"Parrita" colhido, sem consequências, quando toureava de capote o seu primeiro toiro no degradante espectáculo que ontem abriu a Feira da Moita |
Miguel Alvarenga - Cada vez me convenço
mais - e raramente me engano - de que a nossa sorte é mesmo a desatenção dos
anti-taurinos aos descalabros que vão ocorrendo na Festa por obra e graça dos
próprios homens da Festa e, na maioria das vezes, mercê da sua escassa
inteligência e quase nula visão. O que ontem aconteceu na Moita foi um
verdadeiro quadro de miséria que, se aproveitado pelos antis (andam a dormir,
só pode...), dava pano para mangas para pôr de rastos muitos dos mitos (e desmitos)
de que vive a nossa gente.
Primeiro: a aficion da Moita ao toureio
a pé é uma daquelas mentiras que se alimentam há não sei quantos anos e nada
têm, mesmo nada, de realidade. Lembro-me sempre da praça vazia naquela tarde em
que Pedrito fez um festival para que o ajudassem a pagar a multa pela morte de
um toiro naquela mesma arena. Os mesmos que no dia da estocada tinham
enlouquecido com o seu acto, não puseram o pé na praça no dia em que ele
precisou que o ajudassem. A Moita é uma terra aficionada ao toureio a pé? Eu
vou ali e já venho, mas não pensem que gozam com a minha inteligência...
Segundo: João Pedro Bolota é um
empresário experiente. Não acredito que alguma vez tivesse imaginado que a
"salganhada" do elenco de ontem ia, alguma vez, em tempo algum, levar
gente às bancadas da Moita. Por amor da santa... Alguém o influenciou mal, porque não acredito
que a experiência empresarial do João Pedro, ainda para mais aliado agora a
Possidónio Matias (um homem que sabe disto), o levasse a acreditar que aquele cartel pudesse suscitar o
interesse de quem quer que fosse...
Terceiro: "Parrita" esteve
seis anos sem tourear na "sua" Moita e, pelos vistos, ninguém tinha
saudades dele, ninguém o foi ver, pode estar mais seis anos sem lá ir, ou seja,
pode regressar em 2020...
Quarto: João Augusto Moura continua a
ser bom e a ter "pinta" toureira, mas não chega. E os bonitos toiros
da sua ganadaria também não servem.
Quinto: Duarte Pinto é um jovem
super-educado (teve berço) e isso só lhe fica bem. Ontem, pôs muitos ferros e agradeceu
imenso, fartou-se de dizer "obrigado" às pessoas e isso é bonito.
Sexto: os Forcados de Coruche fizeram
duas pegas, a primeira à segunda tentativa por João Peseiro (que brindou a
Fernanda Barata Gomes) e a segunda à quinta tentativa por José Marques, com uma
fantástica e oportuna ajuda do cabo Amorim Ribeiro Lopes, que foi, para mim, o
momento alto da degradante tourada de ontem à noite. Marques "dobrou"
Pedro Galamba (que brindara a Fátima Peseiro, a aficionadíssima Mulher do não
menos aficionado José Peseiro), que saíu da arena de maca, inanimado, pela
forte pancada que sofreu na cara quando tentava pegar à segunda intervenção. Também José Marques saíu lesionado da cara do toiro (um exemplar da ganadaria de Fernandes de Castro que deu água pela barba aos forcados), juntando-se ao companheiro na enfermaria.
Sétimo: tomaram a alternativa os
bandarilheiros João Goilão (concedida por "Parrita") e Tiago Santos
(concedida por Rodolfo Barquinha), que lidaram bem de capote e bandarilharam
com acerto. E houve dois bons pares de bandarilhas, respectivamente de Fábio Machado e Pedro
Paulino "China".
Oitavo: as bancadas estavam
completamente vazias, um ambiente desolador e confrangedor, frio, chuva e tudo
o mais que não deve ter o glamour e o colorido de uma tourada.
Nono: a maior ovação da noite, merecida,
justíssima, foi para o matador Luis "Procuna" quando João Augusto
Moura o chamou à arena e lhe brindou a sua primeira faena, que depois não
chegou a acontecer porque o toiro se encostou às tábuas e não teve um passe...
Décimo: a tourada foi dirigida por João
Cantinho e no início guardou-se um minuto de silêncio que ninguém explicou por
quem era, mas que descobrimos ter sido em memória dos dois homens que morreram
vítima de cornadas na primeira largada das festas locais.
Resumindo e concluindo: não há
aficionado que resista a uma seca como a de ontem. Entre o mete e tira
burladeros, o entra não entra o(s) toiro(s), o espeta e não espeta ferros, o diz e não diz "obrigado", o dá e
não dá muletazos, o apanha e não apanha cagalhões, o alisa e não alisa a arena,
estivemos a gramar quase três horas de um degradante "espectáculo".
Nem os toureiros, nem a Festa e muito menos a Feira da Moita sairam
beneficiados com uma coisinha tão má, má de mais para ser verdade.
Por fim, deixo um conselho de amigo aos
anti-taurinos: procurem videos, fotos, escritos da tourada de ontem na Moita e
gozem à farta com isso. Pode ser que os homens dos bois aprendam de uma vez por
todas (não aprendem, mas...) e se mentalizem que, para isto não acabar de
repente e de vez, há que cuidar mais das coisas e ter mais respeito por eles
próprios e pela história e cultura que envolvem, há tantos anos, a corrida de
toiros. Que não tem nada a ver, mesmo nada, com a fita degradante a que ontem
assistimos. Tive vergonha, confesso, de ser (já nem isso consigo ser...)
aficionado. Isto está mesmo a chegar ao fim.
Mais dramático, mais gritante, mais
confrangedor e mais degradante que a trágica tourada de ontem na Moita,
insisto, só mesmo as imagens (ao lado) dos jornalistas degolados por
terroristas islâmicos. Que coisa horrível!
Não percam, hoje: a fotoreportagem de
Emílio de Jesus.
Fotos Fernando
Clemente/www.parartemplarmandar.com e D.R.