segunda-feira, 11 de maio de 2015

Salvaterra de Magos... barretes!

Não se pode anunciar toirões destes...
... e depois apresentar toirecos assim...
Sónia Matias esteve valente e decidida, como está sempre
Manuel Ribeiro Telles Bastos exibiu a sua classe diante de um novilho que por
falta de importância e pequenez tirou brio ao seu labor
Tomás Pinto é um bom toureiro e isso viu-se em Salvaterra, apesar de ter
aliado bons momentos com outros de maior irregularidade
Miguel Moura toureou e lidou com primor e a marca da Casa Moura um novilho
de João Ramalho que se adiantava barbaridades
António d'Almeida destacou-se em dois "quiebros" de muita emoção
O praticante Miguel Tavares cravou um ferro bom. Este. Que não foi suficiente para
ter música ou dar volta à arena, mas...
Incrível como, num momento de apuro como este, nenhum forcado se lembrou
de rabejar o toiro...
Forcados de Salvaterra e da Arruda executaram um total de 13 tentativas para
pegar 4 toiros e muitos deles foram lesionados para a enfermaria... As fotos
falam por si... Na foto de baixo, António Francisco Saramago, valente forcado de
17 anos, dos Amadores do Ribatejo, justo merecedor do prémio para a melhor
pega de uma corrida onde de pegas quase não se pode falar...



Miguel Alvarenga - Assim se mata a Festa, assim se acaba com a Festa. As adormecidas (parece...) associações de toureiros, de empresários, de ganadeiros e de forcados tinham que ter (impunha-se) uma palavra a dizer - mas estão caladas. A sempre tão eufórica Federação Prótoiro, que as engloba, que não perde uma oportunidade para bradar contra os inofensivos ant-taurinos, fica em confrangedor e cúmplice silêncio quando coisas destas acontecem, não vê - ou não quer ver - que os verdadeiros anti-taurinos, os implacáveis coveiros da Festa, estão cá dentro e são alguns dos cá de dentro.
O que se passou no sábado em Salvaterra de Magos foi deplorável, degradante e merecia intervenção adequada e urgente dos que se dizem representantes, as ditas associações e a silenciosa federação, dos intereses e dos intervenientes na Festa. Foi mau demais para ser verdade.
Primeiro, anunciaram-se com pompa e circunstância nos cartazes toiros "bombásticos" da ganadaria espanhola de Luis Terrón - e não vieram. Disso, presumo, os empresários não terão culpa. Um foco de língua azul na zona onde os toiros se encontrava (Jerez de la Frontera, já que tinham sido adquiridos por Bohórquez), impediu a sua vinda a Salvaterra. Até aí, tudo bem, mas a verdade é que estas coisas, num meio tão pequeno como o nosso, dão sempre azo a um clima de suspeição que descredibiliza a empresa e põe sérias reticências ao aficionado.
Depois, anunciaram seis toiros de José Luis Pereda e três tiveram que ser substituídos, por, diz-se, falta de presença, de peso e de trapio. Optaram pela ganadaria local de João Ramalho e vieram à praça dois novilhotes e um toireco de presença insignificante e cujos pesos sem sequer houve a dignidade de anunciar. Ou seja, deram gato por lebre ao público pagante. E depois queixem-se de ter as praças às moscas - que foi o que aconteceu em Salvaterra.
Os empresários nem apareceram na trincheira ao longo do espectáculo. Florindo Ramalho foi à arena no intervalo, durante a homenagem da autarquia aos campinos e no final, para a entrega do prémio à melhor pega. Pedro Pinto nunca foi visto nem achado na praça ao longo de todo o espectáculo...
Os toiros de Pereda (lidados por Tomás Pinto, António d'Almeida e Miguel Tavares) tinham presença, mas primaram pela mansidão (disso ninguém tem culpa); os de João Ramalho (lidados por Sónia Matias, Manuel Telles Bastos e Miguel Moura) reagiam, investiam, atravessavam-se (sobretudo o de Moura), mas não tinham importância, pela pequenez e escassez de apresentação. Foi, em suma, uma tourada "das antigas", salvo seja, um espectáculo que em nada dignificou a Festa - muito antes pelo contrário.
Sónia esteve valente, como sempre; Telles Bastos fez gala da imensa classe do seu bom toureiro; Tomás Pinto juntou altos e baixos, mas não perdeu os papéis e esteve à altura do posto que já conquistou; Miguel Moura foi o que melhor toureou, vencendo as dificuldades de um novilho que se atravessava na reunião; António d'Almeida entusiasmou o público com dois imponentes "quiebros" em terrenos de altissimo compromisso, demonstrando muito querer; e Miguel Tavares cravou um bom ferro curto, o penúltimo de uma actuação com pouco para contar. Não teve direito a música e o director Lourenço Luzio não lhe permitiu dar volta à praça, o que originou uma chuva de insultos e o obrigou a sair do recinto protegido pela GNR. Poderia da parte do director ter havido um pouco mais de condescendência? Podia, sim. Mas Luzio esteve correcto. Às vezes, é preciso pôr ordem no bordel, salvo seja. O toureio é uma arte muito séria, não é um espectáculo musical.
Agora, os forcados. Uma autêntica desgraça. Estiveram melhor os Amadores do Ribatejo, com duas pegas de Joaquim Consolado e de António Saramago (vencedor justíssimo do prémio em disputa), ambas à primeira.
Pelos Amadores de Salvaterra pegaram Nelson Romano (à segunda) e a outra pega foi de cernelha, sem problemas de maior, depois de três tentativas de Luis Carrilho.
Pedo Belbute, dos Amadores da Arruda, foi um valente, em quatro tentativas duríssimas. A última pega deste grupo foi executada a sesgo, à quarta tentativa, por Bruno Silva, com uma ajuda extraordinária do valente cabo Rodolfo Costa.
Vários forcados dos dois últimos grupos, onde foi patente alguma deficiência nas ajudas, recolheram lesionados à enfermaria. Houve dureza e dificuldade da parte dos toiros, houve sim. Mas há que reconhecer também faltaram forcados. E o pior de tudo é quando eles perdem a cabeça - que foi o que aconteceu nas várias tentativas do valente Pedro Belbute, quando estavam mais de dez forcados ao molho deitados no chão, uns sobre os outros, uma verdadeira salganhada e nenhum se lembrou de rabejar o toiro...
Por fim, uma palavra aos empresários Florindo Ramalho e Pedro Pinto: meus caros, não é assim tão difícil ter-se sucesso neste meio. Basta fazer as coisas bem feitas - que não foi o caso. Nem na complicação dos toiros, nem na escolha dos grupos de forcados. Imaginem que tinham vindo os "imponentes" Terrón, como teria sido com grupos destes, menos rodados e menos experientes? Bastava, meus amigos, porem os olhos no trabalho feito pelos "quatro meninos" de Montemor, que se excederam na belíssima organização, no grande e atractivo cartel, na seriedade da ganadaria eleita, na forma e no sítio certo onde promoveram o espectáculo. Resultado: casa cheia e um grande espectáculo.

Fotos Emílio de Jesus/fotojornalistaemilio@gmail.com