidade e muito distanciado do pelotão) e Joaquim Ribeiro "Cuqui" (um lutador a marcar posição) foram, indiscutivelmente, os mais destacados matadores nacionais nesta temporada de 2022, o primeiro com a particularidade de se estar a afirmar também em Espanha, sobretudo nas praças da Extremadura, onde chegou mesmo a ser distinguido como o melhor do ano nessa zona de Espanha, a competir com os maiores nomes do momento.
A tarde de pouca sorte na confirmação da alternativa em Madrid, na Isidrada, terá adiado, ou apenas atrasado, a afirmação de "Juanito" nas primeiras feiras de Espanha, mas o toureiro aproveitou com unhas e dentes as oportunidades que lhe foram dadas pelo seu apoderado/empresário Joaquín Domínguez (com o apoio visível de Morante de la Puebla, que nele continua a acreditar) nas praças da Extremadura e a realidade é que lançou a escada para vôos mais altos nas próximas temporadas. É o que se espera. A andorinha que morreu em Las Ventas não acabou com a Primavera.
Além de arrastar multidões de aficionados a Espanha sempre que lá se anuncia, "Juanito" é também o matador de toiros que mais público leva às praças em Portugal. Faltou Lisboa em 2022, onde se impunha que tivesse actuado, mas foram importantes - e marcaram a temporada - os triunfos que alcançou em Vila Franca de Xira (sobretudo na tarde do Colete Encarnado), na Moita e também na Ilha Terceira e em Nave de Haver, onde conquistou a aficion nortenha.
Joaquim Ribeiro "Cuqui" assume-se agora, também, como um toureiro de interesse para Portugal. É um lutador nato e está a marcar a sua posição. Iniciou a temporada com o gesto heróico de enfrentar seis toiros da ganadaria Palha na Moita, onde voltou a triunfar em Setembro, havendo ainda que recordar a sua grande faena, também a um toiro de Palha, na Feira de Outubro na "Palha Blanco" em Vila Franca de Xira.
António João Ferreira, Manuel Dias Gomes e João Diogo Fera - os esquecidos em 2022 - são os três matadores de toiros nacionais que completam o ramalhete actual, enfrentando, contudo, a falta de oportunidades que os empresários continuam a (não) dar ao toureio a pé - que continua a sobreviver e a passar entre os pingos da chuva sem o esplendor que teve outrora.
António João Ferreira toureou uma corrida em Mourão (comemorativa do centenário da praça) e esteve, sem sorte, na corrida a pé da Feira de Outubro em Vila Franca. Comemora quinze anos de alternativa no próximo ano, tem um apoderado novo e dinâmico (José Nunes) e por isso esperamos vê-lo mais em praças em 2023, embora saibamos de antemão que as coisas não estão fáceis e as corridas mistas praticamente não existem.
Manuel Dias Gomes é outro matador que faz falta e que prima em todas as suas actuações pela arte e o temple sevilhano que dele fazem um dos nossos melhores muleteros. Toureou este ano no festival de Abril em Sobral de Monte Agraço, no festival da Páscoa em Serpa e apenas em mais duas corridas, a da Ascensão na Chamusca e outra na Ilha de São Jorge (Açores). Muito pouco para um toureiro de tanto valor.
João Diogo Fera, radicado em Espanha, onde este ano não chegou a tourear, pouco se viu também em arenas nacionais. E foi pena. Porque é também um toureiro de arte e que muito podia animar o panorama português. Mas a vontade dos empresários é escassa e a desculpa é sempre a mesma: o toureio a pé não leva gente às praças... Mas leva.
Ricardo Levesinho, gestor das duas praças portuguesas onde o público é mais entusiasta pelo toureio a pé, as da Moita e de Vila Franca, foi em 2022 o empresário que mais corridas a pé ou mistas levou a efeito, havendo ainda que destacar Rui Bento (uma na Nazaré), Luis Miguel Pombeiro (uma em Lisboa, com Morante como único matador, e outra em Idanha-a-Nova), José Luis Gomes (festival no Sobral e corrida da Ascensão na Chamusca), Rui Gato (corrida do centenário da praça de Mourão) e a Toiros & Tauromaquia, que teve a coragem de trazer "El Juli" a Alcochete numa noite fora de data em que o público não correspondeu minimamente...
De Espanha, ao contrário de outros tempos em que praticamente vinham figuras todas as quintas-feiras ao Campo Pequeno, tourearam este ano em Portugal os matadores Morante de la Puebla (Campo Pequeno e Vila Franca), António Ferrera (Chamusca), "El Juli" (Alcochete) e Daniel Luque e Manuel Escribano (em Vila Franca de Xira).
No que respeita ao futuro e embora condicionados pela ausência de novilhadas, continuam a marcar pontos lá fora jovens toureiros, entre os quais assume a primeira e mais destacada posição o valoroso Diogo Peseiro, cuja alternativa pode ser uma realidade no início do próximo ano. Em Portugal, toureou este ano uma única corrida, na Nazaré, com toiros que nessa noite não deram opções de êxito a nenhum dos toureiros.
João D'Alva, Martim Torrão (da Escola da Azambuja) e Leonardo (da Escola de Vila Franca) são, entre outros, mais nomes em destaque para assegurar o futuro do nosso toureio a pé. E Gonçalo Alves, da Escola de Vila Franca, que venceu em Bilbao o ciclo de novilhadas de homenagem a Iván Fandiño, tendo alcançado outros êxitos importantes no país vizinho, é neste momento outro toureiro na calha e que vai dar muito que falar.
Por fim, uma esperança: Tomás Bastos, filho do bandarilheiro David Antunes, sobrinho neto do saudoso Maestro José Júlio, vai finalmente completar os 16 anos de idade em 2023 e a sua apresentação em público é aguardada com a maior das expectativas.
Valores não nos faltam. Falta apenas que os empresários abram as portas ao toureio a pé.
Fotos M. Alvarenga, Carlos Silva/Arquivo e D.R.
António João Ferreira - 15 anos de alternativa em 2023 |
Manuel Dias Gomes com António Ferrera este ano na Chamusca |
João Diogo Fera - outro matador esquecido pelas empresas |
Morante em Agosto em Lisboa - um marco |
Diogo Peseiro - o próximo matador |
João D'Alva - a merecer maior destaque em Portugal |
Gonçalo Alves - a grande esperança |