E a saga dos Moura promete não ficar por aqui. Tomás, que deu a volta à arena com o Pai e o irmão Miguel, promete um dia vir a ser o IV Moura nas arenas! |
Hugo Silva dando a João Moura o ferro que momentos depois cederia a seu filho no acto da alternativa |
O momento em que Marcos Bastinhas dirigia palavras de incentivo ao novo companheiro das arenas, Miguel Moura, na presença dos Maestros João Moura e Joaquim Bastinhas, seus respectivos pais |
Miguel Moura brindou a lide da alternativa a sua Mãe, Teresa Brás... |
... e a seu Pai |
Corrida histórica ontem em Lisboa, com o confronto entre duas das mais emblemáticas famílias de toureiros nacionais, os Moura e os Bastinhas |
O Campo Pequeno não esgotou, mas registou uma agradável entrada de três quartos numa noite de muitas emoções e bom toureio |
Miguel Moura passou com louvor e distinção - e imensa serenidade - na difícil prova da alternativa. O terceiro Moura está também na Festa para marcar a diferença |
A última e rija pega da noite, por Paulo Barradas, dos Académicos de Elvas. Já a seguir, veja aqui as seis pegas de ontem em Lisboa, uma a uma, numa grande fotoreportagem de Maria João Mil-Homens |
Miguel Alvarenga - João Moura marca nos
últimos quarenta anos, de forma inequívoca, a História do Toureio a Cavalo,
como antes o tinham feito Núncio e Batista, cada qual em seu tempo. Como muito
bem refere hoje no site "mundotoro" o ex-director do jornal "Olé",
Francisco Morgado, há um antes e um depois de Moura na História moderna da
Tauromaquia nacional. A revolução do "niño prodígio" de Monforte
criou escola e tem seguidores, à cabeça dos quais estão seus dois filhos João e
Miguel. Este último, que ontem recebeu a alternativa no Campo Pequeno, não será
certamente o último Moura a aparecer nas arenas e a prometer também marcar pela
diferença. O pequeno Tomás confessou-me ontem que queria ser primeiro toureio a
pé e depois também cavaleiro. Por isso, a saga dos Moura vai continuar. E o
Mestre está ainda para dar e durar, como ontem se viu, pelo que não duvido que
um dia dará também, ainda, a alternativa ao terceiro filho.
A noite de ontem, com as bancadas da
praça lisboeta bem preenchidas (três quartos) e muitas caras conhecidas, já se
que se tratava da corrida do "Correio da Manhã" - há muito anos
iniciada pelo saudoso Manuel Gonçalves nesta mesma praça, com Manuel Andrade
Guerra e João Duarte - foi uma noite de contínuas emoções. Primeiro, porque
João Moura regressava ao Campo Pequeno, depois de já ter provado em Évora que
se encontra totalmente restabelecido e em forma, depois do traumatismo
crânio-encefálico que sofreu por queda de um cavalo em Maio. Depois, porque nascia
profissionalmente um novo Moura. E depois, ainda, porque se tratava de um
elenco familiar de pais e filhos, tanto ao gosto do nosso público, que punha
frente-a-frente duas das principais famílias taurinas nacionais, os Moura e os
Bastinhas, cavaleiros que marcaram e continuam a marcar e que por terem estilos
distintos proporcionam sempre agradável e emotiva competição.
Várias camionetas provenientes do
Alentejo estavam estacionadas em redor da praça, o que prova a força da aficion
alentejana sempre a apoiar os seus toureiros e forcados.
Os toiros de Passanha triunfaram. Não
têm nada a ver com os "nhoc-nhoc" que tanta desilusão provocaram nesta mesma arena em Setembro passado. Pertencem a
uma nova linha da famosa ganadaria da Herdade da Pina e são, outra vez, o garante da continuidade do sucesso de outros tempos, mercê, honra lhe seja feita, da fantástica e criteriosa selecção do seu actual responsável, o antigo cavaleiro de alternativa Diogo Passanha. Com
mobilidade, muito bem apresentados, de investidas francas, colaborantes e proporcionando
o êxito aos toureiros e aos forcados, a quem deram rijas pegas. Mais reservado
o segundo, lidado por João Moura, de boa nota os lidados a sós e muito bons os
dois toureados a duo na segunda parte. Justificada e merecida a chamada final
do ganadeiro Diogo Passanha à arena, que agradeceu os aplausos do público
juntamente com os quatro cavaleiros e o forcado autor da última pega.
