Festival de Sobral cumpriu ontem aquilo que se exige em dia de luto nacional: Bandeira de Portugal a meia haste. E ao início guardou-se um minuto de silêncio em memória do Papa |
Miguel Alvarenga - O frio (depois de um dia de calor, que estranho que anda este tempo...) e o vento, que em nada ajudou o toureio a pé na segunda parte do festejo, não foram propriamente companheiros agradáveis dos muitos aficionados que na tarde deste feriado estiveram na praça de toiros de Sobral de Monte Agraço (que registou uma entrada de pouco mais de meia casa) para, um ano mais, assistir ao tradicional festival a favor da Tertúlia Tauromáquica Sobralense, uma primorosa organização do empresário José Luis Gomes, sempre com um cartel atractivo e bem rematado - um dos poucos festivais de início de cada temporada onde, como acontece em Mourão, se dá importância e destaque ao toureio a pé. Que depois, e por norma, adormece ao longo da temporada e raramente tem lugar nos cartéis que vêm a seguir. Mudaram-se os tempos, mudaram-se as vontades. Por acaso este fim-de-semana marca a diferença: já no próximo domingo há uma corrida mista em Almeirim, ou não fosse Rui Bento, seu promotor, uma antiga figura do nosso toureio a pé. Adiante.
Homenageou-se o Papa Francisco com um respeitoso minuto de silêncio ao início do festival e com a bandeira de Portugal a meia haste, cumprindo aquilo que se exige num dia de luto nacional.
Ao fim de 51 anos, apesar de ter sido pelos piores motivos (a morte do Santo Padre), o dia 25 de Abril foi dia de luto nacional. Uns protestaram por isso. Outros aplaudiram aquilo por que esperaram mais de meio século...
E homenageou-se a memória de Manuel dos Santos, figura ímpar do toureio e dos empresários, no ano em que se assinala o centenário do seu nascimento. Ao início do festival, foram à arena os netos do nunca esquecido matador de toiros, Manuel e Diana, a quem o empresário José Luis Gomes, bem como o Presidente da Câmara e o Presidente da Tertúlia Sobralense fizeram a entrega de lembranças alusivas à efeméride. Aplauso caloroso do público no momento em que se rendeu homenagem à memória do grande e sempre eterno Manuel dos Santos.
Lidaram-se a cavalo três novilhos de Lopes Branco - algo andarilho de inicio, mas depois permitiu uma boa lide, o primeiro; de melhor nota o segundo; incómodo e a adiantar-se o terceiro, ao qual Vasco Veiga deu inteligentemente a volta.
Ana Batista (que esta temporada comemora 25 anos de alternativa) teve de início alguma dificuldade em cravar os compridos num novilho andarilho e que não se fixava, mas depois deu a volta à situação com o seu belíssimo cavalo com o ferro de Pablo Hermoso, terminando em grande nível, com dois ferros de muita emoção.
Tristão Telles de Queiroz é sempre uma alegria! Toureiro de raça e com uma empatia fortíssima com o público, desenhou uma lide pautada pelo bom gosto, pela arte e pela casta com que se tem vindo a afirmar desde que no ano passado recebeu a alternativa. É um cavaleiro em constante ebulição e 2025 vai ser um ano importante para se afirmar.
Vasco Veiga começou por tourear a pé e agora decidiu ser cavaleiro (ainda amador). Tem alma, tem casta, arrisca e tem classe. Foi uma agradável revelação em 2024 e pelo que lhe vimos ontem fazer, com um novilho que não era fácil, que se adiantava e que queria ser ele a mandar, mas o Vasco não deixou, foi ele quem mandou, ficou a certeza de que este jovem cavaleiro pode ir longe e de certeza que não vai ser apenas mais um. Tem todas as condições para ser um caso.
Bem as quadrilhas de bandarilheiros, com destaque para Pedro Paulino, António Telles Bastos, Duarte Alegrete, Benito Moura e Luis Brito Paes.
Os forcados de Lisboa e de Arruda dos Vinhos puseram ontem à prova elementos novos e a verdade é que as coisas nem sempre funcionaram como certamente os cabos desejavam. Os novilhos não complicaram, as maiores complicações foram os forcados quem as criou. Duas pegas do Grupo de Lisboa ao terceiro intento; e a do Grupo de Arruda ao segundo. Por Lisboa pegaram Manuel Braga e José Batista: e pelo Grupo de Arruda pegou Tiago Pombo.
No toureio a pé, com o vento em fim de festa a não ajudar nada, antes pelo contrário, viram-se três faenas agradáveis pelo empenho e a arte dos seus três protagonistas. Os novilhos para os espadas eram de Passanha Sobral, ganadaria lusa muito cotada em Espanha. Bom o de David Galván, complicado o de Manuel Dias Gomes, pouco claro nas investidas o último, que coube ao valoroso e empenhado novilheiro Vicente Sánchez.
David Galván é um matador novo que se está a revelar e no ano passado deixou nome e o perfume da sua arte na principal praça do mundo, a de Madrid, onde na próxima Isidrada vai voltar para confirmar a alternativa. Viu-se que é bom numa faena de bom gosto e entrega.
Manuel Dias Gomes continua a tourear com a arte dos sevilhanos e o temple dos eleitos. O seu novilho não ajudou, mas Manuel esteve por cima, bonito e artista com o capote, variado e cheio de oficio com a muleta, a dar a volta ao oponente com saber e com experiência.
Vicente Sánchez é português, apesar do apelido que baralha as pessoas, atrás de mim havia mesmo quem garantisse que era espanhol (apelido que se calhar lhe inventaram, não sei, assim como noutro tempo também puserem Vásquez ao Rui Bento, que por sinal ali estava ontem a apoiar o toureio a pé - como sempre está).
Aluno da Escola de Vila Franca, a que tem o nome do sempre lembrado José Falcão, foi no ano passado o triunfador da regressada novilhada da Orelha de Ouro (na Nazaré) e ontem explicou porquê: tem ganas de ser figura, tem no sangue a raça dos que querem ir longe e a cabeça funciona. Toureou muito bem um novilho que não facilitava e por várias vezes o procurou com intenções de o atirar aos ar. Deixou ambiente. Deixou promessa.
Entre tábuas estava Vitor Mendes, o seu mestre. E António João Ferreira também. Dois professores de peso a apoiar um jovem que pode andar para a frente.
Nas lides a pé, esteve à prova o imenso valor destes destacados bandarilheiros, que reinaram precisamente na arte de bandarilhar: João Pedro Silva ("Açoriano"), Joaquim Oliveira, João Ferreira e Fernando Fetal.
Bem dirigido o festival pelo sempre eficiente Ricardo Dias, assessorado pelo reputado médico veterinário Jorge Moreira da Silva, com José Henriques a dar os toques.
Houve um brinde de Ana Batista a José Luis Gomes, empresário promotor do festival e seu antigo apoderado; brindes dos forcados aos netos de Manuel dos Santos, ao Presidente da Câmara de Sobral e ao Presidente da Tertulia Sobralense; Vicente Sánchez brindou a sua faena aos jovens alunos da Escola "José Falcão", seus companheiros.
Fotos M. Alvarenga
Manuel e Diana, netos de Manuel dos Santos, receberam ao início do festival as homenagens com que se recordou o grande Toureiro no centenário do seu nascimento |
Ana Batista |
Tristão Telles de Queiroz |
Vasco Veiga |
David Galván |
Manuel Dias Gomes |
Vicente Sánchez |