segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Moita: mais "pica", menos "pica", o que ainda ninguém contou!

Os picadores estiveram durante toda a corrida na trincheira vestidos a rigor...
estilo figurantes de uma "tragicomédia" anunciada... e a autoridade
andou sempre por perto, não fosse o diabo tecê.las...
Director de corrida Ricardo Pereira não teve ontem um dia fácil...
Sarmento e Pedrito convenceram Ponce e convenceram-se a eles próprios
que a corrida seria picada...
Os toiros da ganadaria espanhola de Hermanos Sampedro
chegaram "escandalosamente afeitados" à praça e o director de corrida
mandou "afiar-lhes" as pontas...


Até praticamente à hora da corrida, Enrique Ponce ainda estava convencido de que a mesma seria picada - ontem na Moita. Não foi por mero acaso que os cavalos de picar vieram de Sevilha e que as quadrilhas de picadores (fardados a rigor na trincheira da praça...) acompanharam o matador a Portugal...

Foi o próprio Pedrito de Portugal e o seu novo manager, Luis Sarmento, quem formalizou o contrato em Espanha com Ponce, há já algumas semanas. Ou por que se prestaram amavelmente a ser intermediários da empresa "Toiros & Tauromaquia" na contratação do Maestro valenciano ou por que eram eles mesmos os responsáveis pela contratação e, por consequência, pela corrida de ontem... A verdade é que ambos também se convenceram a eles próprios de que conseguiriam... os picadores...

O contrato, a que o "Farpas" teve acesso, referia textualmente que a corrida seria "bandarilhada, picada e não de morte". Há poucas semanas, Enrique Ponce chegou a afirmar numa entrevista a um site português que "era com muita ilusão que vinha a Portugal tourear uma corrida picada". O próprio Pedrito de Portugal terá solicitado aos repórteres que suprimissem essa declaração, alegando que o "assunto dos picadores" estava a ser tratado "pelos advogados" e "não convinha trazê-lo ainda a público"...

Enrique Ponce raramente vai aos sorteios dos toiros. Mas ontem foi ao da Moita, já "desconfiado" de que qualquer coisa não estava a bater certa. Pedrito "convenceu-o" novamente de que a corrida "seria picada", de que à hora do espectáculo "chegaria a autorização". Pelo meio, chegou a "constar" que o próprio inspector-geral da IGAC, Dr. Silveira Godinho, aasistiria à corrida e viria dar o seu aval aos picadores junto do director, Ricardo Pereira - para quem o dia de ontem não foi lá muito fácil...

Os toiros deveriam ter chegado à praça logo pelas oito da manhã, mas só apareceram perto do meio-dia. "Escandalosamente afeitados", diz quem viu. O director Ricardo Pereira mandou-os para a manga para serem "desafeitados", isto é, ligeiramente "afiados" de novo. A seguir, Ponce e Pedrito exigiram que a arena fosse arrranjada. O "areal", que já na véspera prejudicara a actuação do matador Luis "Procuna", foi por fim "aligeirado". A empresa "só" tirou dois camions de areia do redondel...

Próximo das quatro da tarde (a corrida começava às seis), alguém "muito próximo" de Pedrito ligou para o "Farpas", passando a "informação" de que "a goyesca da Moita seria picada", com o claro intuíto de que avançássemos com a "bomba". Sempre podia levar mais gente à praça em cima da hora e serviria para "provar" a Ponce que, de facto, "havia um fundo de verdade"... até estava "anunciado" pela Comunicação Social...

Perto da hora da corrida, os picadores - e os cavalos de picar - estavam "a postos" no páteo de quadrilhas da praça "Daniel do Nascimento". A poucos minutos do início do espectáculo, o próprio Enrique Ponce subiu ao camarote onde toma lugar o director de corrida e pôs a questão a Ricardo Pereira: fora contratado "para uma corrida picada"...

O delegado da IGAC esclareceu que os picadores são proibidos em Portugal há já alguns anos e que não havia nada a fazer. Nem os autorizou, sequer, a tomar parte no "passeíllo" (cortesias à espanhola). Enrique Ponce ainda tentou que Ricardo Pereira autorizasse "uma simulação da sorte de varas", sem picar verdadeiramente os toiros - mas o director voltou a dizer que não...

Os picadores permaneceram a corrida toda na trincheira, estilo "figurantes" de uma cena proibida e houve mesmo quem solicitasse aos (muitos) repórteres presentes que não os fotografassem... A corrida decorreu "à portuguesa" (sem a sorte de varas) e até ao último toiro, o ambiente na trincheira era "meio tenso" entre Ponce e Pedrito. O diestro luso acabaria por "quebrar o gelo" no último toiro (foto ao lado), dedicando a faena ao matador espanhol...

Artisticamente, a corrida foi um sucesso indiscutível - Pedrito "renasceu" na Moita, Ponce fez a faena do ano e a "tragicomédia" dos picadores acabou por ficar para trás... O diestro espanhol jantou pacatamente em Lisboa com o sogro, Victoriano Valência, e três amigos portugueses - "Cachapim", António Sousa e Zé André - no "Gambrinus" e esta manhã partiu de avião para Espanha, para tourear (e triunfar) em Albacete. Já de madrugada, ainda se encontrou com Pedrito e Sarmento num hotel próximo de Lisboa... mas isso são "contas" de outro rosário...

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com