sexta-feira, 17 de maio de 2013

Ontem em Lisboa: nasceu uma estrela, renasceu uma Figura e todos deliraram com Pablo!

O momento solene da alternativa e o emotivo brinde a seu Pai
João Maria Branco: foi brilhante a lide da alternativa e melhor ainda a do seu
segundo toiro, complicado e manso, a quem "deu a volta" evidenciando
experiência e maturidade e apontando um futuro de sucesso nas arenas
Pablo Hermoso (aqui num momento único com o fantástico "Ícaro")
levou ontem, uma vez mais, o público do Campo Pequeno ao rubro!
Aos 57 anos de idade e 30 de alternativa, Bastinhas "renasceu" ontem em Lisboa!
Está para dar e durar o mais popular toureiro das últimas três décadas!



Nasceu uma estrela - João Maria Branco! Renasceu uma Figura - Joaquim Bastinhas! Delírio total com o número-um - Pablo Hermoso de Mendoza. Toiros "nhoc-nhoc", acusarão os "velhos do Restelo". Mas de que vale bater nessa tecla derrotista, se o Campo Pequeno (quase) esgotou e o público aplaudiu de pé, entregue à raça dos toureiros e ao próprio comportamento dos toiros de Passanha? Foi ou não foi um grande espectáculo a corrida de ontem à noite em Lisboa? Claro que foi. E o resto, meus amigos, são cantigas!

Reportagem de
Miguel Alvarenga e Emílio de Jesus (fotos)

Talvez ontem os "analistas", que tanta tinta fizeram correr sobre o fracasso (de público) da corrida inaugural da temporada lisboeta, tenham finalmente entendido que um "bom cartel" enche sempre qualquer praça, independentemente da crise que vivemos e das "guerras" que continuamos, nós, homens dos toiros, a fomentar estupidamente dentro da nossa própria "casa".
O cartel de abertura não era bom, nem mau. Era, simplesmente... O de ontem tinha atractivos de sobra para chamar gente à praça.
Pablo Hermoso de Mendoza continua a ser o toureiro mais "taquillero" em Portugal. E porquê? Porque tem cabeça e porque é profissional. Vem ao nosso país duas vezes por ano, três no máximo. Não se repete em "todas as freguesias", como os nossos vistos e revistos cavaleiros. Por isso é sempre desejado e é sempre uma enorme expectativa vê-lo.
Joaquim Bastinhas é, ainda e sempre, o mais popular toureiro português das últimas três décadas. O público adora-o e isso viu-se ontem, uma vez mais, mal ele pisou a arena nas cortesias. Ovação estrondosa. Pode sempre acontecer tudo quando Bastinhas está em praça. Ontem aconteceu, talvez, a sua maior actuação dos últimos anos (a primeira), com as suas usuais (e muito apreciadas) "fantasias", mas sobretudo com um toureio muito bom, de verdade e de emoção.
João Maria Branco é um "diamante" por lapidar, uma estrela que deixou de ser promessa e rapidamente passou a ser certeza. Há ainda alguns "velhos do Restelo" que duvidam das suas potencialidades, que o comparam a exemplos recentes de cavaleiros que prometeram muito e se apagaram como uma vela quando chega ao fim, mas João Maria é diferente - e vai em frente com a certeza e a força dos eleitos. Nasceu para triunfar. Provou-o ontem.
Vamos então por partes.

Primeiro, os toiros "nhoc-nhoc" de Passanha. Tal como os de Guiomar Moura na última corrida de Pablo, no ano passado, em Lisboa, os toiros de ontem deram espectáculo e foram espectáculo. Não vão faltar, outra vez, os "derrotistas" do costume a dizer e a escrever que são "toiros de corda", "toiros amestrados" e outras baboseiras do género. Muito bem. Concordo que não têm a emoção nem o perigo dos Palha, dos Vigoroux, dos Silva, de tantos mais. Mas também servem e também fazem falta.
O público que hoje vai aos toiros, e sobretudo o que vai ao Campo Pequeno, já não é o público "exigente" e "entendido" de outras eras. O espectáculo evoluiu. Tornou-se diferente. Perdeu a essência, dizem uns. Mas será que era preciso ter toda a vida a mesma essência? Será que não poderia e deveria um dia mudar, evoluir?
Respondo com factos: o Campo Pequeno encheu ontem, quase esgotou, com toiros que se sabia, à partida, o que eram e para que eram. O público delirou, aplaudiu de pé, galvanizou-se com a arte dos três cavaleiros e com as valentes pegas dos dois grupos de forcados. Foi ou não foi um grande espectáculo, uma grande noite? Claro que foi. E, por isso, o resto vão ser só cantigas...
Quantas praças e quantas corridas de "toiros-toiros" tiveram, este ano (ou nos outros) tanto público como teve a corrida de ontem em Lisboa? Então estes toiros e este tipo de toureio-arte, como o de Pablo Hermoso, valem ou não valem? São ou não são comerciais e sinónimo de êxito para que neles apostem os empresários? Claro que a resposta é sim. Os toiros valem, o espectáculo de arte de Hermoso vale e estas corridas são comerciais e rentáveis, enchem praças. Por isso, os toiros "nhoc-nhoc" têm inteiro cabimento nas nossas praças - como o têm os outros. Por isso, de que vale virem agora os "derrotistas" dizer mal, tentarem tornar escuro tudo aquilo que ontem foi bem claro? De nada. Adiante.

