quarta-feira, 13 de maio de 2015

Direito de Resposta: ainda a "Salganhada" de Salvaterra...

Momento em que um elemento dos Forcados de Salvaterra protegia com o seu
corpo o companheiro dos Amadores de Arruda, derrotado após tentativa de pegar
O Grupo de Forcados Amadores de Salvaterra


Em resposta à crónica que aqui foi dada à estampa sobre a problemática tourada de sábado passado na praça de Salvaterra de Magos, recebi a carta, que passo a publicar, do leitor João Neto, antigo elemento do Grupo de Forcados Amadores de Salvaterra. A polémica, quando pautada pela cordialidade e a boa educação, como é o caso patente, é sempre saudável. Vamos a ela!


Senhor Miguel Alvarenga,
Antes de mais gostaria de lhe agradecer o contributo que tem dado à Festa Brava no seu geral, embora criticado por muitos, eu me confesso como leitor do seu blog e não tenho vergonha, como muitos têm, de o assumir, até porque não vejo motivos para isso, reconhecendo assim alguma capacidade ao seu trabalho e a algumas das suas crónicas.
No entanto e na qualidade de acompanhante e antigo forcado do Grupo de Salvaterra, não poderia deixar de passar em claro e sem resposta alguns dos seus comentários menos felizes (na minha opinião)
Quando menciona que "vieram à praça dois novilhotes e um toireco de presença insignificante e cujos pesos nem sequer houve a dignidade de anunciar", parece-me de bom tom pedir-lhe que ande um pouco mais atento, esteve de facto muito distraído, pois os pesos foram anunciados em todos os toiros, sem excepção. Se quiser anotar, os dois novilhotes e o toireco (como os "baptizou") foram anunciados com o peso de 430 kg. Convém andar um bocadinho mais atento ao que se passa dentro e fora da arena, que lhe parece Sr. Alvarenga? As praças de toiros têm mais qualquer coisa que objectivas fotográficas e mediatismo, têm também suor, sacrifício e gosto pela Festa Brava.
Talvez, na sua opinião, o esforço levado a cabo pela empresa para que o espectáculo fosse para a frente tenha sido inócuo, mas na minha e generalidade não foi, foi sim, antes disso, bastante louvável. Nos dias de hoje não se pode dar ao luxo de cancelar corridas e defraudar os aficionados. Sem qualquer culpa dos problemas sanitários, a empresa viu-se sem toiros para a corridas e num sprint final tentando remendar a situação tentaram junto da ganadaria Pereda (ganadaria acima de qualquer suspeita) assegurar a corrida. Não foi por culpa dos empresários que os toiros não prestaram ou não foram os desejados. E, como se ainda não bastasse, três dos toiros foram recusados, o que fez com que a empresa tentasse junto do Sr. João Ramalho completar o lote de toiros de modo a que houvesse corrida e todos pudéssemos ir aos toiros. Em vez de criticar, deveríamos olhar para o exemplo e para o esforço. Pois o que para si foi uma derrota, para mim e para muitos foi uma vitória, pois em tão pouco tempo e com tantos contratempos seguidos não foi certamente tarefa fácil conseguir os toiros. Aqui fica expresso os meus parabéns à empresa e ao exemplo dado pela mesma.
Não pude deixar de me rir (com todo o respeito e no bom sentido do termo) quando segundo as suas sábias palavras menciona o seguinte "quando estavam mais de dez forcados ao molho deitados no chão, uns sobre os outros, uma verdadeira salganhada e nenhum se lembrou de rabejar o toiro..." .
Com todo o respeito, Sr. Alvarenga, mas um pouco mais de atenção ao que se passa dentro da arena seria de louvar....
E quando coloca em estampa no seu blog o seguinte: "Salganhada de forcados em Salvaterra... uma verdadeira 'salgangada' de forcados marcou ontem a morna corrida que se celebrou na praça de Salvaterra de Magos" - terei, neste caso de lhe recomendar uma vez mais, um pouco de atenção ao que se passou dentro da arena, pois o momento que se viveu foi de apuro para um elemento do grupo de Arruda dos Vinhos que, após um forte derrote do toiro, perdeu os sentidos e num acto de valentia, amizade, coragem e camaradagem, um elemento do grupo de Salvaterra correu em seu auxílio e protegeu o forcado de Arruda com o seu próprio corpo. São estes os valores que se praticam na Festa Brava, neste caso em particular no grupo de Salvaterra de Magos e acredito que em qualquer grupo deste país, pois valores como estes aprendem-se nesta "Escola" (e não só) que se chama forcadagem (dentro e fora das arenas) e à qual tive e tenho todo o gosto de pertencer pois há valores que nunca se esquecem e este é um deles. De modo a relembrá-lo uma vez mais do que realmente se passou:
Ainda considera uma "salganhada" de forcados ou um acto nobre e voluntarioso de camaradagem?
Quando questiona: "Imaginem que tinham vindo os "imponentes" Terrón, como teria sido com grupos destes, menos rodados e menos experientes? Houve dureza e dificuldade da parte dos toiros Mas há que reconhecer também faltaram forcados", devo relembrá-lo que se não anda atento, deveria andar, pois o Grupo de Salvaterra já pegou todo o tipo de toiros, não escolhe toiros nem cartéis. Penso que já chega de "enterrar os pequenos" e de "realçar os grandes". É uma perda de tempo, sinceramente nunca percebi essa dos grupos de 1ª e dos grupos de 2ª... Os aficionados também gostam de ver a rotatividade e não ver sempre os mesmos...
Ambos sabemos o valor que o Grupo de Salvaterra tem, é reconhecido o seu valor até pelo número de prémios ganhos nos últimos anos nas poucas corridas que o "deixam" fazer. Mas isso são outras contas que nada têm a ver com a sua crónica...
Posso inclusivé relembrá-lo que, em Novembro de 2013, aquando da realização de um concurso de pegas na Monumental do Montijo, aberto a todos os grupos de forcados do país e a que muitos acabaram por não comparecer por motivos que só a eles compete opinar e que o Sr. Alvarenga até estava à partida para fazer parte do júri, o Grupo de Salvaterra marcou presença....e pasme-se...foi o vencedor....Será que tem assim tão maus elementos Sr. Alvarenga?
Convido-o por isso a consultar a opinião de um grande senhor da tauromaquia e da crítica taurina, António Lúcio, pessoa acima de qualquer suspeita e que por sinal parece que não viu a mesma corrida que o Sr. Alvarenga. Poderá consultar a mesma no site http://barreiradesombra.blogs.sapo.pt/ e no site http://www.touroeouro.com/
Por último gostaria apenas de mencionar que para denegrir e tentar destruir a Festa Brava já bastam os anti-taurinos, não lhes podemos continuar a dar motivos de regozijo, mas sim "combatê-los", e isso não é com separações, mas sim com uniões. Temos de acreditar na Festa e na sua continuidade.
Despeço-me cordialmente e desejo continuação do bom trabalho que nos tem vindo a habituar.

