segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Digna despedida de Marco José ontem em Évora

José V. ClaroVantagem de ser coberta, a Arena D'Évora registou ontem uma agradável entrada de público a preencher cerca de três quartos da sua lotação, para assistir à última corrida da temporada de luxo na Cidade-Museu, apesar do dia de chuva que marcou este último domingo do mês de Outubro.

Estavam anunciados, a provocar expectativa, pela primeira vez nesta praça, seis toiros da ganadaria Fontembro, de José Lavrador, mas, por razões não explicadas, apenas se lidaram quatro, sendo dois substituídos por exemplares da ganadaria de Jorge Mendes, de Alcácer do Sal, os saídos à arena em segundo e quinto lugares.

A corrida abriu com uma lide de muita maestria de João Moura frente a um toiro de Fontembro de boa nota e com pata. Entre o Maestro Moura e Évora existe há muitos anos e desde sempre uma empatia "mútua", que ontem voltou a brilhar e a recordar tantas tardes inesquecíveis de outros tempos na antiga praça que depois deu lugar a esta moderna (e infelizmente sem barreiras) Arena D'Évora

Moura ainda e sempre em grande a fechar uma temporada marcada por algumas actuações históricas e recordadas intervenções em duas das encerronas de seu filho João, as de Santarém e Portalegre. Na próxima temporada, comemora o 50º aniversário da sua primeira gloriosa saída em ombros pela Porta Grande da Monumental de Madrid (1976) e muitas novidades serão em breve anunciadas.

Marco José toureou o segundo toiro da tarde, da ganadaria de Jorge Mendes, com 485 quilos, naquela que foi a última corrida da sua carreira de trinta anos de alternativa. Sem ter sido uma primeiríssima figura do toureio, o cavaleiro de Leiria, há vinte anos radicado em Évora (praça onde nunca tinha actuado e que elegeu para ser cenário da sua derradeira tarde de toiros), passou pelo mundo da tauromaquia com uma imensa dignidade e, acima de tudo, uma grande paixão, sem nunca defraudar todos aqueles que o admiraram e seguiram ao longo de três décadas.

Ontem, depois de brindar a seu pai, o grande impulsionador da sua carreira, Marco José realizou uma lide de menos a mais, que teve um início algo irregular, mas que acabou em beleza com o célebre cavalo "Girassol", estrela da sua quadra, com ferros de excelente e alta nota. Uma despedida das arenas com toda a dignidade - tal como ficou marcada durante trinta anos a passagem de Marco José por este mundo da tauromaquia, onde, sem ter sido um "primeiro", também nunca foi um "segundo". Adeus, Toureiro!

Consigo, despediu-se também das arenas o seu fiel bandarilheiro Francisco Paulino, a quem Marco José cortou a coleta. Outro toureiro digno e valoroso que quis ontem partilhar com o seu cavaleiro a mesma hora da despedida. 

Seguiram-se Gilberto Filipe, com a raça e o bom toureio de sempre; Manuel Telles Bastos, que não esteve ontem nos seus melhores dias, não dando volta à arena; João Salgueiro da Costa, com o segundo (e bom) toiro de Jorge Mendes, que demonstrou como é possível o petardo e o êxito conviveram lado-a-lado na trajectória de um toureiro de eleição, triunfando nesta última actuação do ano, depois da noite para esquecer em Vila Franca; e ainda António Prates, que fechou a temporada eborense com uma grande e muito aplaudida actuação frente a um toiro sério de Fontembro.

Pegaram os forcados de Montemor e de Évora

Pelos de Montemor, que estiveram superiores, foram forcados de cara Joel Santos (à primeira tentativa), José Maria Cortes Pena Monteiro (com um pegão também à primeira e uma ajuda brilhante do cabo e seu irmão António, que o acompanhou merecidamente na volta à arena) e José Maria Marques (também ao primeiro intento).

Pelo grupo anfitrião pegaram Martim Lobo (à quarta), João Maria Cristóvão (à primeira) e Henrique Burguete (à quarta).

A corrida teve excelente direcção de António Santos, que esteve assessorado pela médica veterinária Ana Gomes. Ao início foi guardado um respeitoso minuto de silêncio em memória do saudoso Rui Souto Barreiros, lenda da forcadagem, antigo cabo dos Amadores do Ribatejo, falecido no sábado com 82 anos e que hoje vai a sepultar na Golegã.

Foto D.R.