Director de corrida Ricardo Pereira não teve ontem um dia fácil... |
Sarmento e Pedrito convenceram Ponce e convenceram-se a eles próprios que a corrida seria picada... |
Os toiros da ganadaria espanhola de Hermanos Sampedro chegaram "escandalosamente afeitados" à praça e o director de corrida mandou "afiar-lhes" as pontas... |
Até praticamente à hora da corrida,
Enrique Ponce ainda estava convencido de que a mesma seria picada - ontem na
Moita. Não foi por mero acaso que os cavalos de picar vieram de Sevilha e que
as quadrilhas de picadores (fardados a rigor na trincheira da praça...)
acompanharam o matador a Portugal...
Foi o próprio Pedrito de Portugal e o
seu novo manager, Luis Sarmento, quem formalizou o contrato em Espanha com
Ponce, há já algumas semanas. Ou por que se prestaram amavelmente a ser intermediários
da empresa "Toiros & Tauromaquia" na contratação do Maestro
valenciano ou por que eram eles mesmos os responsáveis pela contratação e, por
consequência, pela corrida de ontem... A verdade é que ambos também se convenceram a eles próprios de que conseguiriam... os picadores...
O contrato, a que o "Farpas"
teve acesso, referia textualmente que a corrida seria "bandarilhada,
picada e não de morte". Há poucas semanas, Enrique Ponce chegou a afirmar
numa entrevista a um site português que "era com muita ilusão que vinha a
Portugal tourear uma corrida picada". O próprio Pedrito de Portugal terá
solicitado aos repórteres que suprimissem essa declaração, alegando que o
"assunto dos picadores" estava a ser tratado "pelos
advogados" e "não convinha trazê-lo ainda a público"...
Enrique Ponce raramente vai aos sorteios
dos toiros. Mas ontem foi ao da Moita, já "desconfiado" de que
qualquer coisa não estava a bater certa. Pedrito "convenceu-o"
novamente de que a corrida "seria picada", de que à hora do espectáculo
"chegaria a autorização". Pelo meio, chegou a "constar" que
o próprio inspector-geral da IGAC, Dr. Silveira Godinho, aasistiria à corrida e
viria dar o seu aval aos picadores junto do director, Ricardo Pereira - para
quem o dia de ontem não foi lá muito fácil...
Os toiros deveriam ter chegado à praça
logo pelas oito da manhã, mas só apareceram perto do meio-dia.
"Escandalosamente afeitados", diz quem viu. O director Ricardo
Pereira mandou-os para a manga para serem "desafeitados", isto é,
ligeiramente "afiados" de novo. A seguir, Ponce e Pedrito exigiram
que a arena fosse arrranjada. O "areal", que já na véspera
prejudicara a actuação do matador Luis "Procuna", foi por fim
"aligeirado". A empresa "só" tirou dois camions de areia do
redondel...
Próximo das quatro da tarde (a corrida
começava às seis), alguém "muito próximo" de Pedrito ligou para o
"Farpas", passando a "informação" de que "a goyesca da
Moita seria picada", com o claro intuíto de que avançássemos com a
"bomba". Sempre podia levar mais gente à praça em cima da hora e
serviria para "provar" a Ponce que, de facto, "havia um fundo de
verdade"... até estava "anunciado" pela Comunicação Social...
Perto da hora da corrida, os picadores -
e os cavalos de picar - estavam "a postos" no páteo de quadrilhas da
praça "Daniel do Nascimento". A poucos minutos do início do
espectáculo, o próprio Enrique Ponce subiu ao camarote onde toma lugar o
director de corrida e pôs a questão a Ricardo Pereira: fora contratado
"para uma corrida picada"...
O delegado da IGAC esclareceu que os
picadores são proibidos em Portugal há já alguns anos e que não havia nada a
fazer. Nem os autorizou, sequer, a tomar parte no "passeíllo"
(cortesias à espanhola). Enrique Ponce ainda tentou que Ricardo Pereira
autorizasse "uma simulação da sorte de varas", sem picar
verdadeiramente os toiros - mas o director voltou a dizer que não...
Os picadores permaneceram a corrida toda
na trincheira, estilo "figurantes" de uma cena proibida e houve mesmo quem solicitasse aos (muitos) repórteres presentes
que não os fotografassem... A corrida decorreu "à portuguesa" (sem a
sorte de varas) e até ao último toiro, o ambiente na trincheira era "meio
tenso" entre Ponce e Pedrito. O diestro luso acabaria por "quebrar o
gelo" no último toiro (foto ao lado), dedicando a faena ao matador espanhol...
Artisticamente, a corrida foi um
sucesso indiscutível - Pedrito "renasceu" na Moita, Ponce fez a faena do ano e a
"tragicomédia" dos picadores acabou por ficar para trás... O diestro
espanhol jantou pacatamente em Lisboa com o sogro, Victoriano Valência, e três amigos
portugueses - "Cachapim", António Sousa e Zé André - no
"Gambrinus" e esta manhã partiu de avião para Espanha, para tourear (e triunfar) em Albacete. Já de madrugada, ainda se encontrou com Pedrito e
Sarmento num hotel próximo de Lisboa... mas isso são "contas" de
outro rosário...
Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com