terça-feira, 9 de setembro de 2014

Branco destaca-se no "regresso": glória a Montemor e seus Forcados!




Miguel Alvarenga - Fundado há 75 anos pelo saudoso Simão Malta e um punhado de valentes, o Grupo de Forcados Amadores de Montemor tem sido, desde então, uma instituição única dentro da própria Tauromaquia. Também uma escola de vida e uma universidade de forcados. O espírito colegial, estilo Meninos da Luz (Colégio Militar) acompanha todos os seus elementos desde que entram. Um por todos e todos por um é o lema. Quando pega o Grupo de Montemor, as bancadas estão cheias de antigos forcados. O emblema da lapela, no polo ou na t-shirt fá-los reconhecerem-se à distância. E foi todo esse espírito que esteve patente no domingo na corrida em que se comemorou este histórico aniversário. Foram imensos os antigos forcados que se voltaram a fardar, estilo Regresso dos Heróis, deu gosto vê-los pisar a arena, observá-los a caminhar pela trincheira, lembrar tempos outros. Zuzarte, João Cortes, Paulo Vacas de Carvalho, Rodrigo Corrêa de Sá, Francisco Borges, Francisco Mira (pai e filho), Manuel Couto, Pegado, NetoPotier, Dentinho, Carlos Santos, António Ramalho; o mais antigo dos cabos ainda vivos, Américo Chinita de Mira - e tantos, tantos mais. E muitos, muitos, não fardados, todos ali, abraçando um passado, uma história, ao intervalo lá foram todos à praça para a fotografia da praxe e aí foi um avivar de memórias, um lembrar de outra Festa, um aplauso caloroso e unânime ao Grupo que é diferente, talvez único.
O cartel, com seis jovens cavaleiros e, por isso mesmo, seis estilos distintos, estava arejado e não era, pelo menos, "mais do mesmo", como tantos outros, mas nem isso foi suficiente para cumprir o fado e Montemor, no domingo, não chegou a ser praça cheia. Foi pena.
Bonitos, bem apresentados e, isso sim, garante de emoção, os toiros da Herdade de Pégoras, mansotes e com pouca vontade de se movimentarem, retiraram brilho às intervenções dos toureiros e acrescentaram dificuldades ao labor dos forcados.
João Maria Branco foi o cavaleiro que mais se destacou, não só pela entrega e decisão, por ter arriscado tudo e mais alguma coisa, por ter dado a volta a um toiro que não tinha volta e por ter cravado dois ferros curtos daqueles que páram corações, num palmo de terreno, quase sem opções de saída, aflitivos, imponentes - mas também e sobretudo pela expectativa de que vinha rodeado este seu "regresso", um mês depois de ter anunciado que "suspendia" a temporada e que terminava a relação de apoderamento com Rui Bento, um "acto de coragem" para uns, um "acto de loucura" impensado para outros. Mas uma ilacção se tem que tirar: um toureiro assim não pode estar parado um mês... Faz falta. Viu-se que houve muito trabalho de casa, que continua a haver querer e ambição, que Branco continua na guerra - resta saber em que registo e com que apoderado a partir do próximo ano. O Inverno é longo...
De resto e passe o destaque a Branco, sobretudo motivado, repito, pela expectativa que rodeava a "reaparição" depois de toda a pressão de um Agosto sem corridas, há que registar inquestionáveis triunfos de todos os outros toureiros - que estiveram muito por cima dos Pégoras.
Vitor Ribeiro marcou pela ousadia e o risco, com ferros que causaram emoção; Filipe Gonçalves é um verdadeiro hino à alegria, à arte e ao valor e está de novo em alta, a triunfar em todas as praças; Manuel Telles Bastos é um portento de classe e faz sempre tudo tão bem feito e com tanta arte que dá gosto vê-lo tourear como se toureava de verdade noutros tempos; Manuel Lupi reencontrou-se por fim e começa a estar outra vez ao nível da tarde de Santarém, aqui em Montemor esteve empolgante e a tourear muito bem; Manuel Vacas de Carvalho foi profeta em sua terra, toureou com perfeição e ao melhor estilo clássico, nisso é mestre e é bonito ver um jovem virar as costas aos modernismos e às coisas fáceis e tourear de verdade , reunir ao estribo, cravar de alto a baixo, fazer como se fazia antigamente, recuperar valores que pareciam perdidos - muito bem, Manuel!
As seis pegas foram seis hinos à arte, à dignidade, à valentia, ao valor, à raça e à portuguesíssima e nobre arte de pegar toiros. Foram grandes os forcados da cara e grandes foram todos os que ajudaram e rabejaram, com destaque, nesta arte, para o enorme José João Comenda.
Independentemente de o terem feito à primeira ou à segunda tentativa, isso aqui tanto faz, a verdade é que João Pedro Tavares, João Romão Tavares, Manuel Ramalho, Francisco Borges (vítima de lesão no fígado e ainda internado em Lisboa), Noel Cardoso e o cabo António Vacas de Carvalho foram os grandes protagonistas da corrida e os autores das seis pegas da tarde. Houve ajudas e rabejadores chamados a dar a volta, houve brindes de muito significado, nomeadamente à filha de Simão Malta e à memória de José Maria Cortes e houve dois forcados que se despediram, sem despir a jaqueta, sem protagonismos nem voltas aos ombros. Dois grandes: João Pedro Tavares e Noel Cardoso. Olé!
Agostinho Borges, antigo elemento do grupo, foi o diligente director de corrida e ao início da função a presidente da Câmara de Montemor, Hortênsia Menino, prestou pública e justíssima homenagem aos 75 anos dos Forcados da terra. Ao intervalo, descerrou-se no páteo de quadrilhas da praça uma placa alusiva a mais este importante aniversário do Grupo de Montemor.

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com