segunda-feira, 11 de maio de 2015

Emídio Pinto cumpre hoje 40 anos de alternativa: parabéns a você!





Emídio, meu querido amigo,
Aquele abraço, antes de mais, pelo dia de hoje, em que se cumprem 40 anos da tua sempre lembrada alternativa, era o dia 11 de Maio de 1975, tinha eu 16, escrevia no jornal "Cidade de Tomar", preparava-me para daí a um ano iniciar a sério, no "Diabo" de Vera Lagoa, que nasceria em 1976, a minha carreira de jornalista. Fui à corrida com o meu Avô. Lembro-me como se fosse hoje. Recebeste a alternativa das mãos de Alfredo Conde, que substituiu o Mestre Batista, lesionado dias antes por uma vaca. E foi testemunha o Luis Miguel da Veiga. Que grande cartel para a época, era a quarta corrida do Campo Pequeno nesse ano atribulado de 1975, vivam-se tempos difíceis, época de "vale tudo" depois da triste "revolução".
E tu marcaste, Emídio. Marcaste numa época em que ainda triunfavam os antigos, o Manuel Conde, o David Ribeiro Telles, o José Lupi, o Gustavo Zenkl, o Frederico Cunha, até ainda o grande Mestre Núncio e outros mais, em que estavam na berra o Batista, o Veiga e o Zoio, em que se iniciava a grande revolução mourista, essa bem mais sólida e mais verdadeira que a do "25 de Abril" e que não houve ainda contra-revolução alguma que conseguisse acabar com ela, era um época em que os costumes se mudavam, uns para bem, outro para mal, mas havia mudanças radicais em tudo, até no toureio e na forma de interpretar o toureio a cavalo.
Mas tu, Emídio, respeitando o toureio novo que se ia implantando, nunca abandonaste a linha clássico dos do teu tempo, aquela por que pautaste sempre essa tua digníssima e marcante carreira nas arenas.
Lembro-me muitas vezes do Senhor teu Pai, essa glória eterna do hóquei internacional, que tanto apoio deu ao teu desejo de trocares os patins pela arte do toureiro, que figura tão digna, de tanto respeito, sempre na última fila da bancada, sempre longe dos bastidores e dos holofotes, que Homem de uma outra fibra, que exemplo enorme para os papás dos toureiros que se metem em tudo e em nada.
Eram toiros de Branco Núncio na tua alternativa, acompanhavam-te ainda nessa data os forcados de Évora e do Ribatejo, ao tempo comandados, respectivamente, por João Patinhas e Rui Souto Barreiros. Foi uma tarde de êxito para o arranque da tua carreira. Foi o primeiro dia do resto da tua vida, do resto de uma trajectória incrivelmente saudável, fantasticamente marcante. Nunca te vi envolvido numa polémica, numa trica, por mais pequena e insignificante que fosse, andaste sempre de cabeça erguida, com aquele sorriso meigo, aquela educação extrema - e aquela arte que fez de ti um dos melhores do teu tempo.
Alegro-me por ter ver hoje, sempre, nas praças, quer quando acompanhas teu filho Duarte ou teu sobrinho Tomás, ou quando estás sentado na bancada como simples espectador, com teus inseparáveis amigos Zé Palha, Carlinhos Empis, Manuel Paim, teu irmão Firmino e outros mais. Vocês dignificam qualquer corrida com a vossa presença. São uma gente-outra - de que me orgulho muito de ser amigo.
Olha, Emídio, gostava de te dizer muito mais coisas, de descrever ao pormenor a glória, a verdade, o respeito pelo público e pelo toiro, a dignidade imensa que fez a história da tua carreira, a história da tua vida nas arenas. Onde foste dos primeiros no teu tempo. Onde continuas sendo uma das mais respeitadas e acarinhadas figuras. Como ontem se viu em Vila Franca, quando o público se levantou e te tributou uma das grandes ovações da tarde, depois do sentido e comovido brinde do Duarte aos teus 40 anos de alternativa - a que me associo, Emídio. E daqui te abraço. És diferente. Vales por isso. Foste um toureiro grande, és um pai de toureiro distinto, aprendeste com teu Pai. E soubeste seguir o exemplo. Gosto muito de ti, Emídio.

Miguel Alvarenga

Fotos D.R. e Emílio de Jesus/Arquivo