João Neto
Um aficionado

A minha resposta

Caro João Neto, começo por lhe agradecer, com sinceridade, as amáveis palavras que me enviou e a forma cordial como expôs a sua crítica à minha crítica - respeito a sua opinião e tenho a minha.
Publico a sua "resposta", muito embora e como deverá saber, a Lei de Imprensa explicite que o Direito de Resposta é apenas e só devido a quem tiver sido mencionado num qualquer escrito ou peça jornalística - o que não foi o seu caso. 
De qualquer forma, entendo que o fez "em nome" do Grupo de Salvaterra, que muito prezo e muitas vezes já louvei noutros escritos e que até teve dois cabos que fizeram o favor de ser meus bons amigos, o Joaquim Mendes (com quem fui ao México em 1981 no tempo dos Amadores Lusitanos) e o António Lapa, de saudosa memória.
Em tempo algum a minha crítica foi para o Grupo de Salvaterra, mas sim para a trapalhada da empresa - no que aos toiros diz respeito e que, como foi visível na praça, acabou por afastar público da mesma. Pode louvá-la, mas eu tenho conhecimento de casos (recentes) que em nada a prestigiam - e este caso foi um deles. Adiante.
Lamento mesmo (muito) ver o meu querido amigo Pedro Pinto e o Florindo Ramalho envolvidos em coisas que não lhes deveriam dizer respeito. Têm os dois, cada qual à sua maneira, historial digno no mundo da nossa Festa e insistem num papel (empresarial) que me parece, mercê das circunstâncias actuais, pouco merecido para ambos.
Quanto aos pesos, penitencio-me se, de facto, não estive atento a esse pormenor. Mas não será estranho que tenham sido, como o meu amigo diz, anunciados os três com o mesmíssimo peso de 430 quilos? Nem mais um quilito, nem menos um? Abstenho-me de comentar esse pormenor. Não valerá a pena mais polémicas, concorda?
A foto que me manda da "salganhada" (e que aqui publico, com a devida vénia para com o seu autor) foi no momento em que o forcado de Salvaterra, num acto de estoicismo e camaradagem (concordo e aplaudo, não é a primeira vez que isso ocorre, lembro-me, há muitos anos, de o Carlos Grave, então cabo dos Amadores de Santarém, ter feito o mesmo em Lisboa para proteger o grande Nuno Megre, mas houve muitos outros casos idênticos ao longo do anos e que revelam o espírito de camaradagem e de amizade que carcateriza os forcados), protegeu com o seu próprio corpo o forcado da Arruda que se encontrava caído. A "salganhada" veio depois, com uma série de forcados a fazer o mesmo - um acto que poderia, inclusivamente, ter tido consequências altamente negativas para o forcado lesionado e que se encontrava por baixo de todos. E, na verdade, toda a gente viu, não houve um forcado, fosse de que grupo fosse, que se lembrasse de rabejar o toiro. Que é, nesses momentos, o que é preciso fazer.
Quanto à referência - que é verdadeira, infelizmente - da existência de grupos de forcados de 1ª e de , fui sempre dos que mais combateu contra isso e talvez por isso mesmo tenha sido alvo de um processo judicial por parte de quem faz precisamente essa triste distinção. Defendi sempre que há forcados e não forcados de e de , o que não é o mesmo que dizer que há forcados bons e forcados maus. Mas adiante.
Felicidades para o Grupo de Salvaterra, um resto de boa temporada. E um abraço para si, grato pelas suas palavras. Uma polémica educada - como está patente na sua "resposta" - é sempre uma polémica saudável. E essas coisas fazem parte da nossa - e das outras - Festa.

Miguel Alvarenga

Fotos José Manuel d'Oliveira e Sousa e D.R.