S.A.R. D. Duarte de Bragança honrou-nos com a sua presença no Solar do Vinho do Porto na festa de apresentação da Tertúlia Tauromáquica D. Miguel I |
Miguel Alvarenga com o então promissor novilheiro Vitor Mendes, ainda e sempre a maior figura do nosso toureio a pé |
O convite para o "Porto de Honra" de apresentação da Tertúlia D. MIguel I no Solar do Vinho do Porto em 18 de Dezembro de 1979 |
Notícia do nascimento da Tertúlia D. Miguel I publicada em 21 de Dezembro de 1979 no já desaparecido jornal "O Dia" |
Miguel Alvarenga - Era Dezembro de 1979,
tínhamos todos 20 anos e foi ao balcão do "Gambrinus", algumas
imperiais depois (servidas pelo velho Domingos), que nasceu a ideia de
formarmos a Tertúlia Tauromáquica D. Miguel I. Eu e mais três bons amigos. O
Vítor Escudero, meu amigo de infância, filho do saudoso Manolo Escudero, o
braço-direito de Manuel dos Santos e um dos fiéis pilares da empresa do Campo
Pequeno (falecido no mesmo acidente em Vendas Novas onde também morreu o antigo
matador e empresário); o José da Cunha Motta, que era um jovem monárquico e um
grande aficionado; e o João Pedro Núncio Cecílio, neto de Patrício Cecílio, o
grande mestre dos toureiros, da Golegã.
Dizíamos na nota de apresentação que
enviámos aos orgãos de Comunicação Social que "não somos nem pretendemos
ser os salvadores da Festa, mas estamos cientes de que contribuiremos para que
a Festa se salve", frisando que surgíamos "para marcar uma presença
jovem neste tão atribulado mundillo dos toiros, numa altura em que a Festa
atravessa um momento que de modo agum poderemos considerar dos melhores, já que
as fraudes, as adulterações e as mais diversas jogadas se vão fazendo nas
costas do público aficionado".
"Ao designarmos a nossa tertúlia de
D. Miguel I quisemos de uma forma despretenciosa, mas significativa, homenagear
aquele que foi o Rei-Toureiro e cuja alma era o reflexo da alma nacional",
explicámos.
"Defender a verdade, a dignidade, a
pureza e a seriedade da Festa de Toiros, bem como propagandeá-la e prestigiá-la
na sua dimensão inequivocamente tradicionalista e representativa dos mais
verdadeiros e elementares valores morais e culturais desta Pátria e deste Povo
com mais de oitocentos anos de História" eram os objectivos primordiais e
as intenções que nos faziam avançar.
Anunciámos também a atribuição anual do
"Prémio Tertúlia Tauromáquica D. Miguel I" e o primeiro distinguiu o
Grupo de Forcados Amadores de Santarém. Explicámos porquê: "Ao atribuirmos
o nosso prémio aos homens das jaquetas de ramagens, queremos não só homenagear
os seus actuais elementos, que tantas tardes de glória têm alcançado nestas
últimas épocas, com especial relevência para a deste ano, mas também relembrar
esses grandes forcados que foram Ricardo Rhodes Sérgio, Jorge Duque,
Mascarenhas, Mário Brilhante, José Manuel Souto Barreiros e tantos
outros".
A apresentação oficial da Tertúlia D.
Miguel I teve lugar a 18 de Dezembro desse ano de 1979 no carismático Solar do
Vinho do Porto, na Rua de São Pedro de Alcântara (Lisboa), com um "Porto de
Honra" que reuniu a fina-flor da crítica taurina, alguns toureiros - entre
os quais, o então promissor Vitor Mendes - e que teve a honrosa e especial
presença de S.A.R. o Senhor D. Duarte, Duque de Bragança. O troféu aos Forcados
de Santarém foi entregue a Carlos Empis, ao tempo seu cabo.
Pelo meio, houve o engraçadíssimo
episódio das Tias, que por ter feito parte da história do nascimento da
Tertúlia D. Miguel I, não resisto a contar.
Éramos, como disse, jovens de 20 anos.
Estudávamos, alguns trabalhavam. Eu tinha iniciado três anos antes (1976) a
minha carreira de jovem jornalista no semanário "O Diabo", mas ao
tempo estava no jornal "A Rua" (voltaria no ano seguinte ao jornal de
Vera Lagoa). O dinheiro era curto e não sabíamos como fazer face à festa de apresentação
no Solar do Vinho do Porto. Numa das muitas noites no "Gambrinus", o
Vitor Escudero lembrou-se de pedir ajuda - e o apoio que nos faltava - à Tia Zé
do Porto, uma "tia emprestada", muito amiga de sua Família, muito
rica (isso era o essencial!) e muitíssimo aficionada, que desde logo se
prontificiou a ajudar-nos e que foi quem financiou - e abrilhantou, com os seus
bonitos arranjos de flores - a festa do Solar do Vinho do Porto.
À semelhança do que acontecia no filme
"A Canção de Lisboa", com as tias de Vasco Santana, as
"nossas" Tias do Porto (a Tia Zé e a sua irmã) prontificaram-se a
ajudar-nos monetariamente, mas claro que quiseram vir a Lisboa (e outra coisa
se não esperava) ver a nossa festa, tal como as tias do Vasquinho vieram a
Lisboa ver o "consultório" que haviam pago ao sobrinho...
Certa tarde, engravatados e com os
sapatinhos engraxados, lá fomos os quatro a Santa Apolónia, com ramos de
flores, esperar as Tias ao comboio. Nunca rimos tantos como nesse momento.
Parecíamos exactamente o Vasco Santana à espera das tias na estação do comboio.
Só não as levámos na tipóia da tourada, mas pouco faltou...
Correu tudo às mil maravilhas, mas a
verdade é que nos anos seguintes a Tertúlia foi "adormecendo", talvez
por que outros valores se levantaram nas nossas vidas e o tempo foi faltando,
até praticamente desaparecer. Realizámos mais alguns eventos, mas depois
"fechámos a porta".
Anos mais tarde, em Janeiro de 1991, o
jornalista e crítico taurino Manuel de Andrade Guerra, nosso querido amigo,
retomou as rédeas da Tertúlia D. Miguel I, que passou então a utilizar a
designação de Real Tertúlia com a concordância expressamente manifestada por
S.A.R. o Duque de Bragança. Até hoje.
Fotos D.R. e Marques Valentim