sexta-feira, 18 de julho de 2014

Campo Pequeno, ontem: pais, filhos, muitas emoções e grandes toiros de Passanha

E a saga dos Moura promete não ficar por aqui. Tomás, que deu a volta à arena
com o Pai e o irmão Miguel, promete um dia vir a ser o IV Moura nas arenas!
Hugo Silva dando a João Moura o ferro que momentos depois cederia a seu filho
no acto da alternativa
O momento em que Marcos Bastinhas dirigia palavras de incentivo ao novo
companheiro das arenas, Miguel Moura, na presença dos Maestros João Moura
e Joaquim Bastinhas, seus respectivos pais
Miguel Moura brindou a lide da alternativa a sua Mãe, Teresa Brás...
... e a seu Pai
Corrida histórica ontem em Lisboa, com o confronto entre duas das mais
emblemáticas famílias de toureiros nacionais, os Moura e os Bastinhas
O Campo Pequeno não esgotou, mas registou uma agradável entrada de três
quartos numa noite de muitas emoções e bom toureio
Miguel Moura passou com louvor e distinção - e imensa serenidade - na difícil
prova da alternativa. O terceiro Moura está também na Festa para marcar a diferença
Praça de pé a aplaudir a apoteótica actuação a sós do Maestro João Moura,
totalmente restabelecido e de novo em excelente forma, depois do preocupante
acidente que sofreu em Maio. Voltou em grande e não apareceu ainda quem
lhe faça frente - essa é que é essa! E o resto são cantigas...
O importante não é chegar e vencer. É manter-se no plano de cima, inalterável,
em mais de trinta anos. E isso, gostem ou não, Joaquim Bastinhas conseguiu
alcançar: continua igual a si próprio e a empolgar o público nas praças por onde
passa. Voltou a ser assim, ao seu estilo, ontem no Campo Pequeno
Marcos Bastinhas começou assim, nos ferros compridos, em emotivas sortes
frontais de praça a praça, com esta verdade e esta emoção. O público não terá
entendido e muito menos reconhecido a grande, enorme, actuação do jovem toureiro
A última e rija pega da noite, por Paulo Barradas, dos Académicos de Elvas. Já a
seguir, veja aqui as seis pegas de ontem em Lisboa, uma a uma, numa grande
fotoreportagem de Maria João Mil-Homens


