O crítico tauromáquico "é um desgraçado que tem que poder com todos", já o dizia D. Bernardo Mesquitella, que foi de todos o maior e ainda hoje é recordado como tal
Aficionado, antigo toureiro e notável escritor e crítico tauromáquico, D. Bernardo da Costa de Sousa de Macedo (Mesquitella) (foto) nasceu em 1899 e morreu em Lisboa a 3 de Março de 1967.
Acérrimo partidário da corrida de toiros integral, defendeu-a no seu tempo com o maior entusiasmo, procurando estabelecê-la nas arenas nacionais. Escreveu vários livros sobre o tema, o mais famoso dos quais foi "Toiros de Morte", publicado em 1930 (ao lado).
Integrou em duas ocasiões a empresa gestora da praça de toiros do Campo Pequeno, a primeira das quais nos anos de 1936 e 1937 associado a José Rodrigues Teixeira; e a segunda de 1938 a 1940, com Pinto Barreiros, Dr. Emílio Infante, Máxime Vaultier, Justo Guimarães e Henry Chatelanaz.
Entre os inúmeros e inigualáveis textos que nos deixou, escolhemos hoje este, precisamente dedicado à difícil e nem sempre compreendida função dos críticos tauromáquicos:
"Quem escreve de toiros num meio tão pouco entendido como o nosso, não tem o direito de esconder o seu pensamento atrás de palavras menos claras. Dizer a verdade, aquilo que em nossa perfeita consciência nos pareça ser a verdade, é o primeiro dever de todos aqueles que se entregam ao ingrato labor de escrever para o público, qualquer que ele seja e muito especialmente quando se trate de um público, como o nosso, que ainda está mais ou menos por educar e orientar.
"Mais difícil que ser filósofo, menos fácil que ser ministro, mais custoso ainda que ser toureiro, é ser crítico de toiros em Portugal. O filósofo, quando menos o percebem, mais o admiram. O ministro pode fazer tolices, comprometer o bom nome da nação, sacrificar ao interesses das clientelas o interesse nacional - e nada disto impede que a pátria, reconhecida, lhe levante uma estátua. O toureiro, se é bem, não tem mais que um inimigo, que é o toiro - e, mesmo quando não pode com esse, diz ao público que não presta e o público não lhe nega as suas palmas. O crítico, pelo contrário, todos o compreendem e ninguém o admira; e tem inimigos nos toiros, nos toureiros, nos públicos, nos filósofos e até nos ministros. Desgraçado, tem que poder com todos".
Fotos D.R.