Pouco público ontem nas bancadas do Campo Pequeno na quinta corrida da temporada - que não deixou história e a que faltou a emoção do toiro. A noite abriu com a exibição da Reprise a Cavalo da GNR |
Miguel Alvarenga - Era de esperar, não
foi surpresa para ninguém, apesar de o cartel ter ficado em suspenso durante
muito tempo e ter sido mesmo designado desde a primeira hora como "cartel
surpresa". Ontem no Campo Pequeno, houve pouco público nas bancadas, meia
casita fraca, se calhar nem tanto. Pouco rezou a história desta quinta corrida
da temporada lisboeta, a primeira mista do ano, ainda que sem competição no
toureio a pé. A jogar ontem sem rivalizar, o matador António Ferrera é, na
verdade, toureiro para "se ver ao menos uma vez na vida", mas a
verdade é que, sem toiros para brilhar, não conseguiu repetir triunfos
anteriores conquistados naquela mesma arena. Os dois Manuéis que tourearam a
cavalo, Telles Bastos e Lupi, sobressairam nos segundos toiros, já que os
primeiros, sem trapio, sem importância, acabaram por tirar todo o brilho às
suas actuações.
Manuel Telles Bastos andou
correctíssimo, aliás, anda sempre, com o primeiro toiro da noite. Mas o animal,
escasso de forças e de apresentação, "anovilhado", sem trapio e sem
chama, acabou por tirar importância à lide do jovem clássico da Torrinha.
No seu segundo, mais toiro, nobre,
Telles Bastos pôde triunfar, executando o seu puro toureiro, dando mesmo uma
bonita lição de bem tourear que o público reconheceu e aplaudiu. Manuel deu
volta à arena nos dois toiros.
Manuel Lupi teve uma primeira lide de
altos e baixos, também com um toiro que não transmitia emoção nenhuma e no
final ficou entre tábuas, recusando com dignidade a volta à arena.
Nesta sua reaparição em Lisboa, depois
de ter estado dois anos sem tourear, Lupi subiu depois o tom na segunda lide,
com um toiro mais colaborante - e mais toiro que o anterior - colocando ferros
que emocionaram, lidando com primor.
António Ferrera apresentava-se ontem no
Campo Pequeno sem competidor, como único matador, facto que à partida retirava
logo algum interesse à sua presença.
Sem o glamour e a força de triunfos
anteriores, Ferrera deu ontem alguns ares da sua (muita) graça e reafirmou a
excelente forma e o bom momento em que se encontra.
Pequeno, franzino, mas enorme quando
chega a hora de se impôr, lutador, dominador, perito em toiros complicados, não
fosse ele um toureiro de Miuras e de ganadarias duras, logrou sacar aos seus
dois oponentes as faenas que não existiam, sacou-as a ferros, passe a passe,
conquistando o público pelo ofício, pela entrega, pela forma com que torna
fácil tudo o que é difícil.
O seu primeiro toiro foi o mais toiro da
corrida, sobretudo por ter saído à praça depois dos dois primeiros
insignificantes toirinhos lidados a cavalo. António Ferrera esteve artista com
o capote, brilhante com as bandarilhas, ainda que sem aquela emoção que se
esperava e depois, com a muleta, mandou e dominou, sem conseguir, contudo, o
triunfo sonhado.
O último toiro da noite era também
pequenote e manso, sem condições para proporcionar o êxito. Voltou Ferrera a
demonstrar boa vontade e a entregar-se, sem abreviar, mas as coisas não
resultaram pela falta de matéria prima, ou seja, de toiro. Sem ovos não se
fazem omeletas e por muito bom que seja o cozinheiro que as tente, não há salto
nas bandarilhas que transforme em triunfo uma actuação a que faltou brilho.
Em suma, não teve história a quinta
corrida da temporada lisboeta, soube a pouco, foi sonsita e não teve emoção,
mais a mais realizada oito dias depois da séria corrida dos toiros Grave.
Azar...
Os toiros de Falé Filipe, na
generalidade sem trapio e de escassa apresentação, também sem qualidade de
maior, retiraram brilho e emoção à corrida.
Pouca história também nas pegas, à
excepção da terceira, a única que teve alguma emoção, executada ao primeiro
intento por esse grande e bom forcado que é João Machacaz, o cabo dos Amadores
do Ribatejo.
A primeira da noite e também primeira
deste grupo esteve a cargo de Pedro Coelho (à primeira). Pelos Amadores de
Coruche, pegaram Paulo Oliveira (à primeira) e José Sousa (à terceira).
Bons apontamentos na brega por João
Ribeiro "Curro", António Telles Bastos, Duarte Alegrete e Mário
Ferreira. Destaque para um oportuno quite de António Ferrera a um forcado de
Coruche em apuros.
Rogério Jóia, que esteve ontem
assessorado pelo médico veterinário Jorge Moreira da Silva, voltou a somar
pontos no seu já brilhante curriculum como director de corridas. Rigoroso sem
ser "fundamentalista", consciente de que a tourada deve ser um
espectáculo e não propriamente um "enterro", o agora membro do
governo, presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal, não facilitou, mas
não recusou música em todas as lides, proporcionando bom ritmo ao espectáculo.
Num burladero assistiu à corrida o Dr.
Diogo Guia, chefe de gabinete do secretário de Estado da Juventude e Desportos
da Presidência do Conselho de Ministros, a quem os forcados do Ribatejo
brindaram uma pega.
Meia hora antes do início da corrida e
ainda com muito pouco público nas bancadas, exibiu-se a Reprise a Cavalo da
GNR. Um bonito espectáculo a que, lamente-se, quase ninguém assistiu.
Já a seguir: não perca a fotoreportagem
de Emílio de Jesus. Os Momentos de Glória e a presença dos Famosos ontem em
Lisboa.
Fotos Emílio de
Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com