quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Na recta final da temporada: Alvarenga "pontua" cavaleiros de 1 a 10



Faltam meia dúzia de corridas, as feiras da Moita e de Vila Franca e a temporada tauromáquica está praticamente concluída, tudo levando a crer que já pouco se alterará no que respeita às classificações com que podemos, desde já, avaliar os principais cavaleiros intervenientes nesta época de 2011. Miguel Alvarenga faz hoje uma primeira avaliação, pontuando os mais destacados ginetes com notas de 1 a 10. Vamos ver...

João Moura: 10 - Mais de três décadas depois de ter revolucionado o toureio a cavalo, sendo o verdadeiro autor do chamado toureio actual, o Maestro Moura continua indiscutivelmente no topo. E mais que isso: é ainda um dos poucos toureiros que levam público às praças. Obviamente que sem a euforia de outros tempos, quando Lisboa e outras praças esgotavam com dias de antecedência para o ver - mas que leva, leva. Tem pecado, nesta fase final da sua carreira, pelo excesso de presenças em praças portáteis, mas entende-se como uma estratégia para lançamento do filho Miguel, que tem ombreado nessas arenas a seu lado. No entanto, nos primeiros palcos da tauromaquia lusa, casos de Lisboa, Santarém e Montijo, entre outros, a estrela mourista voltou a brilhar a toda a prova. Nota máxima, por isso.

Joaquim Bastinhas: 10 - Veterania e experiência marcaram também, uma vez mais, a temporada do sempre alegre Joaquim Bastinhas. Melhor com os anos, espécie de vinho do Porto, o cavaleiro de Elvas continua a arrasar por onde passa. A corrida dos veteranos, que assinalou o 119º aniversário do Campo Pequeno e onde alternou com Moura e Telles, fica na memória como uma das melhores do ano na arena da capital. Há uma tendência normal, em qualquer profissão, para o declínio de um artista em fase final de carreira. Com Bastinhas acontece o contrário: o público e os aficionados cada vez gostam mais dele. E a sua presença, apesar da existência de uma enorme falange de novos toureiros, continua a ser reclamada e apreciada em qualquer cartel. Noa máxima, também.

António Ribeiro Telles: 10 - Impôs o seu estilo clássico num momento em que o toureio a cavalo "virava a página" e nunca se deu mal com isso. Chegou e disse: eu sou assim! E assim se manteve até aos dias de hoje, jamais embarcando nas modas, jamais "beliscando" as regras mais regras de todas as regras. É e continua a ser considerado um clássico. Viveu em 2010 aquela que muitos consideram a sua melhor temporada dos últimos anos. Bem montado, com uma solidez, uma regularidade e uma constância que marcaram. Nota máxima para o Maestro da Torrinha. Diferente - sempre!

Rui Salvador: 10 - Creio que toureou menos este ano. Mas bem. Sempre bem. Salvador já não precisa de provar nada a ninguém. Com 27 anos de alternativa, mantém inalterável o estatuto de cavaleiro "dos ferros impossíveis". É um toureiro que arrisca, dá a cara e joga o pêlo em todas as praças e diante de todos os públicos. De uma honestidade e um profissionalismo enormes. Manter-se-à nas arenas, pelo menos até ao (previsto) lançamento de seu filho Bernardo. Já tem continuador - mas continua ele próprio. E ainda bem. Nunca poderia ser pontuado abaixo da nota máxima.

Luis Rouxinol: 10 - Na primeira temporada sem o seu saudoso apoderado Mário Freire, prestou-lhe a maior das homenagens mantendo a regularidade de triunfos que tem caracterizado a sua carreira. É um dos toureiros que, vindo do nada, singrou e subiu a corda a pulso à custa do seu desmedido valor. Conquistou uma posição e um lugar que dificilmente perderá. Chega a "irritar" o facto de estar sempre bem. Rouxinol não sabe estar mal. 2011 voltou a ser um ano em grande. Com a particularidade de ter sido a temporada de estreia nas arenas de seu filho Luis - digno e promissor seguidor de um nome com que no início "brincavam", mas que agora todos acarinham e, mais que isso, respeitam!

João Salgueiro: 8 - Épocas como as que viveu com os célebres cavalos "Isco" e "Herói" são tempos que já lá vão e que não se repetem - porque foram únicos. Os aficionados guardam essas históricas temporadas na memória e por isso é natural que façam comparações com as de hoje. Salgueiro perdeu aquela regularidade a que nos habituara, mas é um toureiro-génio (como existem poucos) e que pode surpreender quando menos se espera, assim como pode passar sem por ele se dar numa ou noutra corrida. Ultrapassados que estão alguns problemas de índole pessoal e particular que, como é normal, terão prejudicado o seu início de temporada, recuperou a forma a meio do ano e é provável que ainda reconquiste, até final da temporada, o lugar que é seu. A corrida da Moita com Hermoso é uma meta e um desafio que pode trazê-lo de novo para a ribalta. Como sucedeu há uns anos naquela mesma arena.

Rui Fernandes: 10 - Rebentou a escala em 2011. Mais maduro, mais toureiro, super-bem montado, somou triunfos em Espanha (coleccionando orelhas e saídas em ombros) e afirmou-se definitivamente em Portugal, onde tardavam em reconhecer o seu valor. Em poucas palavras se pode definir a sua trajectória nesta época de ouro: Rui Fernandes é neste momento, na minha opinião, o grande triunfador da temporada portuguesa.