Agora, João Maria Branco - a nova estrela que ontem nasceu em Lisboa. É toureiro e vai ser Figura, digo-o já, sem quaisquer dúvidas. Protagonizou a mais esperada alternativa dos últimos tempos. Sem nome de dinastia, sem raízes taurinas na Família, chegou e disse: estou aqui. E esteve aqui nas últimas temporadas. E esteve aqui ontem no Campo Pequeno.
A lide da alternativa, brindada com emoção a seu Pai, o pilar da sua carreira, foi brilhante. Com um toiro mais colaborante que o segundo, João Maria pôde desenvolver o seu bom toureio numa lide emotiva e recheada de bons pormenores, onde "explicou" que não veio para ser apenas "mais um".
Para mim, o seu imenso valor viu-se e foi posto à prova no seu segundo toiro, um oponente que cedo se refugiou em tábuas, que não "respondeu" de início à decisão do toureiro de o receber com uma sorte de gaiola e que serviu para demonstrar que João Maria é já um toureiro maduro e com soluções - e cavalos - para ultrapassar os problemas e as barreiras que lhe surjam pela frente. Resolveu "a sua vida" com sortes sesgadas, bem desenhadas e melhor rematadas, provando que com os toiros maus se vêem os bons toureiros. Por isso, passou no exame com louvor e distinção e, mesmo sem o brilhantismo da primeira lide, foi nesta última que mostrou que vai longe. Sorte, Toureiro!

Joaquim Bastinhas cumpre 30 anos de alternativa - e tem 57 anos de vida. Pois bem, apesar da idade - e os toiros nunca pediram o bilhete de identidade aos toureiros! - continua o eterno jovem, lutador, sonhador, contagiante, empolgante.
A sua primeira actuação, ao segundo toiro da noite e depois de ter concedido a alternativa a Branco, foi a melhor que lhe vimos nos últimos anos. Houve de tudo: a alegria que envolve em si o público ao toureiro, os gritos e a "loucura" que são a marca de estilo de um fenómeno de popularidade e ainda o toureio de verdade e de emoção que ele sabe interpretar como poucos - quando quer. Ontem quis.
Bastinhas "abriu o livro" - e arrebatou. Terminou com um grande par de bandarilhas e o habitual salto do cavalo, com o público rendido e em verdadeira euforia. Espantoso.
No segundo, menos colaborante, executou um toureio de técnica para sacar o partido que não havia e conseguiu-o com a maestria e a experiência que fazem dele, ainda e sempre, um toureiro diferente - mais que diferente, único!

Pablo Hermoso de Mendoza chegou a Lisboa envolto em enorme expectativa depois de uma apoteótica campanha do outro lado do Atlântico - e com as melhores "máquinas" da sua quadra de cavalos fora do normal. A primeira actuação é um "compêndio" de arte. A segunda é um verdadeiro "bailado de bom gosto".
Pablo é, também, um toureiro único. Jamais se cansou de lembrar que deu os primeiros passos e bebeu as primeiras águas na fonte "mourista" e ao lado do Maestro de Monforte - o que só lhe fica bem. É hoje o melhor intérprete dessa "revolução" que João Moura desencadeou nas arenas há mais de trinta anos. E é, pela sua classe, sobretudo pela sua classe, o rejoneador espanhol mais querido do público português.
Tudo o que fez ontem na arena lisboeta não se descreve. São, foram, coisas que se sentem, que se vivem ali. E que depois custam a contar. Lisboa aplaudiu-o em delírio.

Como sabem e a conselho dos meus (belíssimos) advogados, não faço referência a forcados, dada a existência de um processo em tribunal movido contra o "Farpas" pela associação que os engloba a (quase) todos. Mas como há excepções que confirmam a regra, manda-me o coração (e que me desculpem os doutores meus defensores!) que aqui enalteça hoje o brilhante desempenho, ontem, dos Amadores de Évora e dos Amadores de Alcochete. Houve pegas fáceis a toiros que foram "pelo seu caminho" e não fizeram estragos; mas houve também grandes "pegões", difíceis e arrojados, que merecem o meu aplauso - e o tiveram ontem na praça.

Aplausos ainda para todas as quadrilhas de bandarilheiros e para a acertada direcção de Pedro Reinhardt - que apesar da tão criteriosa e exigente decisão em conceder música aos toureiros (fá-lo sempre tardiamente), marca a diferença pela seriedade que impõe, sobretudo ao facto de estar a dirigir uma corrida na mais importante praça de toiros do país, onde, como sucede em Madrid, os triunfos têm que ser suados e não podem ser fáceis - nem facilitados. Parabéns, Pedro!
Aplausos também para o sucesso alcançado pela empresa do Campo Pequeno, que conseguiu encher a praça e comprovar que a diferença também mora ali - na primeira praça do país. Ainda e sempre, na moda.
E estamos conversados.

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com