sábado, 22 de março de 2025

Campo Pequeno: Charraz tira Pombeiro de cena e chama a si os holofotes do protagonismo da contratação de Ventura

Miguel Alvarenga - Luis Miguel Pombeiro ainda tem alguma coisa que ver com o Campo Pequeno? Se tinha, ontem terá deixado de o ter. É isso que se depreende desta foto (em cima) que o seu parceiro José Maria Charraz estampou ao fim da tarde do dia de ontem nas suas redes sociais - Instagram e Facebook -, tirada 24 horas antes em Sevilha, onde aparece ladeado por Diego Ventura e o seu apoderado Andrés Caballero e onde anuncia, com um (legítimo) sorriso de vitória, que conseguiu o que em oito anos não tinham conseguido Rui Bento e a Drª Mattamouros e depois Pombeiro, ou seja, conseguiu por fim trazer Ventura ao Campo Pequeno.

A notícia é fantástica e todos nos temos que congratular com ela. Diego Ventura, número-um do rejoneio mundial, toureiro que se veste como rejoneador mas que nasceu em Lisboa, vem finalmente tourear ao Campo Pequeno, onde não era visto nem achado, mas era super-desejado, há oito anos. 

Muito bem, Charraz assume o papel de Salvador da Pátria, espécie de Almirante - têm a mesma estatura e tudo - que vem pôr as coisas na ordem e fazer o que os outros não foram capazes de fazer em oito anos de tentativas, de viagens a Sevilha, de recados e telefonemas - sempre sem sucesso.

José Maria Charraz, antigo cabo de forcados (dos Amadores de Beja), tornou-se nos últimos anos um empresário de sucesso em praças de toiros do Alentejo. Bom aficionado, sério, honesto, cumpridor da sua palavra. Mas foi sempre um homem discreto, que fugiu dos holofotes e que nunca procurou protagonismo. Chegou agora a hora de o querer ter. Tem tanto direito a isso como os outros. 

Charraz tem, legitimamente, direito aos 15 minutos de fama a que todos os seres humanos têm direito na vida. Só que não o fez como, nem quando, o devia ter feito. Era preferível que o tivesse feito com mais profissionalismo, com maior ética e, sobretudo, com um pouco de mais respeito por Luis Miguel Pombeiro - que era até aqui o empresário do Campo Pequeno e, pelos vistos, deixou de o ser. A quem relegou para um plano secundário. A quem acabou por humilhar. retirando-o de cena, correndo com ele de um palco - chamado Campo Pequeno - onde passou nos últimos quatro anos muitas noites sem dormir para dar a todos o melhor de si.

A notícia do regresso de Ventura ao Campo Pequeno é, como disse atrás, fantástica. A forma e o timing com que foi dada é que foram, a todos os títulos, lamentáveis.

Uma notícia com a relevância que esta assume, tinha que ser divulgada pelos canais habituais, com a pompa, a classe, o saber e a circunstância que Pombeiro sempre usou, através de um e-mail enviado às Redacções pela empresa Ovação e Palmas - que era, até ao dia de ontem, a responsável pela organização das quatro touradas da mini-temporada da ex-primeira praça do país.

Em vez disso, Pombeiro soube do sucesso da negociação (que não presenciou, com as quais nada teve a ver) de Charraz com Ventura e Caballero através das redes sociais (na publicação a seguir, explico isso tudo).

O timing não foi o melhor. Embora já se saiba o cartel da corrida de abertura da mini-temporada lisboeta (11 de Julho, Paulo Caetano a comemorar 45 anos de alternativa, António Telles, Moura Caetano, Duarte Pinto, Marcos Bastinhas e Miguel Moura), Pombeiro anunciara há dias que no final do mês seria feita no Salão Nobre da praça do Campo Pequeno, a apresentação oficial dos quatro elencos e que vinham aí "novidades surpreendentes".