Miguel Alvarenga - João Moura marca nos últimos quarenta anos, de forma inequívoca, a História do Toureio a Cavalo, como antes o tinham feito Núncio e Batista, cada qual em seu tempo. Como muito bem refere hoje no site "mundotoro" o ex-director do jornal "Olé", Francisco Morgado, há um antes e um depois de Moura na História moderna da Tauromaquia nacional. A revolução do "niño prodígio" de Monforte criou escola e tem seguidores, à cabeça dos quais estão seus dois filhos João e Miguel. Este último, que ontem recebeu a alternativa no Campo Pequeno, não será certamente o último Moura a aparecer nas arenas e a prometer também marcar pela diferença. O pequeno Tomás confessou-me ontem que queria ser primeiro toureio a pé e depois também cavaleiro. Por isso, a saga dos Moura vai continuar. E o Mestre está ainda para dar e durar, como ontem se viu, pelo que não duvido que um dia dará também, ainda, a alternativa ao terceiro filho.
A noite de ontem, com as bancadas da praça lisboeta bem preenchidas (três quartos) e muitas caras conhecidas, já se que se tratava da corrida do "Correio da Manhã" - há muito anos iniciada pelo saudoso Manuel Gonçalves nesta mesma praça, com Manuel Andrade Guerra e João Duarte - foi uma noite de contínuas emoções. Primeiro, porque João Moura regressava ao Campo Pequeno, depois de já ter provado em Évora que se encontra totalmente restabelecido e em forma, depois do traumatismo crânio-encefálico que sofreu por queda de um cavalo em Maio. Depois, porque nascia profissionalmente um novo Moura. E depois, ainda, porque se tratava de um elenco familiar de pais e filhos, tanto ao gosto do nosso público, que punha frente-a-frente duas das principais famílias taurinas nacionais, os Moura e os Bastinhas, cavaleiros que marcaram e continuam a marcar e que por terem estilos distintos proporcionam sempre agradável e emotiva competição.
Várias camionetas provenientes do Alentejo estavam estacionadas em redor da praça, o que prova a força da aficion alentejana sempre a apoiar os seus toureiros e forcados.
Os toiros de Passanha triunfaram. Não têm nada a ver com os "nhoc-nhoc" que tanta desilusão provocaram nesta mesma arena em Setembro passado. Pertencem a uma nova linha da famosa ganadaria da Herdade da Pina e são, outra vez, o garante da continuidade do sucesso de outros tempos, mercê, honra lhe seja feita, da fantástica e criteriosa selecção do seu actual responsável, o antigo cavaleiro de alternativa Diogo Passanha. Com mobilidade, muito bem apresentados, de investidas francas, colaborantes e proporcionando o êxito aos toureiros e aos forcados, a quem deram rijas pegas. Mais reservado o segundo, lidado por João Moura, de boa nota os lidados a sós e muito bons os dois toureados a duo na segunda parte. Justificada e merecida a chamada final do ganadeiro Diogo Passanha à arena, que agradeceu os aplausos do público juntamente com os quatro cavaleiros e o forcado autor da última pega.
A primeira parte foi preenchida com as lides a sós dos quatro cavaleiros. Miguel Moura abriu praça depois de receber a alternativa e depois de brindar a sua lide à Mãe, que assistia na bancada e ao Pai. Sereno e decidido, passou com louvor e distinção na sempre complicada prova, para um jovem de dezoito anos, que por norma deixa os nervos à flor da pele. Miguel Moura esteve super correcto, sem ter estado completamente brilhante. "Queria mais", confessou-me no final, confirmando a ambição, o querer e a vontade que o norteiam desde a primeira hora. Mas esteve à altura da responsabilidade que ontem abraçou, arriscou, arrimou-se, entusiasmou o público com ferros de muito boa nota.
No segundo toiro da noite, João Moura deu uma daquelas lições à antiga. Não foi, também, a melhor actuação que teve naquela "sua" praça, mas deixou apontamentos da sua inegável - e cada vez mais apurada - maestria. Ainda está para vir quem lhe faça sombra e essa é que é essa. Vê-lo recuperado e de novo em alta terá sido um dos maiores e mais agradáveis factores da noite de ontem no Campo Pequeno. O Mestre está para durar - e o resto, como sempre, continuam a ser cantigas...
Joaquim Bastinhas mantém há mais de trinta anos, inaltarável, todo o seu carisma, toda a sua constante e permanente empatia com o público. É um toureiro que marcou também as últimas quatro décadas da Tauromaquia lusa e que permanece igual à primeira hora, marcando a diferença com um estilo muito próprio. Uns gostam, outros nem por isso, mas a verdade é que ninguém lhe fica indiferente. Ontem, aproveitou com sabedoria (a experiência marca!) todas as excelentes qualidades do seu toiro e, à sua maneira, protagonizou uma lide vibrante e de grande emoção. O público entregou-se e esteve com Bastinhas - como está sempre.
Seu filho Marcos marcou ontem a corrida com uma deslumbrante actuação que não foi, vá lá saber-se porquê, completamente reconhecida pelo público. Começou logo a arriscar o pêlo nos ferros compridos, com emotivas sortes de praça a praça, cravando de frente em sortes que resultaram de uma tremenda verdade, causando arrepios. A sua lide foi crescendo com grandes ferros curtos e o público continuou meio frio. Foi a melhor actuação de Marcos Tenório Bastinhas no Campo Pequeno desde que ali recebeu a alternativa há seis anos. Merecia ter tido maior correspondência e reconhecimento por parte de quem assistiu. Foi uma grande actuação - daquelas que confirmam e consagram um jovem toureiro.
Na segunda parte da corrida, destacaram-se os Moura com uma bem sincronizada lide a duo que terminou em perfeita apoteose com o público de pé. Menos brilhantes estiveram os Bastinhas, deixando cair muitos ferros e nem sempre primando pelo rigor no momento de cravar.
As pegas resultaram emotivas, frente a toiros com imenso trapio e que se arrancaram com força, raramente derrotando, mas proporcionando rijas caras, que o público aplaudiu em merecidas voltas à arena.
Ricardo Almeida e o grande Nelson Batista pegaram à primeira os dois toiros dos Amadores de Portalegre (primeiro e quarto). Pelos Amadores de Monforte foram caras Nuno Toureiro e Vitor Carreira, também ambos à primeira (segundo e quinto toiros). E pelos Académicos de Elvas pegaram, os dois à segunda, Joaquim Guerra e Paulo Barradas, respectivamente, os terceiro e sexto toiros da noite. No geral, os três grupos estiveram bem a ajudar.
João Moura e os Bastinhas brindaram as suas lides a sós ao novo cavaleiro Miguel Moura, assim como os três grupos de forcados, que lhe dedicaram as suas primeiras intervenções.
A corrida teve ritmo, sem tempos mortos e foi muito bem dirigida, com a usual aficion e o habitual rigor, pelo antigo forcado Manuel Gama.

Não perca, já a seguir: grande fotoreportagem de Maria João Mil-Homens. As pegas uma a uma, os Momentos de Glória, os Famosos que ontem estiveram no Campo Pequeno.

Fotos M. Alvarenga