domingo, 9 de junho de 2024

Tarde séria na Monumental "Celestino Graça" com triunfos notáveis de Francisco Palha e dos Forcados de Santarém

Tarde de triunfo apoteótico para Palha e Forcados de Santarém

Miguel Alvarenga - Mais espectador, menos espectador (muitos e a manifestarem grande entusiasmo, dando aquele ambiente solene e especial, exigente e conhecedor, à Monumental "Celestino Graça", que ganhou imenso nos últimos anos pelo dinamismo que lhe tem sido dado pela gestão da Associação "Sector 9", mas também pela manifesta perda de importância que tem vindo a ter a praça do Campo Pequeno), a praça da capital ribatejana celebrou ontem o seu 60º aniversário (não tarda, está na terceira idade...) com as bancadas bem preenchidas (cerca de meia casa, eu diria forte) e foi palco da tradicional Corrida dos Agricultores/CAP, tendo contado com a honrosa (e aplaudida) presença do secretária de Estado da Agricultura, João Moura, que muito antes de integrar o Governo já marcava presença em eventos do mundo tauromáquico (como deputado do PSD), manifestação de arte e tradição a que nunca virou a cara e que sempre apoio sem quaisquer complexos.

Numa barreira, assistiram o presidente e o secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal, respectivamente Embaixador Álvaro Mendonça e Moura e Luis Mira, que estiveram acompanhados de outros membros da Direcção da CAP e do actual deputado social-democrata Eduardo Oliveira e Sousa, ex-presidente da confederação. Só o Grupo de Forcados de Santarém, por intermédio do seu cabo Francisco Graciosa (primeira pega da tarde), se dignou brindar uma sorte (nesta caso, uma pega) ao presidente da CAP - infelizmente esquecido pelos cavaleiros naquela que era a sua própria corrida...

Artisticamente, a corrida foi um êxito - sobretudo para o cavaleiro Francisco Palha, muitos pontos acima dos seus alternantes; e para o Grupo de Santarém, com seis pegas à maneira antiga, sobretudo as duas últimas, de António Queiroz e Mello e de Francisco Cabaço, dois autênticos e magistrais hinos à nobre e portuguesíssima arte de pegar toiros. A corrida terminou com o Grupo todo em praça a dar uma muito aplaudida volta à arena.

Para o sucesso da corrida muito contribuíram os toiros de Veiga Teixeira e Dr. António Silva, pela imponência, pela majestosa presença, pelo trapio, mas acima de tudo pela seriedade e pela verdade que imprimiram ao espectáculo, dando emoção, trazendo perigo, mostrando que isto de ser toureiro e forcado é coisa para homens de barba rija, não é para qualquer um. 

Numa época em que muitas figurinhas impõem lidar "babosas" para "brincar às touradas" e retiram toda a verdade e toda a emoção ao espectáculo, dá gosto ver toiros como os que ontem sairam à arena de Santarém. E na segunda-feira vêm os Graves. Ali não se brinca às touradas. 

Francisco Palha esteve, como atrás referi, muitos pontos acima dos seus dois companheiros de cartel. Está montado como nunca, está tranquilo e motivado, está em tempo de superação absoluta e de consagração total.

Esperou os seus dois toiros sózinho na arena, com emotivas sortes de gaiola, demonstrando atitude e ganas de que a tarde havia de ser sua - e foi.

O primeiro toiro era de Veiga Teixeira, 530 quilos, um toiro nobre, bonito, sério e exigente, com teclas. Francisco Palha esteve enorme, dando o mote para o que viria a ser uma tarde de cátedra e maestria. Lide emotiva, brega perfeita, emoção nos cites e nos ferros, a entrar pelo toiro dentro. Público rendido, de pé, euforia nas bancadas.

Mas foi no quarto toiro, um exemplar de Dr. António Silva (590 quilos), mais difícil e complicado, reservado e a puxar para o manso, que cedo procurou refúgio em tábuas, foi nesse toiro que Palhinha demonstrou a vontade com que está de sair triunfador-maior desta temporada. 

Toureou o toiro em curto, inteligentemente, evidenciando maturidade, citando-o "contra as tábuas" num assustador palmo de terreno, a pisar a linha vermelha, a emocionar tudo e todos. E pediram-lhe mais um ferro e mais outro e tudo foi igual, imponente, para lembrar, a marcar a tarde e a marcar esta corrida onde se proclamou primeiro entre os da frente. Que se cuidem todos, Palhinha não está para brincadeiras!

Miguel Moura lidou primeiro um toirão da ganadaria Dr. António Silva com 620 quilos e em segundo lugar toureou um Veiga Teixeira com 530 quilos (quinto toiro da ordem).

