Não se pode anunciar toirões destes... |
... e depois apresentar toirecos assim... |
Sónia Matias esteve valente e decidida, como está sempre |
Manuel Ribeiro Telles Bastos exibiu a sua classe diante de um novilho que por falta de importância e pequenez tirou brio ao seu labor |
Tomás Pinto é um bom toureiro e isso viu-se em Salvaterra, apesar de ter aliado bons momentos com outros de maior irregularidade |
Miguel Moura toureou e lidou com primor e a marca da Casa Moura um novilho de João Ramalho que se adiantava barbaridades |
António d'Almeida destacou-se em dois "quiebros" de muita emoção |
O praticante Miguel Tavares cravou um ferro bom. Este. Que não foi suficiente para ter música ou dar volta à arena, mas... |
Incrível como, num momento de apuro como este, nenhum forcado se lembrou de rabejar o toiro... |
Miguel Alvarenga - Assim se mata a
Festa, assim se acaba com a Festa. As adormecidas (parece...) associações de
toureiros, de empresários, de ganadeiros e de forcados tinham que ter
(impunha-se) uma palavra a dizer - mas estão caladas. A sempre tão eufórica
Federação Prótoiro, que as engloba, que não perde uma oportunidade para bradar
contra os inofensivos ant-taurinos, fica em confrangedor e cúmplice silêncio
quando coisas destas acontecem, não vê - ou não quer ver - que os verdadeiros
anti-taurinos, os implacáveis coveiros da Festa, estão cá dentro e são alguns
dos cá de dentro.
O que se passou no sábado em Salvaterra
de Magos foi deplorável, degradante e merecia intervenção adequada e urgente
dos que se dizem representantes, as ditas associações e a silenciosa federação,
dos intereses e dos intervenientes na Festa. Foi mau demais para ser verdade.
Primeiro, anunciaram-se com pompa e
circunstância nos cartazes toiros "bombásticos" da ganadaria
espanhola de Luis Terrón - e não vieram. Disso, presumo, os empresários não
terão culpa. Um foco de língua azul na zona onde os toiros se encontrava (Jerez
de la Frontera, já que tinham sido adquiridos por Bohórquez), impediu a sua
vinda a Salvaterra. Até aí, tudo bem, mas a verdade é que estas coisas, num
meio tão pequeno como o nosso, dão sempre azo a um clima de suspeição que
descredibiliza a empresa e põe sérias reticências ao aficionado.
Depois, anunciaram seis toiros de José
Luis Pereda e três tiveram que ser substituídos, por, diz-se, falta de
presença, de peso e de trapio. Optaram pela ganadaria local de João Ramalho e
vieram à praça dois novilhotes e um toireco de presença insignificante e cujos
pesos sem sequer houve a dignidade de anunciar. Ou seja, deram gato por lebre
ao público pagante. E depois queixem-se de ter as praças às moscas - que foi o
que aconteceu em Salvaterra.
Os empresários nem apareceram na
trincheira ao longo do espectáculo. Florindo Ramalho foi à arena no intervalo,
durante a homenagem da autarquia aos campinos e no final, para a entrega do prémio
à melhor pega. Pedro Pinto nunca foi visto nem achado na praça ao longo de todo
o espectáculo...
Os toiros de Pereda (lidados por Tomás
Pinto, António d'Almeida e Miguel Tavares) tinham presença, mas primaram pela
mansidão (disso ninguém tem culpa); os de João Ramalho (lidados por Sónia
Matias, Manuel Telles Bastos e Miguel Moura) reagiam, investiam,
atravessavam-se (sobretudo o de Moura), mas não tinham importância, pela
pequenez e escassez de apresentação. Foi, em suma, uma tourada "das
antigas", salvo seja, um espectáculo que em nada dignificou a Festa -
muito antes pelo contrário.
Sónia esteve valente, como sempre;
Telles Bastos fez gala da imensa classe do seu bom toureiro; Tomás Pinto juntou
altos e baixos, mas não perdeu os papéis e esteve à altura do posto que já
conquistou; Miguel Moura foi o que melhor toureou, vencendo as dificuldades de
um novilho que se atravessava na reunião; António d'Almeida entusiasmou o
público com dois imponentes "quiebros" em terrenos de altissimo
compromisso, demonstrando muito querer; e Miguel Tavares cravou um bom ferro
curto, o penúltimo de uma actuação com pouco para contar. Não teve direito a
música e o director Lourenço Luzio não lhe permitiu dar volta à praça, o que
originou uma chuva de insultos e o obrigou a sair do recinto protegido pela
GNR. Poderia da parte do director ter havido um pouco mais de condescendência?
Podia, sim. Mas Luzio esteve correcto. Às vezes, é preciso pôr ordem no bordel,
salvo seja. O toureio é uma arte muito séria, não é um espectáculo musical.
Agora, os forcados. Uma autêntica
desgraça. Estiveram melhor os Amadores do Ribatejo, com duas pegas de Joaquim
Consolado e de António Saramago (vencedor justíssimo do prémio em disputa),
ambas à primeira.
Pelos Amadores de Salvaterra pegaram Nelson
Romano (à segunda) e a outra pega foi de cernelha, sem problemas de maior,
depois de três tentativas de Luis Carrilho.
Pedo Belbute, dos Amadores da Arruda,
foi um valente, em quatro tentativas duríssimas. A última pega deste grupo foi
executada a sesgo, à quarta tentativa, por Bruno Silva, com uma ajuda
extraordinária do valente cabo Rodolfo Costa.
Vários forcados dos dois últimos grupos,
onde foi patente alguma deficiência nas ajudas, recolheram lesionados à
enfermaria. Houve dureza e dificuldade da parte dos toiros, houve sim. Mas há
que reconhecer também faltaram forcados. E o pior de tudo é quando eles perdem
a cabeça - que foi o que aconteceu nas várias tentativas do valente Pedro
Belbute, quando estavam mais de dez forcados ao molho deitados no chão, uns
sobre os outros, uma verdadeira salganhada e nenhum se lembrou de rabejar o
toiro...
Por fim, uma palavra aos empresários
Florindo Ramalho e Pedro Pinto: meus caros, não é assim tão difícil ter-se
sucesso neste meio. Basta fazer as coisas bem feitas - que não foi o caso. Nem
na complicação dos toiros, nem na escolha dos grupos de forcados. Imaginem que
tinham vindo os "imponentes" Terrón, como teria sido com grupos
destes, menos rodados e menos experientes? Bastava, meus amigos, porem os olhos
no trabalho feito pelos "quatro meninos" de Montemor, que se
excederam na belíssima organização, no grande e atractivo cartel, na seriedade
da ganadaria eleita, na forma e no sítio certo onde promoveram o espectáculo.
Resultado: casa cheia e um grande espectáculo.
Fotos Emílio de
Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com