Verdadeiras estampas, os seis toiros da nova ganadaria de Alves Inácio trouxeram ontem emoção à arena de Salvaterra de Magos |
Primor na lide e na cravagem dos ferros. Não houve um único protesto pela decisão do júri em premiar Manuel Ribeiro Telles Bastos pela sua última actuação |
A última pega dos Amadores de Vila Franca, premiada pelo júri, numa tarde de triunfo absoluto para o grupo. Foi seu autor Rui Godinho |
Toureiros e forcados na arena, no final, para o anúncio dos vencedores dos prémios para a "melhor lide" (Telles Bastos) e "melhor pega" (Vila Franca( |
Miguel Alvarenga - Manuel Ribeiro Telles
Bastos e o Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca foram ontem premiados em
Salvaterra, na X Corrida do Tomate, respectivamente, com os troféus para a
"melhor lide" e a "melhr pega", pelas suas intervenções no
último toiro da tarde.
A corrida em Salvaterra de Magos - de
que publicaremos amanhã detalhada reportagem fotográfica - marcou o triunfal
debute da ganadaria de José António Alves Inácio, que foi meritoriamente à
arena, no final da quinta lide, agradecer os calorosos aplausos do público.
Seis verdadeiras estampas, desiguais em comportamento, mas que pediram contas
aos toureiros e aos forcados, apesar de alguma suavidade nas investidas - os
toiros da nova ganadaria tinham chama e codícia. Proporcionaram um bonito e
emotivo espectáculo. Nas bancadas, estavam inúmeros ganadeiros, atraídos certamente pela estreia da nova divisa ribatejana.
O mau estado do piso da arena deu desde
manhã cedo algumas dores de cabeça aos empresários, intervenientes e ao
director de corrida Rogério Jóia. Momentos antes do início da corrida, ainda o
empresário Ricardo Levesinho - arregaçando as mangas e dando exemplo louvável -
conduzia na arena a viatura com que tentava resolver o problema, secundado no
terreno por seu irmão e pelo seu próprio pai. Com o decorrer das lides, o piso
foi-se compondo, reduzindo o perigo para cavalos e toureiros.
Coube a João Salgueiro abrir a função
frente ao primeiro toiro de Alves Inácio que fazia a estreia da ganadaria. O
oponente não facilitou e Salgueiro também andou ainda muito longe do seu
melhor. No final, recusou a volta à arena. No seu segundo, o cavaleiro de
Valada deu um melhor arzinho da sua graça, mas não "engrenou" a ponto
de mostrar o que sabemos que vale. Foi, em suma, discreta esta sua passagem por
Salvaterra, apesar de dois bons ferros, recusando-se também no final a dar
volta à arena.
Paulo Jorge Santos enfrentou dois toiros
complicados e deu-lhes a volta por cima, mostrando estar muito bem montado e
ter argumentos para resolver as situações complicadas. Emotivo a lidar e a
bregar, cravou ferros de muitíssima boa nota nos dois toiros, deixando patente
a injustiça com que tem sido tratado pelas grandes empresas: que mais precisa
de fazer para entrar na "alta roda", participar nas corridas
importantes e disputar o triunfo com os primeiros? Não faz falta um toureiro
destes nos cartéis de postín? Claro que faz. Além de montar primorosamente,
toureia muito bem. É preciso mais?
Manuel Telles Bastos deixou uma vez mais
bem patente o seu toureio clássico. Teve uma primeira lide de mais a menos, mas
a segunda, última da tarde, foi um primor em todos os pormenores. Falhou um ferro,
mas acontece aos melhores. Mesmo assim, esta foi a lide premiada pelo júri.
Estava em causa um prémio para a
"melhor lide" e não para o "triunfador da corrida". No
conjunto das duas actuações, não teria sido injusto atribuir o troféu a Paulo
Jorge Santos. Mas não houve um único protesto pela escolha do júri ter recaído
na última lide de Telles Bastos. E contra factos, meus amigos, não há
argumentos que valham.
O Grupo de Forcados de Vila Franca
esteve em grande, com três pegas à primeira. Foi premiada a terceira, última da
tarde, mas qualquer uma das outras dos vilafranquenses teria merecido ganhar. As pegas foram executadas por António Faria, David Canário e Rui Godinho (vencedor), com excelente intervenção de todo o grupo.
Tarde menos feliz tiveram os Amadores de
Évora. As duas primeiras pegas foram executadas, em última análise, a sesgo e
sem glória. O grupo viria a salvar a honra do convento na sua terceira
intervenção, uma grande pega realizada por João Madeira. As duas anteriores, ambas ao quarto intento, foram executadas por Ricardo Sousa e Dinis Caeiro.
Demoraram a recolher os toiros em que se
optou pela intervenção dos campinos a cavalo, o que arrastou o espectáculo
durante cerca de três horas.
Rogério Jóia dirigiu com o usual acerto,
competência e aficion - é um director de corrida sensato, cordial e que marca
sempre a diferença. O público encheu mais de metade das bancadas numa tarde em
que o sol voltou finalmente a sorrir.
Fotos M. Alvarenga