A primeira parte foi preenchida com as
lides a sós dos quatro cavaleiros. Miguel Moura abriu praça depois de receber a alternativa
e depois de brindar a sua lide à Mãe, que assistia na bancada e ao Pai. Sereno
e decidido, passou com louvor e distinção na sempre complicada prova, para um
jovem de dezoito anos, que por norma deixa os nervos à flor da pele. Miguel
Moura esteve super correcto, sem ter estado completamente brilhante.
"Queria mais", confessou-me no final, confirmando a ambição, o querer e a vontade que o norteiam desde a primeira hora. Mas esteve à altura da
responsabilidade que ontem abraçou, arriscou, arrimou-se, entusiasmou o público
com ferros de muito boa nota.
No segundo toiro da noite, João Moura
deu uma daquelas lições à antiga. Não foi, também, a melhor actuação que teve
naquela "sua" praça, mas deixou apontamentos da sua inegável - e cada
vez mais apurada - maestria. Ainda está para vir quem lhe faça sombra e essa é
que é essa. Vê-lo recuperado e de novo em alta terá sido um dos maiores e mais
agradáveis factores da noite de ontem no Campo Pequeno. O Mestre está para
durar - e o resto, como sempre, continuam a ser cantigas...
Joaquim Bastinhas mantém há mais de trinta anos, inaltarável, todo o seu carisma, toda a sua constante e permanente empatia com o
público. É um toureiro que marcou também as últimas quatro décadas da
Tauromaquia lusa e que permanece igual à primeira hora, marcando a diferença
com um estilo muito próprio. Uns gostam, outros nem por isso, mas a verdade é
que ninguém lhe fica indiferente. Ontem, aproveitou com sabedoria (a experiência marca!) todas as
excelentes qualidades do seu toiro e, à sua maneira, protagonizou uma lide
vibrante e de grande emoção. O público entregou-se e esteve com Bastinhas -
como está sempre.
Seu filho Marcos marcou ontem a corrida
com uma deslumbrante actuação que não foi, vá lá saber-se porquê, completamente
reconhecida pelo público. Começou logo a arriscar o pêlo nos ferros compridos,
com emotivas sortes de praça a praça, cravando de frente em sortes que
resultaram de uma tremenda verdade, causando arrepios. A sua lide foi crescendo
com grandes ferros curtos e o público continuou meio frio. Foi a melhor
actuação de Marcos Tenório Bastinhas no Campo Pequeno desde que ali recebeu a
alternativa há seis anos. Merecia ter tido maior correspondência e
reconhecimento por parte de quem assistiu. Foi uma grande actuação - daquelas que confirmam e consagram um jovem toureiro.
Na segunda parte da corrida,
destacaram-se os Moura com uma bem sincronizada lide a duo que terminou em
perfeita apoteose com o público de pé. Menos brilhantes estiveram os Bastinhas,
deixando cair muitos ferros e nem sempre primando pelo rigor no momento de
cravar.
As pegas resultaram emotivas, frente a
toiros com imenso trapio e que se arrancaram com força, raramente derrotando,
mas proporcionando rijas caras, que o público aplaudiu em merecidas voltas à
arena.
Ricardo Almeida e o grande Nelson
Batista pegaram à primeira os dois toiros dos Amadores de Portalegre (primeiro
e quarto). Pelos Amadores de Monforte foram caras Nuno Toureiro e Vitor
Carreira, também ambos à primeira (segundo e quinto toiros). E pelos Académicos
de Elvas pegaram, os dois à segunda, Joaquim Guerra e Paulo Barradas,
respectivamente, os terceiro e sexto toiros da noite. No geral, os três grupos
estiveram bem a ajudar.
João Moura e os Bastinhas brindaram as
suas lides a sós ao novo cavaleiro Miguel Moura, assim como os três grupos de
forcados, que lhe dedicaram as suas primeiras intervenções.
A corrida teve ritmo, sem tempos mortos
e foi muito bem dirigida, com a usual aficion e o habitual rigor, pelo antigo
forcado Manuel Gama.
Não perca, já a seguir: grande
fotoreportagem de Maria João Mil-Homens. As pegas uma a uma, os Momentos de Glória,
os Famosos que ontem estiveram no Campo Pequeno.
Fotos M. Alvarenga