quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A crónica de João Cortesão - todas as semanas aqui no "Farpas Blogue"





Toureiros tipo 
Maria Armanda...

Há já alguns anos apareceu uma menina portuguesa muito querida, que ganhou um prestigiado festival internacional de canto para crianças. A menina cantou "Eu vi um sapo... tara... tara ... tara....". Daí p'ra cá perdeu o pio e nunca mais piou.
Apareceu também um puto simpatiquíssimo de nome Saul, que com bigode postiço cantava "O bacalhau quer'alho" essa obra prima da música ligeira eternizada pelo seu criador o genial Quim Barreiros.
Em Espanha houve igualmente duas crianças geniais, o Joselito e a Marisol (esta, hoje, milita no Partido Comunista espanhol).
Vem isto a propósito de uma conversa que tive com o meu amigo Miguel Alvarenga em que o "Nº 1" fez o paralelismo entre a tal Maria Armanda e alguns toureiritos...
É verdade, meu amigo Miguel, que o paralelismo que fizeste é genial. Quem não se lembra dos putos Juan Pedro Galán e Celso Ortega? E do "Niño de la Taurina"? E do Pareja Obregon? E do Pepe Luís Vasquez filho? Etc., etc. e etc...
Em Portugal, também houve e pode continuar a haver casos destes.
Estes putos começam por apontar coisas boas, mas entretanto, as cargas que lhes põem em cima acabam por os fazer naufragar. Já pensaram que o fenómeno "Michelito" dá a ideia que está a desaparecer?
A propósito do que disse transcrevo uma ode à criança escrita por Robert Musil:
“A criança é criativa porque é crescimento e se cria a si própria. É como um rei, porque impõe ao mundo as suas ideias, os seus sentimentos e as suas fantasias. Ignora o mundo do acaso, pré-elaborado, e constrói o seu próprio mundo de ideais.  Os adultos cometem um pecado bárbaro ao destruir a criatividade da criança pelo roubo do seu mundo, sufocando-a com um saber artificial e morto, e orientando-a no sentido de finalidades que lhe são estranhas. A criança é sem finalidade, cria brincando e crescendo suavemente; se não for perturbada pela violência, não aceita nada que não possa verdadeiramente assimilar; todo o objecto em que toca vive, a criança é cosmos, mundo, vê as últimas coisas, o absoluto, ainda que não saiba dar-lhes expressão: mas mata-se a criança ensinando-a a ater-se a finalidades e agrilhoando-a a uma rotina vulgar a que, hipocritamente, se chama realidade”.
Deixem brincar as crianças... Porra...