A anteceder a corrida, teve lugar a bonita e emotiva Procissão das Velas |
Praça de Moura cheia, ontem, até às bandeiras! Faltou vender poucos bilhetes para esgotar a lotação |
Este ferro de Moura marcou a noite de ontem |
João Moura rejuvenesceu e voltou ontem a estar soberbo em Moura. Embalado pelo memorável triunfo da véspera em Lisboa, o Maestro volta a ter de novo o mundo a seus pés! |
Diego Ventura galvanizou o público, encheu Moura e provocou o delírio nas bancadas. É um toureiro do outro mundo! |
Público de pé, em perfeita euforia, a aclamar Moura Júnior. Duas lides soberbas ontem em Moura reafirmaram o supremo estatuto do primeiro da nova vaga: incontestada figura do toureio! |
Quando a coisa embala, não há quem o agarre! João Moura repetiu ontem em Moura a sinfonia de arte com que na véspera encantou Lisboa. Ventura deslumbrou e galvanizou tudo e todos. E Moura Jr. respondeu com duas lides de sonho. O trio, de outra galáxia, encheu a praça até às bandeiras
Miguel Alvarenga - Faltou vender poucos bilhetes para que a praça de Moura, na alma, mas lá nos confins, do Alentejo, esgotasse ontem a sua lotação. Houve uma verdadeira peregrinação de aficionados, vindos de todas as partes do país, trilhando as complicadas estradas que vão dar à castiça vila alentejana, para assistir a esta grande corrida, com um aliciante cartel de arromba. Nas praças por onde passa e aonde chega, o empresário Rafael Vilhais faz história - e onde fê-la de novo.
Um único senão a apontar, que ao fim e ao cabo é o mais importante de todos: deveria ter tido o cuidado de eleger uma ganadaria que garantisse maiores resultados.
Os toiros de Alves Inácio, ganadaria que lida muito pouco e por isso mesmo é uma incógnita, de desigual apresentação e comportamento pouco claro (deixaram-se lidar melhor os três últimos, sem contudo apontarem grandes dotes de bravura) não desiludiram, faça-se justiça, nem comprometeram o espectáculo, mas a realidade é que foram os toureiros que estiveram por cima deles e que acabaram por dar e provocar algum brilhantismo ao seu desempenho ao longo das lides.
Moura com o mundo
outra vez a seus pés!
Embalado pelo memorável e histórico triunfo da véspera no Campo Pequeno, o Maestro João Moura esteve ontem outra vez soberbo na lide dos seus dois toiros, com destaque especial para a segunda. Abriu de novo o livro, que é um compêndio de arte e maestria que não tem mais fim, e esteve simplesmente enorme. Rejuvenesceu, agigantou-se e está a marcar, como sempre, a diferença na recta final desta grande temporada de comemoração dos seus 40 anos de glória.
No primeiro toiro da noite, que tinha investidas alegres na fase inicial, mas cedo veio a menos, procurando o refúgio em tábuas, Moura esteve na mesma linha do triunfo de Lisboa, com ferros certeiros e em sortes arrojadas de poder a poder, destacando-se na brega e na lide. Entusiasmado com o triunfo, pôs mais um ferro que o público lhe pediu, mas a coisa complicou-se e só depois de muito porfiar, e a sesgo, pisando terrenos de grande compromisso, o conseguiu finalmente cravar. Feriu-se numa perna com uma bandarilha que saltou e deu a volta à arena a sangrar da perna direita junto ao joelho, sendo depois tratado de um pequeno golpe na enfermaria da praça.
No quarto toiro, de melhor nota, a empregar-se ao longo da lide e a crescer ao castigo, João Moura brindou a lide ao aficionadíssimo José Peseiro e deu mais uma tremenda lição de cátedra. O público entregou-se e esta passagem do Maestro pela praça de Moura constituiu mais um acontecimento histórico nesta temporada de regresso aos tempos grandes do "Niño Prodígio" que há mais de 40 anos deixou o mundo inteiro a falar dele. João Moura outra vez com o mundo a seus pés.
Ventura, toureiro do outro mundo!
Também a viver um ano de plena consagração, marcado pelo rabo de Madrid e pela comemoração dos 20 anos de alternativa, Diego Ventura chegou ontem a Moura com a habitual disposição e a inigualável garra de voltar a marcar os aficionados. E marcou. Não é um toureiro deste mundo! Tem que ser de outro!
