João José Comenda deixou de estar no activo em 2007, depois de uma carreira gloriosa nos Amadores de Montemor, sempre a honra e a dignificar um apelido histórico entre os maiores das jaquetas de ramagens. Deixou de estar no activo, mas nunca deixou de se fardar e dizer “presente!” nas corridas de Setembro em Montemor, na data de aniversário do seu grupo.
Em 2009 fardou-se outra vez e rabejou os seis toiros de Palha que o Grupo de Montemor pegou em Évora. Em 2023 rabejou um toiro de Veiga Teixeira numa cernelha fabulosa com o actual cabo António Cortes Pena Monteiro, “um momento que jamais esquecerei”, confessa. João José Comenda é, e será sempre, um dos grandes forcados da nossa História e um dos mais emblemáticos do Grupo de Montemor, onde se destacou sobretudo como rabejador exímio.
No próximo dia 12 de Abril vai estar na Monumental do Montijo a capitanear a fantástica Selecção de 78 forcados pertencentes a 25 dos nossos melhores grupos e também aos Amadores do México e aos Amadores de Turlock, da Califórnia.
A formação desta Selecção para pegar na grandiosa Corrida Diferente do Montijo que marca o regresso a Portugal de Diego Ventura num muito esperado mano-a-mano de emoção com a nova estrela do nosso toureio a cavalo, Duarte Fernandes, foi um formato que não agradou a gregos e troianos e que motivou mesmo, nas redes sociais, severas críticas por parte de antigas estrelas da forcadagem, sobretudo de antigos elementos do Grupo de Montemor, o grupo de Comenda.
Nesta entrevista ao “Farpas”, o grande forcado responde aos “contras” e fala da grande responsabilidade de ter aceite comandar as hostes da forcadagem nessa tarde por que todos os aficionados estão à espera.
João José Comenda fala com a mesma classe, o mesmo senhorial respeito por tudo e por todos, e a mesma fontalidade com que andou sempre nas arenas, fardado de Forcado, de cabeça erguida.
- Entrevista de Miguel Alvarenga com colaboração especial de Francisco Romeiras (fotos)
- Sendo o forcado mais antigo dos três que vão representar o grupo mais antigo dos 25 que integram a Selecção, o João José assumiu, penso que pela primeira vez na sua lembrada trajectória, a missão de capitanear esse grupo/selecção de 78 forcados que vai pegar os seis toiros da corrida de 12 de Abril no Montijo. Foi a empresa que o desafiou? Ponderou ou aceitou desde logo essa missão?
- Eu, quando estava no activo como Forcado do grupo de Montemor, fui durante alguns anos o mais velho do grupo e por vezes quando o então cabo Rodrigo Correia de Sá não podia ir, era eu que saía a cabo esporadicamente em algumas corridas; e, ainda antes disso, fui o cabo do Grupo dos Juvenis de Montemor dos 14 anos até aos 18, que foi quando fui para o grupo principal. Quando a empresa contactou o actual cabo António Pena Monteiro e ele me transmitiu essa intenção de que fosse eu o cabo, confesso que não aceitei logo… mas depois acabei por aceitar.
- O facto de se ter formado esta Selecção criou, nomeadamente nas redes sociais, alguma celeuma, parte dela levantada até por emblemáticos forcados que pertenceram ao “seu” Grupo de Montemor, que dizem discordar do formato por considerar que um Grupo de Forcados é “um grupo de amigos que se juntam e pegam toiros” e nesta caso muitos deles nem sequer se conhecem, quanto mais poder dizer-se que são amigos. Quer comentar?
- Nestas situações há sempre quem critique e quem defenda, é uma rotina normal… Claro que sim, que um um grupo de Forcados é essencialmente um grupo de amigos e sem isso não seria um grupo de Forcados porque quando nos fardamos é para, se for preciso, dar a vida pelo amigo que fica em apuros. Mas as seleções também sempre se fizeram e o nosso grupo esteve em várias representado nas diferentes gerações. Eu, em particular, tenho o privilégio de conhecer praticamente todos os Forcados que lá vão estar nesse dia e será, por isso, um privilégio e uma oportunidade única na vida estarmos todos fardados ao lado.
- Certamente não vai ser fácil formar cada grupo de oito forcados para pegar os seis toiros. Acredito no entanto que o João José, com a experiência que tem e com o facto de ser um espectador assíduo das corridas, conhecerá as características de quase todos os 78 elementos que foram a Selecção. Mesmo assim, penso que não será uma missão fácil. Que critérios vão “falar mais alto” para formar cada grupo de oito forcados para os seis toiros?
- Não será fácil formar cada grupo e tenho pensado muito nisso, mas claro que cada elemento irá também transmitir o que deseja fazer e quem está em forma para o fazer da melhor maneira. Não poderão todos lá ir dentro, infelizmente. Com os que tenho falado, já me transmitiram os que querem pegar e estão feitos para isso, depois lá, na hora, vamos ver também, perante as características de cada toiro, como será. Eu penso que não será difícil perante tanto Forcado de qualidade. Teremos é que pensar, se calhar, organizar outra corrida com mais toiros!
- Costumamos vê-lo em praça e a rabejar, normalmente em Setembro na corrida do Grupo de Montemor na sua praça e em datas especiais (mudança de cabo, comemoração de aniversário, etc.). Há quanto tempo deixou de pegar? E quando foi a última vez que rabejou um toiro?
- Desde que deixei de estar no activo em 2007, tenho-me fardado todos os anos em Setembro. Independentemente de ser data especial, é sempre especial porque é o aniversário do nosso grupo. Em 2009 voltei também a fardar-me numa corrida em Évora em que o Grupo de Montemor pegou os seis Palhas e eu rabejei os seis Palhas nesse dia. A última vez que me fardei foi no passado dia 1 de Setembro e rabejei dois toiros. No ano de 2023, também em Setembro, rabejei o toiro Teixeira com o actual cabo António a cernelhar, foi um momento que nunca mais esquecerei.
- A imagem do Forcado Amador sairá desvirtuada com esta Selecção ou tudo ficará como dantes?
- A imagem do Forcado Amador será e sairá, isso sim, enaltecida por estes Forcados todos, cheios de valor, por estarem nesse dia e a essa hora todos juntos! É essa a lição que esta Selecção vai dar no próximo dia 12 de Abril na Monumental do Montijo! Venham todos, que não falte ninguém!