Mais: estamos a três semanas da corrida de Ventura no Montijo e embora uma não prejudique a outra, o facto de ter sido ontem anunciada a vinda de Diego a Lisboa a 7 de Agosto pode não fazer mal à corrida de 12 de Abril na Monumental do Montijo - mas bem também não lhe faz... E aí, é preciso dizê-lo, Ventura e Caballero também não terão estado bem ao permitir que tivesse vindo ontem a lume, da forma como veio, a notícia do seu regresso à praça da capital.

O timing não foi o ideal. Nem aquele que eticamente era exigível. Mas a forma de divulgar a notícia é que foi ainda pior.

Charraz terá puxado dos cordões à bolsa para contratar Diego Ventura. Esse, o chamado vil metal, terá sido a razão principal da sua ausência em oito anos da ex-primeira praça de toiros portuguesa. O dinheiro que, pelos vistos, os outros não tiveram para contratar Diego Ventura, Charraz teve-o. Mas já não restou muito e essa pode ser a razão porque o cartel não é aquele de que se falava desde finais do ano passado e de que todo o mundo estava à espera: a alternativa de Duarte Fernandes dada por Rui Fernandes, testemunhada por Diego Ventura...

Não se pode também pagar uma (alegada) fortuna a Ventura e depois oferecer migalhas aos portugueses... 

Charraz anunciou ontem à pressa a contratação de Ventura e fê-lo nas redes sociais, como se uma notícia com este relevância e esta importância não merecesse maior pompa e circunstância. Não esperou pelo fim do mês. Não esperou pela cerimónia do Salão Nobre. E muito menos esperou por Pombeiro. Quis o protagonismo, os louros e os holofotes para si, só para si. O dinheiro compra muita coisa, mão não pode comprar a dignidade de Luis Miguel Pombeiro.

Optou antes, em vez de divulgar a notícia pelos canais usuais com que sempre o fez a Ovação e Palmas, por estampar nas suas páginas das redes sociais a foto de Sevilha com Ventura e Caballero e anunciar, num curtíssimo comunicado, que Ventura vinha finalmente ao Campo Pequeno após oito anos de espera, assim como quem diz: "E se vem, foi porque eu o consegui, que nem o Pombeiro, nem o Rui Bento, nem a Drª Mattamouros o tinham conseguido antes". Não lhe ficou bem essa postura.

O comunicado, dado à estampa nas redes sociais de José Maria Charraz, tem em baixo, também, a assinatura da Ovação e Palmas, mas quem aparece no retrato é o "parceiro" Charraz. Pombeiro não está lá. A foto é bonita e vitoriosa para Charraz, mas é uma afronta e uma humilhação a Pombeiro. O empresário do Campo Pequeno era ele. Mas quem contratou Ventura foi o parceiro. Que depois disto passa a ser visto, aos olhos de todos, como o verdadeiro empresário taurino da praça lisboeta.

Resumindo e concluindo: foi bom e há que aplaudir a contratação que Charraz conseguiu e mais ninguém tinha, em oito anos, conseguindo. Não bonita, nem foi correcta do ponto de vista ético, a forma como Charraz a divulgou, puxando para si os galões e o protagonismo do feito, colocando-se ele próprio sob os holofotes da fama e da vitória - e correndo com Pombeiro de cena.

Não foi bonito. Não foi ético. Foi pouco profissional. E sobretudo é lamentável que não tenha havido, na forma de divulgar a notícia, a consideração e o respeito que Luis Miguel Pombeiro merece. E que a própria notícia exigia. Não estamos a falar da praça de Freixo de Espada à Cinta nem de um toureiro Zé da Esquina qualquer.

Uma coisa, eu diria mais, um incidente, como este que aconteceu ontem, seria impensável no tempo em que os empresários eram Senhores e se chamavam Manuel dos Santos, José Guerra, Américo Pena, Alfredo Ovelha, Salvação Barreto, Jorge Pereira dos Santos, José Lino, Ferreira Paulo e António Sousa ou Manuel Gonçalves, Rogério Amaro e Nené, para referir apenas alguns.

Saberão Álvaro Covões e João Gonçalves da mudança? Ou continuam a pensar que o adjudicatário das quatro datas das touradas ainda é Luis Miguel Pombeiro?...

Fotos D.R./José Maria Charraz/Facebook e M. Alvarenga