Miguel Alvarenga - Ontem na televisão, em todos os canais, ouvi muitos comentários de várias personalidades da vida política relatando as suas vivências com Francisco Pinto Balsemão, que morreu com 88 anos. Nunca tive qualquer vivência, nunca privei com tão importante referência do mundo da Comunicação Social. Mas guardo uma memória, uma história. De gratidão. Pelo carinho, pelo incentivo, pelo apoio que me deu quanto eu tinha apenas 10 anos e publicou uma foto minha elegendo-a como vencedora num Concurso de Fotografias do seu "Diário Popular".
Em Março de 1969, eu tinha 10 anos, fazia 11 em Agosto. O meu Pai tinha-me oferecido a primeira máquina fotográfica, uma Kodak igual a esta que encontrei há uns tempos numa feira (fotos de baixo) e íamos muitas vezes ao Jardim Zoológico. O meu Pai adorava lá ir e eu também, gosto que cultivei ao longo de muitos anos, ali levando os meus filhos e agora o meu neto.
Naquele dia, lembro-me de que estive imenso tempo a olhar para o hipopótamo à espera que ele abrisse a boca. E quando abriu, fotografei-o.
O meu Pai achou piada àquela foto e enviou-a para o “Diário Popular”, que ao tempo tinha um concurso permanente de fotografias.
O meu Pai era nesse tempo ajudante do Ministro da Marinha. Francisco Pinto Balsemão, deputado da Ala Liberal com Sá Carneiro, Pinto Leite e outros, era o dono do “Diário Popular”. A quem o meu Pai enviou a minha foto e que a elegeu, publicando-a e dando-lhe o título “Gosando o Sol”, referenciando: “Fotografia de Miguel de Alvarenga (10 anos de idade), (…) obtida no Jardim Zoológico (Lisboa) e enviada para o concurso permanente do Diário Popular”.
Uns dias depois, Francisco Pinto Balsemão devolveu o original da minha fotografia ("a bela fotografia do seu filho", teve a amabilidade de escrever) ao meu Pai, enviando-a para o Ministério da Marinha, acompanhada deste simpático cartão (que reproduzo em baixo) que ainda hoje guardo com estima e orgulho, onde escreveu: “Com os melhores cumprimentos, desejo-lhe boa viagem e junto devolvo a bela fotografia do seu filho que, como sabe, foi já publicada no Diário Popular”.
E este foi um gesto de Francisco Pinto Balsemão, já já vão quase 60 anos, que jamais esqueci e hoje aqui quis partilhar convosco, em jeito de homenagem e gratidão, ao mesmo tempo que expresso as minhas condolências a toda a sua Família, Mulher, filhos e netos em particular.
Não sei se foi, como muitos ontem o referenciaram, um grande político (fundou o PPD com Sá Carneiro e Magalhães Mota, antes do 25 de Abril fora corajoso deputado da Ala Liberal e depois da tragédia de Camarate assumiu durante três anos a presidência do Governo sucedendo a Sá Carneiro). Mas não tenho dúvidas de que foi o mais importante empresário da Comunicação Social, um jornalista ousado e visionário. Fundou o “Expresso” um ano antes do 25 de Abril, fundou a SIC, teve um império no mundo do jornalismo e foi o pai da primeira Lei de Imprensa - em e com liberdade.
No “Diário Popular” lançou Vera Lagoa, minha “mãe” nesta profissão de que cumpro meio século no próximo ano, apostando nela com todas as forças como primeira cronista social da imprensa portuguesa.
Nunca privei com Francisco Pinto Balsemão, cumprimentei-o meia dúzia de vezes nas longas noites eleitorais que os jornalistas passavam na Gulbenkian. Mas admiro-o pelo que foi e pelo que fez em prol do jornalismo. Curvo-me respeitosamente perante a sua memória. E expresso os meus sentidos pêsames a toda a Família.
Que em paz descanse.
Fotos D.R.
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A minha primeira Kodak e a foto premiada |