Miguel Alvarenga - Suporto mais ou menos lá ir (um dia só e chega), respeito quem goste, mas a Feira da Golegã não é minimamente a minha praia.
Ia lá em miúdo com o meu Pai. Aquilo era uma festa solene, com gente que lhe dava toda a solenidade. Lembro-me de ver, a cavalo e bem trajados a rigor, os Senhores Manuel dos Santos, João Núncio, Manuel Conde, David Ribeiro Telles, Alfredo Conde, D. José de Atahyde, José Samuel Lupi, e tantos mais, a cavalo na chamada Manga (aquela coisa em que andam ali às voltas, à roda e à roda e à roda e não há meio de ficarem tontos, nem eles, nem os cavalinhos).
A Feira da Golegã era um autêntico Principado da Tauromaquia. Respirava-se um espírito senhorial, os toureiros e os ganadeiros iam lá em romaria sempre que chegava o mês de Novembro. Conviviam, comiam castanhas, bebiam água pé, falavam de toiros e de cavalos. Havia classe, nível, solenidade.
Depois, com o passar dos anos e sobretudo com a chegada de Abril, a Feira da Golegã tornou-se uma coisa rasca. Para melhor se entender, passou a ser um antro de saloiada que veste uns casaquinhos verdes e usa uns chapéus com penas e pensa que é fidalga por andar com a fidalguia.
Mas ainda se vêem Senhores. E Senhoras, claro. Vi ontem numa caseta o Dr. José Veiga Maltez rodeado de pessoas bonitas - e diferentes. Vi a Família Veiga.
Para a rapaziada nova, aquilo passou a ser a 24 de Julho, copos e bebedeiras e algumas cavalgadas pelo meio. Nos dias outrora mais concorridos, aquilo passou a ser o Metropolitano em hora de ponta. Por outras palavras, deixou de ter a graça que tinha. Com uma agravante: aquilo tem cavalos... que andam no meio das pessoas sem respeito, de qualquer maneira, que chocam com as pessoas, que se tornam um perigo a qualquer hora do dia...
Bom, mas mesmo assim, e porque o meu irmão e a minha cunhada gostam de ver o ambiente e sempre "enfeirar" alguma coisa, passei a ir um dia todos os anos à Golegã. É um bocadinho chato porque tenho que cumprimentar muita gente. Ontem até comprei um boné e de óculos escuros parecia mais o José Cid que eu próprio... fui menos abordado... vá lá.
Almoçámos no "Rédea Curta". Éramos seis, uns comeram e gostaram mais, outros menos. O ambiente é agradável, o serviço é bom, come-se bem, mas acho que já se comeu melhor. Apesar de tudo, aconselho.
Andámos pelo meio da confusão. Poucas casetas abertas, bem sei que era meio da semana, mas mesmo assim muita gente. Poucos toureiros. Vi o Batista Duarte (que para o ano projecta uma temporada de despedida das arenas), a Soraia Costa e poucos mais. Tristão e Mira festejavam ao almoço no "Lusitanus" a sua nova relação de apoderamento. Encontrei Morante de la Puebla, com belíssimo aspecto, com o seu apoderado Pedro Marques, a passear junto da Manga.
E o dia valeu pelos amigos que encontrei. O Luis e a Ana Pestana, amigo de infância, almoçaram connosco, andámos juntos o dia todo. Mas apareceram muitos mais.
Encontrei o meu querido Nuno Mira, que é de Casa Branca (Sousel) e que foi, na nossa meninice, o meu maior amigo do Colégio Valsassina. Digo sempre que ele foi, quanto eu tinha 9 ou 10 anos, o primeiro alentejano que conheci, como se fosse um ET. Ia para o Colégio de capote alentejano, botins e à segunda-feira trazia chouriços e queijo de meia cura. Adoro o Nuno!
Com o Nuno Mira vinham o José Romão da Silva, o célebre "Bobi" que foi um dos grandes forcados da sua geração, dos grupos do Ribatejo e Aposento da Moita; o Zé Telles, que naqueles loucos anos 70 e 80 andava connosco nas fadistagens da capital e festejava todos os anos o seu aniversário na infelizmente desaparecida Cervejaria Alemã, às portas do Cais Sodré; o Manuel Sacramento, também companheiro de muitas paródias e antigo forcado dos grupos de Coruche e Ribatejo.
Logo pela manhã, encontrei o Vasquinho Gomes Ferreira, acabado de chegar à Golegã no seu grande motão. E mais adiante, demos de caras com o Joaquim Afonso (Quim) Correia Lopes, antigo cavaleiro tauromáquico, neto do famoso Ti Afonso (grande referência da minha juventude e dos meus primeiros anos de aficionado), colega do meu irmão Nuno nas recordadas tardes de aulas de explicações com o recordado Dr. Presas. Histórias dos tempos-outros.
Pelo meio, revi os irmãos Lázaro, bandarilheiros de antigamente. Lembrámos tempos passados com a certeza de que não voltam mais.
A Golegã por um dia serve para estes giros reencontros. E, para mim, para pouco mais.
Às voltas pela Manga vi alguns cavalicoques, umas charretes mal amanhadas - e ninguém trajado a rigor, à excepção do Prof. Gorjão Clara e de sua Mulher, ainda e sempre, os maiores exemplos e as recordações mais fiéis do que era a saudosa Feira da Golegã.
Para o ano há mais... por este já chega.
Fotos M. Alvarenga e D.R.
Os 6 Magníficos: eu, o meu irmão Nuno e a minha cunhada Ana, a Fatucha, a Ana e o Luis Pestana. Uma equipa fantástica! |
Ao almoço no "Rédea Curta" |
Companheiros do Valsassina: o reencontro com Nuno Mira |
Com o Nuno Mira, o meu irmão Nuno, Manuel Sacramento e José Romão da Silva "Bobi". Falta o Zé Telles, que estava a provar um casaquinho... |
Logo pela matina, o encontro com o nosso Vasquinho Gomes Ferreira |
O Nuno e o Quim Correia Lopes... a lembrar as aulas de explicações que tinham com o Dr. Presas... |
O cavaleiro tomarense Batista Duarte, que em 2025 se vai despedir das arenas |
Fim de festa, já a noite caía |