terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

1979: quando formámos a Tertúlia Tauromáquica D. Miguel I


Vitor Escudero, José da Cunha Motta e Miguel Alvarenga no acto de apresentação
da Tertúlia D. Miguel I em Dezembro de 1979 no Solar do Vinho do Porto (ainda se
podia fumar em recintos fechados...). Atrás de Alvarenga, vê-se, meio encoberto,
o Dr. Fernando Teixeira e, à direita, Samuel Reis. Embora presente, João Pedro
Núncio Cecílio, quarto integrante do grupo fundador, não aparece aqui na foto
S.A.R. D. Duarte de Bragança honrou-nos com a sua presença no Solar do Vinho
do Porto na festa de apresentação da Tertúlia Tauromáquica D. Miguel I
José da Cunha Motta e Miguel Alvarenga fazendo a apresentação no Solar do Vinho
do Porto, vendo-se atrás o jornalista José Sampaio, o então forcado e médico
Dr. Carlos Ferreira e o saudoso crítico taurino Samuel Reis. À direita, a Mãe
de Miguel Alvarenga, Maria Manuela
Carlos Empis, cabo dos Forcados de Santarém, os nossos primeiros premiados,
na festa de apresentação da Tertúlia D. Miguel I, com S.A.R. o Duque de Bragança,
João Alarcão e o jornalista Hernâni Saragoça
Miguel Alvarenga com o então promissor novilheiro Vitor Mendes, ainda e sempre
a maior figura do nosso toureio a pé
O convite para o "Porto de Honra" de apresentação da Tertúlia D. MIguel I
no Solar do Vinho do Porto em 18 de Dezembro de 1979
Notícia do nascimento da Tertúlia D. Miguel I publicada em 21 de Dezembro
de 1979 no já desaparecido jornal "O Dia"
Andrade Guerra reactivou em 1991 a Tertúlia D. Miguel I, que passou a ter
a designação de Real por concordância de S.A.R. o Duque de Bragança. Na foto,
numa das entregas anuais dos Troféus ao Mérito em que foram distinguidos os
Maestros Paco Camino, José Júlio, Emídio Pinto e Carlos Falcão