A sua primeira actuação foi perfeita e empolgante, sobretudo na forma como mexeu com o toiro, mas a insignificância e pequenez do oponente acabou por retirar algum brilho a todo o seu fantástico labor. Brindou esta primeira actuação a João Moura, felicitando-o pelos 40 anos de alternativa e pela lição que 24 horas dera no Campo Pequeno. Um gesto de um Senhor Toureiro.
No quinto da ordem, passou-se do 8 para o 80 no que ao toiro diz respeito. Ventura fez frente a um animal com 610 quilos, exigente, sério e a pedir contas. E deu-lhas todas, sem sequer pestanejar. Tudo pareceu simples no modo como lidou, como cravou, galvanizando o público em sortes de alto risco e que tiveram a sua marca. Única. A praça explodiu de ferro em ferro e Diego reafirmou todas as suas potencialidade, todo o seu imenso magistério e todos os argumentos com que enfrenta e pode com todos os toiros. No final, retirou a cabeçada ao cavalo e cravou um par de bandarilhas monumental. Triunfo forte - na arena e na bilheteira. Taquillero como sempre. A abrir seriamente o apetite aos aficionados para a sua última corrida em Portugal, no próximo dia 9 de Outubro em Vila Franca, onde vai tourear mano-a-mano com António Telles. Ao final, como acontecia com os grandes ídolos de antigamente, Ventura deteve-se uma imensidão de tempo à porta da praça a distribuir autógrafos e a aceder a todos os pedidos dos aficionados para com ele se fotografarem em selfies. Como o Prof. Marcelo.
Moura Jr. bordou o toureio
João Moura Júnior ultrapassou há muito a fase de afirmação e vive agora, de há umas temporadas para cá, o momento de consagração total, solidificando de corrida em corrida o supremo estatuto de primeira figura do toureio. Era algo reservado e pouco claro nas investidas o seu primeiro toiro, mas o jovem Moura deu-lha a volta à custa da sua muita entrega e do seu notável profissionalismo e maturidade. Está confiante, super bem montado e capaz de fazer frente a qualquer desafio. Há atitude e serenidade em todas as suas actuações, o que transmite confiança e um fulgor que faz, de todo, a diferença.
O último toiro tinha outra chama e com ele João Moura Jr. bordou o toureio. Lidou na perfeição, cravou com rigor e bregou com a arte e o temple do toureio mourista - que encanta os aficionados. Lide brilhante e destacada numa noite em que pôs tudo de si e da sua arte, deixando sobressair que não fica atrás numa competição com Ventura. Agora, sim, justifica-se o grande despique e o tal mano-a-mano - que no ano passado pouco entusiasmo gerou em Estremoz.
Toiro teimoso atrasa corrida
O Real Grupo de Forcados Amadores de Moura pegou em solitário os seis toiros, como já aqui se referiu em pormenor, na comemoração do seu 47º aniversário, que até teve direito a honras de homenagem por parte do presidente da Câmara, Álvaro Azedo. Comemoram-se, e têm justificação, efemérides de 25 anos, de 50 anos, agora até as de 10 anos. 47 anos de actividade não é um número redondo, nem tem um significado por aí além. Por esta ordem de ideias, o Real Grupo de Moura teria que ser homenageado todos os anos. Quando fizer 48 anos, quando fizer 49, por aí além... Adiante.
Sem fazer muito mal, os toiros de Alves Inácio tiveram investidas "brutas" e com velocidade acima da média e o grupo nem sempre pôde com eles. Não se pode dizer que a comemoração tenha sido brilhante, destacando-se um grande forcado: João Cabrita, na rija pega ao quarto toiro da noite.
A corrida iniciou-se com a bonita e emotiva Procissão das Velas, em que se incorporaram os toureiros, bandarilheiros e forcados. E ao intervalo, no páteo de quadrilhas, foram descerradas duas placas para homenagear e assinalar os 40 anos de alternativa de João Moura e os 20 de Diego Ventura.
Agostinho Borges dirigiu a corrida de ontem com o habitual acerto e elevada competência, assessorado pelo Dr. José Guerra (filho), médico veterinário. Algumas dificuldades na execução das pegas e a teimosia do quinto toiro em recolher aos currais, acabando essa eternidade por ser resolvida pelo eficiente embolador Luis Campino (antigo forcado), depois de quase meia-hora de atribuladas incidências, fizeram com que a corrida se prolongasse por mais de três horas. Cheguei a Lisboa já depois das quatro... e não terei sido o único a chegar tão tarde a casa. É preciso ser muito aficionado... irra!
Fotos M. Alvarenga e González Arjona/@Diego Ventura oficial