Vitor Ribeiro: 8 - Salvaguardando as devidas distâncias e até o tempo de carreira que os separa, quase que diria de Vitor Ribeiro o mesmo que disse de Salgueiro. É um cavaleiro de imenso valor, que tarda em dar o salto porque todos esperamos há já alguns anos. Alia o bom com o irregular e tão depressa está muitíssimo bem como anda apagado. Toureia com verdade e toureia com valor. Surpreende, também, quando menos se espera. No contexto geral, a sua temporada é positiva. Mas de Ribeiro espera-se sempre mais. E quando acontece, deslumbra.

Ana Batista: 7 - Andou menos regular do que era normal. E também foi menos vista em corridas de maior importância. Mesmo assim, manteve a classe e a verdade-toureira que têm sido sua "imagem de marca" em onze anos de alternativa.

Sónia Matias: 7 - Continua sendo um caso notável de popularidade. Penso que, também em onze anos de alternativa, tem conseguido atingir os seus objectivos. Manter-se, com o estatuto de figura, num meio que à partida estava reservado aos homens, já por si é uma vitória e faz dela um caso histórico, como Ana, na própria história do toureio.

Pedro Salvador: 8 - É um cavaleiro que tem tido altos e baixos. A sua carreira começou lá em cima, veio por aí abaixo, neste momento está de novo a subir em flecha. Tem um percurso estilo gráfico, ora lá em cima, ora cá mais abaixo. Em 2011 destacou-se por ter subido de forma e recuperado algum do tempo que perdera. É um toureiro ousado, atrevido e que arrisca. Um daqueles que pode "disparar" de um momento para o outro. Acredito nele.

Filipe Gonçalves: 8 - O "furacão algarvio" era um toureiro limitado às corridas na sua zona e nomeadamente em Albufeira, pouco visto cá em cima. Nos últimos anos, tem sobressaído e "explicado" que tem valor de sobra para ombrear entre os primeiros. Quando poucos notavam que ele existia, o "Farpas" foi dos primeiros a acreditar e foi numa corrida do jornal, na Moita, que recebeu a sua alternativa. Hoje, já tem a visibilidade e a notoriedade que ambicionava. Duas corridas televisionadas mostraram ao país que ele existe e pode ser alguém. Temporada positiva (muito, mesmo) para Filipe Gonçalves.

Tito Semedo: 7 - Outro cavaleiro que está a ter uma visibilidade que não teve durante muitos anos. Albufeira, onde "substituiu" Filipe Gonçalves, ali toureando praticamente todas as semanas, deu-lhe uma rodagem que lhe permitiu uma maior estabilidade - a todos os títulos. Não teve em Lisboa a actuação brilhante de que necessitava. Mas noutras arenas tem demonstrado que evoluiu em sentido positivo. Será sempre um cavaleiro a ter em conta e a lutar pela passagem à I Divisão.

Francisco Cortes: 6 - Nota 6 não por que não tenha valor, mas porque continua pouco visto. Falta-lhe pisar arenas de importância em cartéis mais visíveis. É um toureiro a quem não se tem dado, nunca, o devido valor. Cinge praticamente a sua carreira pelas redondezas de onde vive, no Alentejo. Merecia mais.

Marco José: 6 - Teve muitas e boas oportunidades na mão ao longo da sua carreira, mas quase sempre deixou-as escapar. Mantém-se na luta, com dignidade e postura. Toureia bem e triunfa quando o metem. Mas cada vez mais dá a impressão que passou ao lado de uma grande carreira.

José Manuel Duarte: 5 - Esteve em muito bom nível na tourada televisionada da Figueira da Foz. Onde toureia, está bem, por norma. Entre altos e baixos, épocas mais brilhantes e outras mais apagadas ou em que esteve praticamente retirado, é outro toureiro que pode ter deixado para trás a oportunidade de agarrar um sítio importante na tauromaquia. Mas que continua a ficar bem num cartaz.

Gilberto Filipe: 5 - Apontou um caminho brilhante durante algumas temporadas. Depois quase estagnou. Sem comprometer e sem estar mal, tem público na sua zona - Moita, Montijo, Alcochete - e fica sempre bem em cartéis nessas praças. Mas é também um daqueles toureiros que deixam a impressão de que poderia ter chegado muito mais longe - e agora pode ser tarde. Mantém, contudo, como os anteriores, uma postura de dignidade que é louvável.

João Pedro Cerejo: 3 - Nota baixa mais para premiar o seu valor e o seu querer - que já são louváveis - do que propriamente para louvar a sua prestação nas corridas em que actuou. Esteve uns anos retirado e voltou, ensaiando sem sucesso uma reaparição na época passada. Este ano jogou mais forte, esteve em palcos mais importantes - mas não sei se foi melhor ou pior para ele. Submeteu-se ao julgamento do respeitável público numa corrida televisionada em Lisboa - e isso já foi de valor. Mas não passou daí.

Joana Andrade: 3 - Continua a lutar por um lugar ao sol, apesar de mais eclipsada das arenas nacionais. Apostou na rodagem em Espanha, vai a Santarém em final de temporada (dia 17) e espera-se que surpreenda e justifique os êxitos que tem alcançado além-fronteiras.

Na próxima semana: os jovens cavaleiros de dinastia, os de mais recente alternativa... e os outros.

Fotos D.R.