Respondeu à sorte de gaiola de Palha e cravou um primeiro comprido com muita emoção. O toiro de Silva foi exigente e sério, impondo emoção, transmitindo perigo. Miguel Moura esteve bem, mas ainda não foi desta que deu seguimento ao triunfo apoteótico com que terminou a temporada passada no Campo Pequeno

No quinto da tarde, um toiro de Veiga Teixeira (530 quilos) também muito sério e a impor, a transmitir emoção, Miguel Moura voltou a estar bem, sobretudo nos recortes a mostrar o forro da casaca, mas voltou a andar algo aquém daquilo que todos esperávamos dele nesta temporada depois da forma como se impôs na anterior. Parece desmotivado. E ontem não esteve em Santarém (e era a primeira vez que estava num cartel com força na Feira do Ribatejo) com aquela garra e aquela irreverência que o caracterizam. Para cima, Miguel!

João Salgueiro da Costa toureou em terceiro lugar um belíssimo toiro de Veiga Teixeira (560 quilos) que era o segundo do seu lote, porque o de Silva (nº 18) se lesionou num dos quartos traseiros ao investir para o capote do bandarilheiro e foi recolhido. Em último lugar, Salgueiro enfrentou o sobrero da ganadaria Silva, muito sério e de presença fantástica, com... 630 quilos.

É, foi sempre, um toureiro de imensa raça e de elevado profissionalismo, mas também foi sempre um toureiro algo inconstante e neste momento, sem estar extraordinariamente bem montado, vai alternando o bom com o menos bom. Mas tem a consciência disso, o que demonstra seriedade e humildade da sua parte - no sexto toiro veio à arena entregar o tricórnio ao forcado e recolheu à trincheira, recusando a volta à arena.

Esteve melhor na lide do terceiro toiro da tarde, um Veiga Teixeira de nota altíssima que valeu ao ganadeiro António Francisco da Veiga Teixeira uma merecidíssima volta à arena concedida pelo competente e muito aficionado director de corrida Manuel Gama e muito aplaudida pelo público. Salgueiro nunca virou a cara a um toiro que exigia e tinha teclas. Toureou de verdade e com emoção. "À Salgueiro".

No sexto, o Silva de 630 quilos, andou menos regular, sofrendo alguns toques violentos, esteve longe do seu melhor.

Aplausos para as quadrilhas de bandarilheiros, que raramente intervieram durante as lides, não abusando dos capotazos, que infelizmente é uma prática muito na moda. Demonstraram a sua eficiência e valor sobretudo a colocar os toiros para os forcados. Aplausos, portanto, para Diogo Malafaia e João Oliveira, Nuno Oliveira e Jorge Alegrias, Pedro Paulino "China" e Tiago Santos. Toureiros bons em qualquer parte do mundo!

Frente a toiros de muita verdade, estiveram Forcados de uma raça desmedida. E de um valor acima da média. Está em alta o centenário e glorioso Grupo de Forcados Amadores de Santarém, que ontem teve uma tarde de imensa glória nesta histórica encerrona com os sérios Teixeiras e Silvas.

Já a seguir, vão poder ver aqui todas as fotos. Para já, levanto-me e aplaudo, como o fiz na praça, o cabo Francisco Graciosa (à primeira); Joaquim Grave (na sua segunda tentativa, que foi a terceira para pegar o segundo toiro, o Silva com 620 quilos, a emendar Francisco Paulos, que recolheu à enfermaria, lesionado, felizmente sem muita gravidade); Salvador Ribeiro de Almeida (à primeira); João Faro (à primeira, com uma ajuda imponente de João Manoel, que o acompanhou na volta à arena); António Queiroz e Mello (à primeira) e Francisco Cabaço (à primeira).

Houve brindes variados. Francisco Palha brindou a sua primeira lide ao antigo forcado Vasco Sepúlveda, membro da Associação "Sector 9", e a segunda lide dedicou-a a todos os elementos desta associação; Miguel Moura também brindou aos empresários; e Salgueiro da Costa ao Grupo de Santarém

Os forcados fizeram alguns brindes dignos de destaque: ao presidente da CAP; aos membros da Santa Casa da Misericórdia, pelos 60 anos da Monumental; ao secretário de Estado da Agricultura, João Moura; e à madrinha do Grupo, Maria da Conceição Cabral.

Excelente e muito aficionada direção de corrida por parte de Manuel Gama, que esteve ontem assessorado pelo médico veterinário José Luis da Cruz, com os toques a cargo do cornetim-mor do reino José Henriques.

Aplauda-se o facto de a corrida (sem muito calor e sem a chuva que se chegou a prever) ter decorrido sem intervalo, com bom ritmo e muito entusiasmo entre o público. Uma tarde em grande. E segunda-feira olá estaremos todos outra vez. Agora com lotação esgotada para ver Roca Rey.

Fotos M. Alvarenga


Embaixador Mendonça e Moura e Luis Mira - os
líderes da CAP
Miguel Moura

João Salgueiro da Costa