segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Morante: e depois do (a)Deus...

O inesperado corte de coleta, ontem em Madrid, do Deus do Toureio é hoje manchete da maioria dos jornais espanhóis (foto de cima). Nem Pedro Marques (com o Maestro na foto de cima), o apoderado, o amigo, o confidente, lhe passava pela cabeça o que viria a acontecer na tarde de ontem na arena de Las Ventas, Madrid, a primeira praça de toiros do mundo. 

Ninguém imaginava o que ia na cabeça de Morante. De José António Morante Camacho, o génio de La Puebla del Rio, "o melhor toureiro da história", como o refere José F. Peláez no jornal "ABC" de hoje. "Toureiro histórico, o mais completo de todos os tempos", como o referencia a jornalista Rosario Pérez no mesmo jornal. "Deixa o toureiro orfão", como escreve Zabala de la Serna no "El Mundo".

Morante toureara ontem de manhã em Madrid no festival por si organizado em homenagem à memória do famoso toureiro António Chenel "Antoñete", cuja estátua fora na véspera inaugurada em frente à Monumental de las Ventas. Esteve sublime e cortou uma orelha, numa manhã em que o tempo voltou para trás e Curro Vásquez e César Rincón cortaram duas orelhas cada, saindo em ombros ao lado da promissora novilheira Olga Casado.

À tarde, Morante era o cabeça de cartaz da tradicional corrida do Dia de Espanha, marcada pela despedida das arenas do matador Fernando Robleño e pela confirmação da alternativa de Sérgio Rodríguez. Lidaram-se toiros da ganadaria Garcigrande, sérios e de jogo variado, destacando-se o primeiro e o terceiro.

Morante de la Puebla foi silenciado no primeiro toiro, em que escutou ainda alguns assobios. Brindara a faena a Isabel Díaz Ayuso, Presidente da Comunidade de Madrid.

A faena do quarto toiro brindou-a a Santiago Abascal, Presidente do partido Vox, seu amigo. Quando toureava de capote, sofreu uma aparatosa colhida e ficou estendido na arena, quase perdendo os sentidos (fotos em baixo). Recuperou e desenhou com a muleta uma faena de antologia, premiada com as duas orelhas, que garantiram, poucos meses depois da Isidrada, a sua segunda saída em ombros pela Porta Grande de Las Ventas. Ninguém imaginaria que aquela seria a última faena da carreira de Morante.

E, quando menos se esperava... eram exactamente sete horas e trinta e quatro minutos da tarde de domingo, 12 de Outubro, Dia de Espanha, quando Morante terminou a volta à arena e se dirigiu ao centro da praça, tirando (cortando) a coleta com as suas próprias mãos. Olhar triste e perdido, lágrimas a escorrer pela cara, disse adeus e dirigiu-se à trincheira. Estava, ninguém imaginava, a despedir-se das arenas, a dizer adeus à profissão.

Sem querer, acabava de ofuscar a tarde de despedida de Fernando Robleño, que viria a acontecer no toiro seguinte, com os filhos a cortarem-lhe a coleta.

Com a praça esgotada, o resultado foi este: Morante foi silenciado no segundo toiro da tarde, primeiro do seu lote, e cortou as duas orelhas ao quarto, saindo pela segunda e última vez em ombros de Madrid; Fernando Robleño foi silenciado no seu primeiro toiro e cortou uma orelha ao segundo, o toiro da despedida das arenas; e Sérgio Rodríguez, que confirmou a alternativa, foi ovacionado no primeiro toiro e escutou algumas palmas no outro.

Depois da corrida, muitos aficionados concentraram-se diante do Hotel Wellington, não muito longe da praça, aclamando Morante aos gritos de "José António Morante Camacho, Morante de Puebla!". O toureiro veio à janela acenar e agradecer aos fãs.

"Que será de nós amanhã, sem Morante?" - questionavam-se muitos aficionados à frente do hotel.

O Deus do Toureio passou uma noite tranquila e emotiva com amigos. E já se encontra em Portugal, mais concretamente na Marinha Grande, em casa dos pais do seu apoderado Pedro Marques, Fernando e Guiomar, onde vai passar os próximos dias.

Fotos Plaza 1 e Juanelo Pérez/"Mundotoro"



A aparatosa colhida quando toureava de capote o seu último toiro






Morante desenhou uma faena de antologia, premiada com as duas
orelhas do toiro. Depois foi ao centro da arena e deixou todos de´
boa aberta ao cortar a coleta e despedir-se das arenas...

A corrida de ontem marcava o adeus às arenas do valoroso
Fernando Robleño, a quem os filhos cortaram a coleta. Mas
a cerimónia foi ofuscada pela inesperada despedida de Morante

A segunda e última saída em ombros de Las Ventas de Morante
O Maestro a acenar aos fãs na varanda do Hotel Wellington