Miguel Alvarenga - Era Dezembro de 1979, tínhamos todos 20 anos e foi ao balcão do "Gambrinus", algumas imperiais depois (servidas pelo velho Domingos), que nasceu a ideia de formarmos a Tertúlia Tauromáquica D. Miguel I. Eu e mais três bons amigos. O Vítor Escudero, meu amigo de infância, filho do saudoso Manolo Escudero, o braço-direito de Manuel dos Santos e um dos fiéis pilares da empresa do Campo Pequeno (falecido no mesmo acidente em Vendas Novas onde também morreu o antigo matador e empresário); o José da Cunha Motta, que era um jovem monárquico e um grande aficionado; e o João Pedro Núncio Cecílio, neto de Patrício Cecílio, o grande mestre dos toureiros, da Golegã.
Dizíamos na nota de apresentação que enviámos aos orgãos de Comunicação Social que "não somos nem pretendemos ser os salvadores da Festa, mas estamos cientes de que contribuiremos para que a Festa se salve", frisando que surgíamos "para marcar uma presença jovem neste tão atribulado mundillo dos toiros, numa altura em que a Festa atravessa um momento que de modo agum poderemos considerar dos melhores, já que as fraudes, as adulterações e as mais diversas jogadas se vão fazendo nas costas do público aficionado".
"Ao designarmos a nossa tertúlia de D. Miguel I quisemos de uma forma despretenciosa, mas significativa, homenagear aquele que foi o Rei-Toureiro e cuja alma era o reflexo da alma nacional", explicámos.
"Defender a verdade, a dignidade, a pureza e a seriedade da Festa de Toiros, bem como propagandeá-la e prestigiá-la na sua dimensão inequivocamente tradicionalista e representativa dos mais verdadeiros e elementares valores morais e culturais desta Pátria e deste Povo com mais de oitocentos anos de História" eram os objectivos primordiais e as intenções que nos faziam avançar.
Anunciámos também a atribuição anual do "Prémio Tertúlia Tauromáquica D. Miguel I" e o primeiro distinguiu o Grupo de Forcados Amadores de Santarém. Explicámos porquê: "Ao atribuirmos o nosso prémio aos homens das jaquetas de ramagens, queremos não só homenagear os seus actuais elementos, que tantas tardes de glória têm alcançado nestas últimas épocas, com especial relevência para a deste ano, mas também relembrar esses grandes forcados que foram Ricardo Rhodes Sérgio, Jorge Duque, Mascarenhas, Mário Brilhante, José Manuel Souto Barreiros e tantos outros".
A apresentação oficial da Tertúlia D. Miguel I teve lugar a 18 de Dezembro desse ano de 1979 no carismático Solar do Vinho do Porto, na Rua de São Pedro de Alcântara (Lisboa), com um "Porto de Honra" que reuniu a fina-flor da crítica taurina, alguns toureiros - entre os quais, o então promissor Vitor Mendes - e que teve a honrosa e especial presença de S.A.R. o Senhor D. Duarte, Duque de Bragança. O troféu aos Forcados de Santarém foi entregue a Carlos Empis, ao tempo seu cabo.
Pelo meio, houve o engraçadíssimo episódio das Tias, que por ter feito parte da história do nascimento da Tertúlia D. Miguel I, não resisto a contar.
Éramos, como disse, jovens de 20 anos. Estudávamos, alguns trabalhavam. Eu tinha iniciado três anos antes (1976) a minha carreira de jovem jornalista no semanário "O Diabo", mas ao tempo estava no jornal "A Rua" (voltaria no ano seguinte ao jornal de Vera Lagoa). O dinheiro era curto e não sabíamos como fazer face à festa de apresentação no Solar do Vinho do Porto. Numa das muitas noites no "Gambrinus", o Vitor Escudero lembrou-se de pedir ajuda - e o apoio que nos faltava - à Tia Zé do Porto, uma "tia emprestada", muito amiga de sua Família, muito rica (isso era o essencial!) e muitíssimo aficionada, que desde logo se prontificiou a ajudar-nos e que foi quem financiou - e abrilhantou, com os seus bonitos arranjos de flores - a festa do Solar do Vinho do Porto.
À semelhança do que acontecia no filme "A Canção de Lisboa", com as tias de Vasco Santana, as "nossas" Tias do Porto (a Tia Zé e a sua irmã) prontificaram-se a ajudar-nos monetariamente, mas claro que quiseram vir a Lisboa (e outra coisa se não esperava) ver a nossa festa, tal como as tias do Vasquinho vieram a Lisboa ver o "consultório" que haviam pago ao sobrinho...
Certa tarde, engravatados e com os sapatinhos engraxados, lá fomos os quatro a Santa Apolónia, com ramos de flores, esperar as Tias ao comboio. Nunca rimos tantos como nesse momento. Parecíamos exactamente o Vasco Santana à espera das tias na estação do comboio. Só não as levámos na tipóia da tourada, mas pouco faltou...
Correu tudo às mil maravilhas, mas a verdade é que nos anos seguintes a Tertúlia foi "adormecendo", talvez por que outros valores se levantaram nas nossas vidas e o tempo foi faltando, até praticamente desaparecer. Realizámos mais alguns eventos, mas depois "fechámos a porta".
Anos mais tarde, em Janeiro de 1991, o jornalista e crítico taurino Manuel de Andrade Guerra, nosso querido amigo, retomou as rédeas da Tertúlia D. Miguel I, que passou então a utilizar a designação de Real Tertúlia com a concordância expressamente manifestada por S.A.R. o Duque de Bragança. Até hoje.

Fotos D.R. e Marques Valentim